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Igreja protege pecadores de batina

Rafael Heiling / gh21 de julho de 2004

Escândalos sexuais e casos de pedofilia envolvendo religiosos são encobertos pelo manto do silêncio, principalmente na Igreja Católica. Especialistas alemães refutam que o celibato seja a origem do problema.

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Padres pedófilos "não evoluíram sexualmente", diz especialistaFoto: Bilderbox

Os escândalos de pedofilia e outros abusos sexuais envolvendo membros do clero, como os que ocorreram nos Estados Unidos, na Inglaterra, Alemanha e, recentemente, num seminário austríaco, abalam a imagem da Igreja Católica, mas não são um fenômeno restrito à instituição. Segundo especialistas alemães, no entanto, esses "pecados" são muito graves, porque ocorrem numa instituição empenhada em ser exemplar e, em muitos casos, só chegam à tona quando são abertos inquéritos policiais.

Tanto a origem do problema quanto a forma como a igreja reage às denúncias são motivos de controvérsia. "Em alguns casos, é simplesmente uma doença. Outros não entenderam direito o celibato e nunca se preocuparam com sua própria sexualidade nem evoluíram nesse aspecto", diz o teólogo Wunibald Müller, diretor da Recollectio-Haus, um departamento do mosteiro beneditino de Münsterschwarzach que presta assistência a padres em crise.

Segundo Müller, alguns religiosos sentem uma tendência sexual e pensam que a vida celibatária é um porto seguro. "Não se pode resolver tais problemas tentando reprimi-los", afirma Tim Schmidt, porta-voz evangélico do movimento ecumênico "Igreja a partir da base".

Culpa não é do celibato

Os especialistas não acreditam, porém, que a solução seja abolir a exigência de viver na abstinência sexual. "O celibato não é propriamente a causa do problema", diz Müller. Afinal, a Igreja Evangélica Luterana, que permite o casamento de seus pastores, também registra casos de abusos sexuais.

Bem divergentes são as opiniões sobre o tratamento dispensando pela igreja aos pecadores de batina. "O que mais nos irrita é que a Igreja Católica protege seus funcionários contra investigações policiais. Há casos em que o padre acusado apenas é transferido de paróquia", diz Schmidt.

Sob o manto do silêncio

A Igreja Católica, de fato, tem o direito de aplicar primeiramente o Código de Direito Canônico para julgar infrações cometidas por membros do clero. Confirmando-se a suspeita, o acusado pode ser suspenso do cargo, sendo proibido de atender confissões ou ministrar qualquer sacramento. A ordenação sacerdotal, porém, não pode ser anulada – é vitalícia.

Segundo Schmidt, "as vítimas, no máximo, ganham uma esmola. Às vezes, ainda têm de provar que aconteceu alguma coisa condenável. A Igreja Católica protege seu clero com o manto do silêncio. Ela simplesmente tem medo de perder sua reputação", diz.

Encobertos pelo Vaticano

Kardinäle Papstjubiläum
Cardeais da cúpula da Igreja CatólicaFoto: AP

A Igreja Evangélica, segundo Schmidt, é bem mais rigorosa e imediatamente envia as denúncias ao Ministério Público, enquanto a Igreja Católica tenta apurá-las internamente. Desde 2001, o papa exige que as denúncias de abusos sexuais envolvendo o clero católico sejam imediatamente comunicadas ao Vaticano. "É mais uma tática de encobrimento", critica Schmidt.

Müller acha, porém, que a medida adotada pelo apa é correta. "A tendência de silenciar, reinante até um, dois anos atrás, foi quebrada", diz. Agora a Igreja Católica preocupa-se mais com as vítimas e "peneira" melhor seus seminaristas: "Não basta simplesmente parecer piedoso para se tornar padre", afirma. Segundo Schmidt, também a Igreja Evangélica tornou-se sensível na escolha de seus pastores.

Denúncias anônimas

Segundo Müller, em alguns países já existe assistência especializada às vítimas de abusos sexuais cometidos por regiliosos. Na Holanda, por exemplo, elas podem apresentar suas denúncias ou pedir ajuda anonimamente via serviço de atendimento telefônico direto. "Na Áustria, existe até um ombudsman para cuidar dos casos. E a Alemanha também não precisa se esconder", diz.

Já Schmidt acusa a Igreja Católica de ser muito egoísta. "A escassez de padres é tão escancarada que nenhum bispo pode se dar ao luxo de ainda expulsar muitos deles", conclui.