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História alemã mostra que não há milagre econômico sem perdão de dívida

27 de fevereiro de 2013

No pós-Guerra, Alemanha estava tão endividada quanto a Grécia de hoje, colhendo olhares desconfiados dos credores. Há 60 anos, porém, país teve metade de seus débitos perdoados e começou a se reerguer.

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Foto: picture-alliance/dpa

Até hoje, muitos alemães sentem orgulho do chamado "milagre econômico" do pós-Guerra, quando o crescimento foi excepcional. Somente entre 1953 e 1963, o Produto Interno Bruto (PIB) da recém-fundada Alemanha Ocidental duplicou.

Desde então, gerações de crianças e adolescentes aprenderam na escola que os alemães são um povo inacreditavelmente esforçado e trabalhador, que, com o apoio dos Estados Unidos, conseguiu reerguer o país. "Esse é um exemplo lamentável de como a História é recalcada neste país", diz Jürgen Kaiser, da aliança erlassjahr.de, que faz campanha pelo perdão da dívida de países em desenvolvimento.

Segundo ele, os alemães reprimem da memória o fato de que, depois da Segunda Guerra, a própria Alemanha se encontrava desesperadamente endividada, de maneira semelhante à Grécia dos dias de hoje.

Foi somente o chamado Acordo de Londres, assinado há exatos 60 anos, que fez com que o país pudesse respirar de novo, lembra a historiadora Ursula Rombeck-Jaschinski, da Universidade de Stuttgart. "Pode-se até mesmo afirmar que o milagre econômico não teria sido possível sem o perdão da dívida", afirma.

30 bilhões de marcos de dívidas

Naquela época, cerca de 70 países cobravam dinheiro da Alemanha – dívidas contraídas em parte antes e em parte depois da guerra. No total, o país devia 30 bilhões de marcos, e economizar e pagar aos poucos não era uma alternativa viável. Pelo contrário: a economia alemã precisava de investimentos, a fim de que a reconstrução e o crescimento pudessem ser financiados.

Deutschland Nachkriegszeit Trümmerfrauen
Reconstruir o país: trabalho e dívidas perdoadasFoto: picture-alliance/dpa

Para o banqueiro Hermann-Josef Abs, que conduziu a delegação alemã nas negociações em Londres, essa ideia estava mais do que clara. Suas palavras de ordem eram: os credores de hoje têm que se transformar nos investidores de amanhã.

As negociações começaram em meados de 1952 e foram lentas e difíceis. Não se sabia ainda ao certo se os credores iriam de fato abdicar de seus créditos, nem se iriam confiar nos alemães.

"Houve até mesmo um momento em que as negociações quase fracassaram", conta Rombeck-Jaschinski. "Os alemães apresentaram aos credores estrangeiros uma proposta que, na visão do então Ministério das Finanças, era o máximo da viabilidade. Os credores acharam a sugestão um desaforo."

Desconfiança dos credores

Os alemães foram obrigados a mudar o documento, e as negociações então continuaram. Os paralelos com as atuais conversas entre a Grécia e seus credores são evidentes. Naquela época, em Londres, a meta também era encontrar um equilíbrio. Os credores queriam reaver o máximo possível de seus recursos, mas, ao mesmo tempo, a Alemanha não deveria ficar sobrecarregada.

"Principalmente os britânicos defendiam a ideia de que os alemães poderiam, na verdade, pagar tudo de volta", diz Rombeck-Jaschinski. "Mas os americanos passaram à frente. A eles interessava que a Alemanha tivesse recursos para outras coisas, especialmente para o rearmamento."

O acordo, selado, enfim, no dia 27 de fevereiro de 1953, foi sensivelmente favorável à economia alemã: pelo menos metade das dívidas foram perdoadas. O resto foi remanejado a longo prazo.

O nascimento da nação exportadora

Além disso, era colocada naquele momento a pedra fundamental para o nascimento de uma nação exportadora. A Alemanha só teria que pagar suas dívidas se ganhasse dinheiro com o comércio exterior. Os credores tinham interesse em comprar mercadorias alemãs, lembra Jürgen Kaiser. Segundo ele, uma solução parecida poderia ajudar hoje a endividada Grécia – sobretudo porque o país, antes da crise, gastou bilhões de euros para pagar tanques de guerra comprados da Alemanha.

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Milagre econômico nos anos 1950: registrado na memória da populaçãoFoto: picture-alliance/dpa

Já Rombeck-Jaschinski afirma que a situação de 60 anos atrás não pode ser simplesmente comparada com a de hoje. Apesar disso, ela recomenda aos alemães não esquecerem, em meio às negociações com a Grécia, que a própria Alemanha já esteve desesperadamente afundada em dívidas, precisando de ajuda.

Autor: Andreas Becker (sv)
Revisão: Rafael Plaisant Roldão