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Hora de pisar no freio

mw20 de maio de 2003

Em 11 dias, três acidentes com ônibus de turismo mataram 62 pessoas e chocaram a Alemanha. Autoridades estudam novas normas de segurança. Excesso de velocidade é principal causa de acidentes de trânsito no país.

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Um guincho transporta o que restou do ônibus arrastado por um trem na HungriaFoto: AP

Após dois acidentes com ônibus alemães no exterior, na noite de segunda-feira foi a vez de um veículo dinamarquês com 70 adolescentes numa estrada próxima a Kiel, no norte da Alemanha. Apesar de trafegar numa reta, o ônibus perdeu a direção na pista molhada de chuva, rompeu a proteção lateral e caiu numa ribanceira com 15 metros de profundidade. Árvores, no entanto, amorteceram e interromperam a queda após seis metros. Cerca de 25 pessoas ficaram feridas, três delas gravemente.

Da recente seqüência de acidentes, foi o único sem vítimas fatais. No dia 8 de maio, um ônibus alemão com 38 passageiros parou, numa passagem de nível, sobre trilhos ferroviários nas proximidades do Lago Balaton, na Hungria. O veículo foi interceptado por um trem, arrastado e partido ao meio. Total de mortos: 34. O pior acidente com ônibus da história da Alemanha.

Busunglück bei Lyon
Ônibus de dois andares derrapou na chuva e tombou perto de LyonFoto: AP

No último sábado (17), nova tragédia com turistas alemães, desta vez rumo à Espanha. Na altura de Lyon, na França, o veículo de dois andares derrapou na auto-estrada molhada de chuva e tombou, matando 28 pessoas e ferindo 47. Segundo a polícia francesa, o ônibus estaria a 117 km/h, quando a velocidade máxima permitida sob chuva no trecho é de 80 km/h.

Meio de transporte seguro

Em princípio, os ônibus gozam do status de meio de transporte seguro na Alemanha. De acordo com estatísticas oficiais, em 2001 apenas 1% das vítimas do trânsito alemão estavam em coletivos. Dentre o total de mortos, o índice cai até mesmo para 0,1%. A seqüência de tragédias em tão curto espaço de tempo, entretanto, obrigou as autoridades a ao menos reavaliar as atuais normais de segurança e ver onde ainda há o que melhorar.

Uma vez que o excesso de velocidade é disparado a maior causa dos acidentes de trânsito na Alemanha (80,7 mil casos em 2002, à frente do desrespeito à preferência), discute-se a exigência de estender aos ônibus antigos a adoção de um limitador de velocidade, hoje já obrigatório nos novos. O limite é 100 km/h.

Cintos de segurança nos coletivos

Outra opção levantada é a obrigatoriedade da instalação de cintos de segurança para os passageiros em todos os ônibus. Atualmente, ela só existe para os veículos fabricados após 1999, quando os próprios fabricantes concluíram um estudo que comprovava sua importância. No entanto, até hoje não há a exigência de uso do cinto por parte dos passageiros.

O Instituto Tecnológico de Trânsito, pertencente às seguradoras alemãs, reivindica por sua vez a substituição dos tacógrafos analógicos por digitais, a fim de evitar manipulações, e a construção de veículos mais estáveis, inclusive com a instalação de programas eletrônicos de estabilização (ESP).

Bild der Woche: Bus Unglück in Ungarn
Infração do motorista é causa mais comum nos acidentes, como no Lago BalatonFoto: AP

Gerente técnico da companhia de ônibus Rhein-Sieg, Hermann Josef Umlauf não rejeita mudanças nas normas, mas ressalta: "Quando a causa é humana, não adianta ter melhores recursos técnicos". Nos três acidentes recentes, as investigações apontam irresponsabilidade dos motoristas. Além disto, tacógrafos digitais também seriam manipuláveis e bloquear a velocidade máxima em 100 km/h não resolve em dias de chuva, quando os veículos deveriam trafegar mais lentos.

Excesso de trabalho

As leis referentes ao trabalho dos motoristas também são rigorosas na Alemanha. Por exemplo, eles não podem dirigir mais que nove horas – em raras exceções, até 11. Em geral, nas viagens de longa distância, dois motoristas revezam-se ao volante. Mas mesmo diretores das federações do ramo não escondem que a norma é desrespeitada, embora "somente por poucas ovelhas negras".

E não são só os ônibus que passam por vistorias regulares. Enquanto os veículos são inspecionados parcialmente a cada trimestre e têm uma vistoria completa por ano, os motoristas submetem-se a exames médicos e psicológicos a cada cinco anos.

Mas nem as exigências legais podem garantir segurança. Até mesmo porque, assim como em outras partes do mundo, também na Alemanha há empresas que, por razões de economia ou tempo, forçam seus motoristas a desrespeitar as leis de trânsito e as normas de segurança. No fim, são eles que pagam pelas infrações, seja com multas ou com a própria vida.

Listas de passageiros

Frankreich Busunglück Opfer
Falta de lista dos passageiros dificultou identificação das vítimas em LyonFoto: AP

E, mesmo que acabar totalmente com os acidentes seja uma meta utópica, há ainda o que aperfeiçoar em seus desdobramentos. Por exemplo, mais de dois dias após a tragédia de Lyon ainda não se havia identificado todos os feridos e mortos, pois não existia sequer uma relação dos nomes e origem de todos os passageiros. "Vamos verificar se, assim como nos vôos, precisamos exigir a elaboração pelas empresas de uma lista completa dos ocupantes do coletivo", diz Uwe Schünemann, secretário de Interior da Baixa Saxônia, um dos estados alemães com vítimas nas tragédias na Hungria e na França.