1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ideia é mostrar como os sauditas vivem, diz produtor de "O Sonho de Wadjda"

Bernd Sobolla (mas)4 de outubro de 2013

Filme é o primeiro longa dirigido por uma mulher na Arábia Saudita. Alemão Roman Paul, um dos produtores, fala sobre a ousadia das mulheres envolvidas no projeto e como o processo mudou sua percepção sobre o país.

https://p.dw.com/p/19fcB
O sonho de Wadjda (Waad Mohammed) é pedalar uma bicicleta verde pelas ruas de RiadFoto: RazorFilm

O produtor alemão Roman Paul já trabalhou em diversos filmes no Oriente Médio, como os premiados Paradise Now, de Hany Abu-Assad, e Valsa com Bashir, de Ari Folman. Mas há algo de especial em O Sonho de Wadjda, que estreou no Brasil em maio e chegou aos cinemas alemães no mês passado.

O filme conta a história de uma menina de 11 anos que tem um sonho que vai contra todas as convenções sociais de seu país: pedalar pela cidade de Riad com sua própria bicicleta. Na Arábia Saudita, as mulheres não podem andar de bicicleta, mas isso não impede Wadjda de ir adiante.

Em entrevista à DW, Paul fala sobre suas impressões sobre a Arábia Saudita, as dificuldades da produção e as mensagens que o filme, dirigido pela diretora saudita Haifaa al-Mansour, pretende passar.

DW: Foi difícil abrir as portas para filmar na Arábia Saudita, onde os cinemas são proibidos?

Roman Paul:O filme mostra uma visão muito complexa da vida na Arábia Saudita. Era importante mostrarmos como as pessoas vivem no país e o que caracteriza suas vidas. Não queríamos fazer um filme que fosse apenas sobre repressão.

Originalmente, Haifaa queria filmar nos Emirados Árabes, mas perguntamos a ela se poderíamos filmar na Arábia Saudita. Ela disse que não havia qualquer regulamentação que nos impedisse. Fomos juntos à Arábia Saudita, visitamos a região leste de Riad e encontramos o produtor de televisão Amr Alkahtani. Ele assegurou que poderia obter as devidas autorizações, e assim o filme aconteceu.

Das Mädchen Wadjda
Roman Paul e sua equipe reconheceram o potencial na história de HaifaaFoto: DW/Bernd Sobolla

Não que as questões sociais – como também é sugerido no filme – não sejam discutidas na Arábia Saudita. Nós, no mundo ocidental, olhamos para esses países como se eles fossem rígidos e não muito dinâmicos. Mas internamente, a Arábia Saudita é um país realmente dinâmico. Já que não se pode viajar tão facilmente para lá, fica difícil ter uma impressão pessoal.

O filme quer mudar isso. Ao mesmo tempo, ele também foi feito para o público saudita e já teve duas exibições no país, nas embaixadas da Alemanha e dos Estados Unidos. O filme já passou pelo órgão de censura e deve ser exibido na televisão na Arábia Saudita.

Você esteve presente durante as filmagens. Quais são suas impressões da Arábia Saudita?

Antes de irmos, eu tinha um pouco de medo do país, que eu imaginava em cores bem sombrias. Mas tudo mudou quando chegamos lá. As pessoas eram muito simpáticas, amigáveis e abertas. Isso foi uma grande surpresa. Há todo um espectro político no país, que vai da esquerda para a direita. Você conhece pessoas com diferentes pontos de vista.

O filme se passa em Riad, mas não se vê muito da cidade na tela. A intenção era mostrar as áreas restritas nas quais Wadjda vive?

Eu não sinto que o filme seja tão limitado. Ele se passa em uma área da cidade onde Wadjda vive com sua família. Junto com Abdullah, ela vai a uma excursão na parte antiga da cidade. Os dois se conheceram em um shopping center, um local de grande importância na Arábia Saudita. Como não existem cinemas, bares, ou outros locais do gênero, o grande prazer dos sauditas são os shoppings. Assim, o filme mostra diferentes locais em Riad.

O grande sonho de Wadjda é uma bicicleta verde. O verde representa a esperança, mas também é a cor da bandeira da Arábia Saudita. O que você enxerga na cor verde?

A bicicleta verde é um símbolo dos sonhos que podem ser alcançados – mesmo diante de pressões sociais – sem prejudicar ninguém. Wadjda quer tornar seus sonhos realidade. Ela não recebe nenhum apoio e encontra uma resistência continua, mas não desiste.

Das Mädchen Wadjda
Haifaa al-Mansour fez sua estreia no cinema com "O Sonho de Wadjda"Foto: Razor Film

Wadjda frequenta uma escola regular ou uma escola islâmica?

Ela frequenta uma escola regular para meninas, mas sua classe é do clube do Alcorão. Podemos comparar isso como um grupo de teatro de uma escola ocidental. Eles participam de um concurso especial que é mostrado no filme.

Fiquei impressionado ao ver como as professoras encorajam inflexivelmente as meninas a seguirem as tradições. Imaginava que em uma escola só para meninas, elas tivessem mais liberdade do que elas têm fora da escola.

Para essas mulheres, não é importante propagar a solidariedade entre mulheres, a fim de alcançar uma maior liberdade dentro da sociedade. Para elas, o importante é que a tradição sobreviva, que as jovens internalizem e vivam de acordo com as regras. Haifaa al-Mansour disse que o filme é dedicado a suas antigas colegas de classe. Ela cresceu em uma cidade pequena. Algumas dessas meninas eram loucas, com ideias fora do comum, desejos e sonhos. Mas nenhuma delas era tão obstinada quanto Haifaa, que alcançou o sonho de se tornar uma diretora de cinema. As outras meninas encontraram seu caminho dentro de uma sociedade tradicional.

Como você entrou em contato com a história do filme e com a diretora Haifaa Al Mansour, que estudava cinema em Sydney?

Haifaa entrou em contato conosco. Ela enviou um e-mail oferecendo o projeto. Na verdade, ela fez isso com quase todas as produtoras de cinema da Europa. Mas nós fomos os únicos interessados.

Qual o impacto que uma mulher como Haifaa pode ter em um país como a Arábia Saudita?

A Arábia Saudita é um país relativamente fechado. Haifaa certamente ganhará fama e deverá viajar por todo o mundo. Ela é uma das personalidades artísticas mais excepcionais da Arábia Saudita. O filme é, naturalmente, muito polêmico.