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Antiterror na Alemanha

18 de novembro de 2010

Governo federal e estados querem garantir intercâmbio rápido de informação entre órgãos de segurança. Conservadores e social-democratas questionam proteção de dados após recentes indícios de ameaça de atentado.

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Polícia federal de vigilância em ColôniaFoto: picture alliance/dpa

Após o governo alemão ter advertido sobre o perigo de eventuais atentados terroristas na Alemanha, as medidas de segurança foram reforçadas nas principais cidades do país. Segundo alguns governadores alemães, os extremistas islâmicos têm em vista espaços urbanos de grande concentração populacional, como Berlim, Hamburgo, Frankfurt, Munique e a região do Ruhr.

"O terrorismo internacional quer propagar medo e pavor em nosso país. Não permitiremos uma coisa dessas", declarou o ministro do Interior, Thomas de Maizière.

Pacote suspeito encontrado na Namíbia

Na noite de quarta (17/11) para quinta-feira, um incidente mobilizou as autoridades de segurança alemãs: um pacote que estava entre a carga a ser colocada em um avião de passageiros da Air Berlin, que iria de Windhoek, capital da Namíbia, rumo a Munique, pôde ser descoberto a tempo. De acordo com informações do Departamento Federal de Investigações (BKA), o pacote despertou suspeitas por não conter endereçamento e por isso foi submetido a raio-x.

O exame revelou uma estrutura com pilhas ligadas a um fio e um detonador, embora ainda não se possa dizer com certeza que se tratava de um explosivo. O BKA enviou investigadores a Windhoek para analisar o objeto suspeito. A aeronave com 296 passageiros a bordo aterrissou em Munique pouco depois da 0h00 desta quinta-feira, com seis horas de atraso.

Proteção de dados novamente em risco

Em consequência da ameaça de terrorismo na Alemanha, políticos conservadores e social-democratas voltaram a defender que o Estado possa arquivar dados pessoais, uma medida de prevenção de terrorismo anteriormente suspensa pelo Tribunal Constitucional Federal. Os políticos fizeram um apelo aos ministérios do Interior e da Justiça para que seja elaborado um projeto de lei nesse sentido. Os liberais, que compõem com os conservadores a coalizão de governo alemã, rejeitam a medida.

Em decorrência das advertências de terrorismo, a longo prazo os cidadãos da Alemanha terão que contar com medidas de segurança mais rigorosas. "As medidas tomadas vão vigorar por tempo intederminado", determinou De Mazière após uma reunião com os secretários estaduais do Interior, realizada em Hamburgo na noite de quarta e manhã de quinta-feira. No encontro, os governos estaduais e federal planejaram uma ação concertada de combate ao terrorismo.

Numa declaração conjunta, o Ministério e as secretarias do Interior do país acertaram que a vigilância de "espaços públicos, lugares e acontecimentos específicos" deve fazer jus ao grau de gravidade da situação. O prédio do Parlamento, em Berlim, foi cercado com grades de segurança.

Além disso, uma central estatal de prevenção de terrorismo permitirá um intercâmbio contínuo de informações entre todos os órgãos de segurança do país. Essa plataforma também inclui "parceiros internacionais indispensáveis ao combate do terrorismo", informou um comunicado do governo.

População despreparada

No segundo trimestre de 2009, os órgãos de segurança alemães já haviam registrado indícios de que a organização extremista islâmica Al Qaeda e seus adeptos nos EUA e na Europa estavam planejando atentados no Ocidente, inclusive na Alemanha. "Informações recentes apontam coincidências temporais e factuais e confirmam uma concretização da ameaça, o que justifica uma ação concertada dos órgãos de segurança", reiterou o ministro do Interior.

O Sindicato da Polícia advertiu que a população alemã não está suficientemente preparada para o perigo do terrorismo internacional. Embora os cidadãos saibam do risco, sobretudo após os atentados nos Estados Unidos, Espanha e Reino Unido, o que impera entre a população é uma perplexidade generalizada, declarou o presidente do sindicato, Konrad Freiberg.

Danos de advertências vagas

Políticos da oposição, como o líder da bancada verde no Parlamento, Jürgen Trittin, consideraram vagas demais as advertências do ministro De Mazière. "Quando o ministro do Interior reconhece perigos, não deve fazer advertências herméticas", declarou Trittin ao diário Frankfurter Rundschau. Afinal, o que ele provoca com isso é apenas medo e inquietude, acrescentou o político verde.

Para o psicólogo Fred Rist, de Münster, as recentes advertências de ameaça terrorista feitas pelo goveno alemão não deixam de ser problemáticas, do ponto de vista psicológico. "As advertências contra possíveis atentados terroristas são um exemplo claro de que esse tipo de informação mais causa danos do que garante segurança", declarou o especialista à agência de notícias alemã DPA.

Embora as pessoas sejam colocadas em alerta, falta um objeto concreto no qual sua atenção possa se fixar. "Isso provoca sintomas de medo, inquietude, tensão e preocupação", especifica o psicólogo. Uma advertência só pode ajudar se indicar precisamente o foco de perigo, como por exemplo a região que poderia ser alvo de um atentado ou determinadas situações e comportamentos de risco. Isso permitiria às pessoas agir de forma mais focalizada.

Bewaffnete Bundespolizisten mit Sicherheitswesten NO FLASH
Policiais com coletes à prova de bala no aeroporto berlinense de SchönefeldFoto: picture-alliance/dpa

Presença policial simbólica

Já o psicólogo Werner Greve acredita que as advertências de uma ameaça terrorista não irão alterar de forma duradoura o comportamento da população. "Não haverá uma reação coletiva. Possivelmente, algumas pessoas vão passar a viver de forma diferente, mas provavelmente isso não vai durar muito tempo", prevê Greve. Na sua opinião, preocupações existenciais cotidianas, como a ameaça de desemprego ou doenças, vão acabar substituindo estas apreensões.

Greve também acha que a advertência poderá tornar as pessoas mais desconfiadas, causar medos descabidos ou alimentar suspeitas. "O maior problema é que, quanto maior for a desconfiança, maior será o perigo de um alarme falso".

Apesar de a presença policial mais visível confortar muitas pessoas, outras vão encarar isso apenas como ação simbólica. "Alguns policiais a mais nas estações ferroviárias e nos aeroportos não são capazes de criar um sistema de segurança sem lacunas", lembrou Greve.

Também para Rist, a principal função de uma presença policial mais ostensiva é acalmar a população. "Mas essas medidas só terão efeito tranquilizador se a população confirmar sua eficiência. Do contrário, nada está garantido. E, no final das contas, isso só servirá como advertência contínua de que existe uma ameaça, intensificando o medo e os pensamentos fixados no perigo", explica o psicólogo.

SL/rtdt/dpa

Revisão: Roselaine Wandscheer

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