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Governo arrecada mais de 20 bilhões em leilão de Galeão e Confins

Fernando Caulyt22 de novembro de 2013

Odebrecht e operadora de Cingapura pagaram 19,2 bilhões de reais por aeroporto carioca, com ágio de 294%. Confins foi levado por 1,82 bilhão. Galeão deve brigar com Guarulhos para ser porta de entrada no Brasil.

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Ministro Moreira Franco (c) bate o martelo ao lado de representantes do consórcio vencedor do GaleãoFoto: imago stock&people

O governo federal arrecadou 20,8 bilhões de reais no leilão das concessões dos aeroportos de Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte realizado nesta sexta-feira (22/11) na Bolsa de Valores de São Paulo. O ágio global do leilão ficou em 251,6% sobre o valor mínimo das duas concessões, que era de 5,9 bilhões de reais.

O consórcio liderado por Odebrecht e a operadora do aeroporto de Cingapura (Changi) fez uma proposta bem agressiva, no valor de 19,2 bilhões de reais para o Galeão, um ágio de 294% sobre o valor mínimo de 4,8 bilhões de reais. Já o grupo formado pela CCR e as operadoras dos terminais de Zurique e Munique levaram Confins por 1,82 bilhão de reais, valor 66% maior que o lance mínimo de 1,096 bilhão de reais.

"O alto preço pago para a concessão de Galeão responde a um comentário feito pelo ministro Moreira Franco [da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República], de que quem não entrar no mercado brasileiro desta vez, não entra mais", afirmou Jorge Leal Medeiros, professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da USP.

As operadoras dos aeroportos de Cingapura, Munique e Zurique recebem, respectivamente, cerca de 51 milhões, 38 milhões e 25 milhões de passageiros por ano. "São empresas de grande envergadura e é absolutamente fundamental que elas tragam a sua forte experiência para um mercado tão dinâmico como o brasileiro, que triplicou sua demanda em 11 anos."

Além dos grupos vencedores das concessões, participaram ainda do pregão três consórcios formados por operadoras internacionais de aeroportos e empreiteiras brasileiras: Fraport AG (Frankfurt) com Ecorodovias e Invepar; ADP Airports (Paris) e Schiphol (Amsterdam) e Carioca Engenharia; e Ferrovial (grupo espanhol que controla o aeroporto de Heathrow, em Londres) e Queiroz Galvão.

Infraero tem participação de 49% dos consórcios

O consórcio vencedor de Galeão é composto por 60% da Odebrecht e Changi, operadora do aeroporto de Cingapura, com 40%. O grupo que ganhou o aeroporto mineiro é composto por CCR (com 75%), juntamente com Flughafen Zürich (24%) e Flughafen München (1%). Os dois grupos respondem por 51% de cada consórcio, já que a Infraero tem participação obrigatória, já prevista no edital de concessão, de 49%.

Flughafen Antonio Carlos Jobim Rio de Janeiro
A concessão por 25 anos de Galeão foi comprada por 19,2 bilhões de reais por consórcio formado por Odebrecht e Changi, de CingapuraFoto: Antonio Scorza/AFP/Getty Images

Para Medeiros, da USP, com as concessões de Galeão e Confins, juntamente com as de Guarulhos, Brasília e Viracopos, leiloadas no início do ano passado, a Infraero perde cinco das mais brilhantes pedras de sua coroa, que lhe permitiam manter aeroportos menores e deficitários.

"Mais ainda, não apenas não terá cinco de seus principais aeroportos superavitários, mas, também, como detentora de 49% das ações das concessões, terá responsabilidade pelos investimentos que se farão necessários para o início das concessões", disse Medeiros.

Para ele, o Tesouro Nacional terá que ajudar a Infraero a cumprir suas obrigações de acionista minoritária e responsável por 58 aeroportos brasileiros, a maioria deles importantes e necessitando de investimentos e, mais do que nunca, de uma boa gestão. "E isso nunca foi o forte da Infraero."

Briga pelo tráfego aéreo de Guarulhos

O pregão começou às 10h e todos os cinco consórcios deram lances por envelope para o aeroporto de Galeão e três deles, para Confins. Participaram dos lances em viva-voz os três grupos que ofereceram as melhores propostas para os dois aeroportos, sendo que, para Confins, o consórcio formado por Odebrecht/Changi, seguindo as regras do leilão, foi desclassificado por ter dado o maior lance para o Galeão.

Nos lances viva-voz nenhum grupo quis aumentar a proposta de 19,2 bilhões de reais feita ainda na rodada inicial de envelopes pelo grupo Odebrecht/Changi para o terminal do Galeão – valor que superou os 15 bilhões de reais pagos pelo consórcio que venceu o leilão do megacampo do pré-sal Libra, em outubro.

O grupo liderado por Carioca Engenharia e os aeroportos de Paris e Amsterdam ficou em segundo lugar na disputa por Galeão, após oferecer 14,5 bilhões de reais. Em terceiro ficou o consórcio da Ecorodovidas, Invepar e Fraport, com lance de 13,113 bilhões de reais.

"A nova operadora de Galeão vai tentar receber parte do tráfego do aeroporto de Guarulhos, que está com a capacidade limitada em termos de pista", diz Medeiros, da USP. "O Galeão, além do terminal de Brasília, tem duas pistas independentes, portanto, tem uma capacidade maior e vai disputar com Guarulhos para ser porta de entrada no Brasil."

Brasilien TAM Gol Airlines
Especialista acredita que o terminal carioca tem chances de disputar com Guarulhos, em São Paulo, como porta de entrada do BrasilFoto: Mauricio Lima/AFP/Getty Images

Mas, para isso, o novo administrador do aeroporto do Galeão terá que comprar uma briga "pesada". "Se você olhar a quantidade de cidades ligadas ao aeroporto de Guarulhos, é quase o triplo das ligadas ao Galeão. Então essa conectividade vai ter que aumentar no Galeão, e isso vai depender do esforço dos concessionários, de cativar as empresas aéreas de irem para lá."

Já a concessão do terminal de Confins foi mais disputada. Depois das propostas por envelope, houve propostas viva-voz pelo consórcio vencedor e pelo grupo formado por Ferrovial/Queiroz Galvão, que não quis aumentar seu último lance na rodada viva-voz, no valor de 1,8 bilhão de reais.

Investimentos em Galeão e Confins

Os consórcios que levaram as concessões dos terminais de Galeão e Confins deverão investir durante a concessão – de 25 anos e 30 anos, respectivamente – mais de 9 bilhões de reais. O novo operador do Galeão terá que investir cerca de 5,7 bilhões de reais para a construção, por exemplo, de 26 pontes de embarque, estacionamento e ampliação do pátio das aeronaves.

O grupo que vai controlar o aeroporto de Confins terá que investir cerca de 3,5 bilhões de reais para a construção, por exemplo, de um novo terminal de passageiros com no mínimo 14 pontes de embarque, estacionamento de veículos e de uma segunda pista independente até 2020.

De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a projeção de demanda para o Galeão é de 60 milhões de passageiros por ano em 2038, quando termina a concessão. Já o aeroporto mineiro tem demanda de 10,4 milhões de passageiros por ano e é o quinto mais movimentado do país.