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Resenha

(sv)14 de fevereiro de 2008

Apesar das referências constantes às controvérsias geradas no Brasil, mídia alemã tende a ver "Tropa de Elite" com bons olhos.

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'Tropa de Elite' em Berlim: debate continuaFoto: Berlinale

As opiniões da mídia alemã sobre Tropa de Elite se dividem entre muitos elogios e poucas críticas. De uma forma ou de outra, o filme, exibido no Festival de Cinema de Berlim, esteve mais presente no país que qualquer outra contribuição brasileira dos últimos anos. Prova de que, goste ou não, o espectador não sai ileso de uma exibição de Tropa.

Ficção e realidade não se distinguem no Rio

"O Brasil tem um novo herói. Eleito pelo povo, confirmado milhões de vezes e amado como só o carnaval é. O herói se chama Capitão Nascimento e é o protagonista do filme Tropa de Elite, que está sendo exibido no Festival de Cinema de Berlim. O fato de que o filme, na verdade, foi pensado de outra forma e que o Capitão não é um policial de verdade, mas sim um personagem criado, não importa ao povo. Isso é o que o diretor José Padilha tenta, há meses e em vão, deixar claro – ao lado do ator principal Wagner Moura, cuja interpretação excelente, de um Nascimento situado entre a eficiência no trabalho (violenta, mas em nome da honra) e os momentos em que duvida de si mesmo, faz com que o personagem pareça ainda mais real. Talvez o Brasil tenha uma necessidade muito grande de heróis. Talvez ficção e realidade sejam mesmo difíceis de se distinguir em cidades como o Rio de Janeiro, onde, em 2007, quase todos os dias morre alguém vítima de uma bala perdida, onde os pupilos da classe média se estabelecem como traficantes de drogas e onde há regiões nas quais nem mesmo a polícia tem coragem de entrar. É claro que o filme Tropa de Elite atinge um nervo de cuja sensibilidade talvez nem mesmo o diretor Padilha tenha tido consciência anteriormente." (Die Zeit)

Sem tempo para pensar

"No metralhar de cortes, movimentos súbitos de câmera e sons bombásticos do filme, não sobra para o espectador nem um mínimo de tempo para pensar claramente. Pode ser que o diretor, de 40 anos, tenha até estudado em Oxford, mas inteligente seu filme não é. [...] Com toda a paixão e fúria que o diretor possa ter estimulado, talvez ele devesse ter permitido a si mesmo um pouquinho mais de calma e ordem para poder refletir." (Der Tagesspiegel)

Desconstrução e não glorificação

"A recepção controversa do filme no Brasil deixa várias questões em aberto. A forma com o filme é feito – a câmera instável, a montagem e a música fazem dele um filme digno de ser visto. Não se trata da glorificação de um policial, mas de sua desconstrução." (taz, die tageszeitung)

Distante de qualquer ideologia

"O filme oscila magistralmente entre ficção e (pseudo)documentário, a história se desenrola de forma interessante e original, sem favorecer ninguém com isso. Dessa forma, ele se mantém distante de pontos de vista ideológicos e chega perto da realidade." (Berliner Zeitung)

Guerra que deforma

"É fácil acusar o filme de Padilha de tomar, no confronto entre uma base policial corrupta, traficantes inescrupulosos e uma elite robusta, o partido desta última. No entanto, no que Tropa de Elite acompanha conseqüentemente a perspectiva e o objetivo de seu protagonista – com sua câmera inquieta e cortes de deixar a respiração suspensa –o filme mostra muito mais é como essa guerra deforma seus protagonistas e cava ainda mais o abismo que divide a sociedade brasileira." (Site do canal de TV Arte)

Loucura movida a testosterona e medo

"Também do Brasil veio o melhor filme de gângsteres da última década (Cidade de Deus), e agora esse policial interessante do diretor José Padilha, que reproduz visualmente de forma adequada, com uma câmera trêmula e febril e cortes rápidos, toda essa loucura movida por testosterona e medo. Mas o filme não é nada para moradores de Kreuzberg [bairro alternativo de Berlim] e outras pessoas que já saem histericamente gritando 'Estado policial', quando inofensivos e gordos policiais alemães prendem um traficante dando uma gravata no mesmo." (Die Welt)

Só lados errados

"José Padilha filmou essa história de forma arrebatadora e contra todas as convenções de estilo de um consenso cinematográfico internacional. Ele leva o espectador, mas sem a intenção manipuladora de dar explicações fáceis, provocar identificações simplistas ou induzir soluções baratas. Ele leva este espectador muito mais à complexidade de cenas e situações, nas quais não é possível estar do lado certo. Simplesmente porque, na realidade, só há lados errados". (Site Perlentaucher)