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Idomeni e o efeito dominó nas fronteiras europeias

Jannis Papadimitriou (jps), de Idomeni 26 de fevereiro de 2016

Milhares de refugiados estão retidos na fronteira da Grécia com a Macedônia, que barrou a entrada de afegãos. Acampados sob baixas temperaturas, eles não perdem a esperança de seguir para a Europa Central.

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Foto: Reuters/Y. Behrakis

O afegão Javad está chateado e exausto, mas quer reunir forças e continuar lutando pelo seu grande sonho: uma vida digna na Alemanha. O jovem pagou 4.000 dólares pela viagem ilegal que começou em sua terra natal.

Somente para o trecho de apenas 100 quilômetros entre Salonica, a segunda maior cidade da Grécia, e Idomeni, na fronteira norte do país, lhe foi exigida a soma inacreditável de 500 dólares, reclama. E agora ele é obrigado a permanecer em tendas lotadas e na lama, na fronteira com a Macedônia.

Nos últimos dias, centenas de seus compatriotas foram levados de ônibus de volta a Atenas, e pode ser só uma questão de tempo até que Javad também seja obrigado a fazer o percurso. O motivo: depois que a Sérvia fechou suas fronteiras para refugiados afegãos, a vizinha Macedônia seguiu o exemplo.

Flüchtlingscamp von Idomeni
O afegão Javad (à esquerda) com outros refugiados em IdomeniFoto: DW/G. Papadimitriou

Afegãos barrados

"De repente, ninguém se interessa mais por nós afegãos", reclama Javad. "Ninguém se importa com nossos filhos quando eles ficam doentes. A atenção é praticamente toda dedicada aos refugiados da Síria. Isso não é justo, nós também somos humanos, e nossa terra natal também é assolada pela guerra. Você acha que eu teria gasto 4.000 dólares se minha vida não estivesse em perigo?", diz indignado.

Stella Nanou, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) na Grécia, também não consegue entender por que refugiados afegãos estão sendo impedidos de viajar com base em sua nacionalidade.

Durante suas visitas aos contêineres da ONU que servem de abrigo em Idomeni, Nanou é frequentemente abordada por pessoas em busca de conselhos. Um palestino da Síria pergunta se ele pode escolher o seu país de destino. De maneira cortês, Nanou diz que isso não é possível, mas também aponta que alguns critérios são levados em consideração para uma eventual concessão de asilo – se o solicitante já sabe a língua de algum país da União Europeia ou se tem parentes nele, por exemplo.

"Tentamos informar as pessoas sobre suas possibilidades, já que muitos não têm uma ideia concreta. Eles só têm certeza de que querem ir à Europa", disse a funcionária da ONU.

Flüchtlingscamp von Idomeni
Barracas no campo de Idomeni, no norte da GréciaFoto: DW/G. Papadimitriou

Condições adversas

Chove no acampamento de refugiados de Idomeni. Um mau cheiro se espalha pelo local, uma mistura de chuva, madeira queimada e urina. Funcionários das organizações de apoio a refugiados estão constantemente ocupados. Eles distribuem tendas e alimentos, limpam banheiros e levam os recém-chegados para entrevistas.

Inicialmente, o acampamento foi concebido apenas como um abrigo de emergência temporário. Agora, às grandes tendas da ONU, capazes de acomodar 2 mil pessoas, somam-se cada vez mais tendas menores, montadas sobre o gramado. Após o entardecer, a sensação térmica cai para abaixo de zero, e um vento gelado sopra diretamente no rosto das pessoas.

Apesar das condições difíceis, Safwat Estif, de Aleppo, na Síria, está otimista. "Estou finalmente em segurança aqui, tendo escapado da guerra na Síria, e, portanto, mesmo diante das adversidades, não reclamo", afirmou em entrevista à DW. No entanto, o jovem de 26 anos sente frustração e, às vezes, raiva.

Safwat pagou 700 dólares para atravessar a fronteira entre a Turquia e a Grécia. Os últimos 25 quilômetros até Idomeni foram percorridos a pé. Agora ele não consegue entender por que permanece preso nesta cidade. "Temos que esperar que chamem por números. Agora a chamada está no grupo 62. O meu grupo é o 88. Cruzar a fronteira pode levar muito tempo", diz.

Infografik Flüchtlinge Balkanroute August 2015 Brasilianisch

Restrições nas fronteiras

O que talvez o sírio ainda não saiba é que a Áustria introduziu um limite diário para a entrada de refugiados e que outros países vizinhos também impuseram restrições em suas fronteiras, o que teve efeito sobre a situação em Idomeni.

Mesmo refugiados da Síria só podem atravessar a fronteira com a Macedônia em pequenos grupos, e isso somente quando a vizinha Sérvia abre suas fronteiras para receber um grupo com o mesmo número de refugiados. Isso provoca um efeito dominó na rota dos Bálcãs, que começa na Turquia, segue pela Grécia, Hungria, até chegar ao norte da Europa.

Safwat afirma que pode esperar, mas ele também tem medo de que a fronteira ao norte da Grécia seja eventualmente selada de vez. "De repente, há alguns dias, os afegãos foram avisados de que não poderiam prosseguir. O que garante que o mesmo não vai acontecer com os sírios?", questiona.

Javad, do Afeganistão, não quer perder as esperanças. Ele diz que deseja ir à Alemanha porque se trata de um país "bom" e sem guerra. E o que pretende fazer na Alemanha? "Viver em paz, estudar. E jogar futebol com meus amigos."