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Helmut Schmidt

Matthias von Hellfeld (av)23 de dezembro de 2008

A experiência da Segunda Guerra definiu o caminho do democrata convicto. Mesmo tendo que pagar caro por seus princípios. Quase 30 anos após o mandato, os pontos de vista do ex-premiê continuam relevantes.

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SchmidtFoto: AP

De 1974 a 1982, Helmut Schmidt foi chefe de governo da República Federal da Alemanha – uma época em que o país enfrentava diversos desafios políticos e econômicos. Após quase três décadas, o quinto chanceler federal alemão continua sendo respeitado como comentador político. Neste dia 23 de dezembro, ele completa 90 anos de idade.

O nazismo: uma lição

Helmut Schmidt nasceu em 1918 em Barnbeck, hoje um bairro de Hamburgo. Após completar o estudo secundário, foi recrutado em 1937, primeiro para a RAD, a força de trabalho do Terceiro Reich, e mais tarde como soldado para a Wehrmacht. No fronte oriental, vivenciou – em suas próprias palavras – "a pior merda da guerra", que nunca mais esqueceria.

Após a guerra, engajou-se pelo Partido Social Democrata (SPD) de Hamburgo, tornando-se secretário de Interior da cidade hanseática. Quando, em fevereiro de 1962, uma grande enchente a ameaçava, agiu de forma enérgica e sem hesitação. O episódio transportou a fama de Schmidt para além das fronteiras hamburguesas; ele ficou conhecido como homem de ação, que sabia quando era hora de deixar de lado a obediência cega às prescrições administrativas.

Esta qualidade lhe valeria muito a seguir, na condição de líder da bancada parlamentar do SPD no governo do premiê Kurt Georg Kiesinger. Juntamente com Rainer Barzel, seu homólogo na bancada cristã conservadora (CDU/CSU), Schmidt organizou a grande coalizão de governo, sem quase nenhum atrito.

Época difícil

Willy Brandt vor rotem Hintergrund
Willy Brandt em 1988Foto: AP

O democrata daria o próximo salto na carreira em 1969, ao ser nomeado ministro da Defesa da primeira coalizão entre liberais e social-democratas. Após as eleições antecipadas de 1972, assumiu o Ministério das Finanças. Estas experiências o preparariam para, em 17 de maio de 1974, assumir o cargo de premiê, sucedendo a Willy Brandt, que havia sido forçado a renunciar em conseqüência de um escândalo político.

Seu período de governo, que iria até 1982, foi marcado pela primeira recessão mundial, a crise do petróleo e o aumento do desemprego na Alemanha. Schmidt reagiu aos problemas econômicos com programas conjunturais e fomentou a idéia de que fossem realizadas reuniões econômicas de cúpula. É graças à sua iniciativa que, desde 1975, os dirigentes das maiores potências econômicas do mundo se encontram regularmente com este fim.

Pagando caro pelos princípios

Porém, o então chanceler federal também precisou enfrentar desafios de ordem totalmente diversa, uma vez que o terrorismo da Fração do Exército Vermelho (RAF) ameaçava o Estado de maneira crescente. Para fazer frente aos atentados mortais, o chefe de governo reagiu energicamente.

RAF Bild von Hanns-Martin Schleyer
Foto do seqüestrado Schleyer enviada pela RAFFoto: AP

A situação revelou também seu lado emocional. No clímax do chamado "Outono Alemão", em 1977, quando o líder patronal Hanns Martin Schleyer foi seqüestrado, os democrata-cristãos pressionaram Schmidt a suspender temporariamente certas regras democráticas no combate ao terror. Sua reação revelava o democrata engajado, ainda sob a terrível impressão do nacional-socialismo.

"A prova do fogo reside em que não permitamos que se jogue segurança contra liberdade. Nós nos opomos à onda de intolerância que alguns querem disseminar pelo país." O Estado pagaria um alto preço por essa atitude, pois não foi capaz de salvar a vida de Schleyer.

Atividade incessante

No início da década de 80, Schmidt e seu partido, o SPD, assumiram posições contrárias no debate sobre a dupla decisão da Otan que levaria ao estacionamento de novos mísseis na Alemanha Ocidental. Paralelamente, não havia como ignorar os sinais de desgaste no interior da coalizão social-liberal. O premiê pediu eleições antecipadas e teve que entregar o cargo devido à maioria de conservadores da CDU/CSU e liberal-democratas (FDP).

"A troca de governos faz parte da credibilidade da democracia. Por isso, não me queixo de que o governo social-liberal alemão tenha que entregar sua responsabilidade. O que, no entanto, lamento, é a falta de credibilidade desta mudança e a forma como se dá."

Helmut Schmidt renunciou, porém permaneceu presente na vida pública alemã. Hoje, aos 90 anos, ele co-edita o conceituado semanário Die Zeit e é sempre consultado como comentador de eventos políticos.