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Imprensa em crise

(sv)2 de outubro de 2002

A Alemanha, apesar de ser um país em que 77% da população lê jornais regulamente, passa pela maior crise do setor editorial no pós-guerra.

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Queda no número de anunciantes estremece os grandes diários alemãesFoto: AP

Entre os grandes diários alemães, o Süddeutsche Zeitung acaba de eliminar seu suplemento voltado para o público jovem – a revista semanal Jetzt. Também outro grande do país, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, desistiu há pouco de suas páginas especiais sobre Berlim. O semanário Die Woche, criado não faz muito tempo para concorrer com o tradicional Die Zeit, já virou apenas verbete na história do jornalismo alemão.

Longo ou curto prazo –

Pesquisadores e especialistas estão de acordo: o mercado editorial alemão passa por sua maior crise desde 1945. O que ainda não está claro é se os atuais tropeços podem ser creditados à fraca conjuntura ou se o setor está realmente ameaçado a longo prazo. Enquanto alguns dados apontam até mesmo para um provável crescimento do número de leitores assíduos, especula-se sobre o fim definitivo de editoras voltadas única e exclusivamente para a edição de jornais diários.

"Teria que se considerar que os ganhos que não estão aí hoje possivelmente nunca irão voltar", adverte Mathias Döpfner, presidente da Editora Axel Springer, a maior impressora de jornais da Europa. Atingidos pela crise, no entanto, não estão apenas os grandes e pequenos diários e semanários alemães, mas também todas as televisões comerciais do país.

Menos anunciantes –

A crise é perceptível principalmente na sensível queda no mercado de anunciantes, que encolheu 14% apenas no último ano. A internet, principal concorrente dos jornais, passou a abocanhar boa parte dos anúncios imobiliários e de emprego. Nos melhores casos, as tiragens estagnaram-se; nos piores, caíram drasticamente.

Segundo pesquisas de mercado, entre os leitores alemães abaixo de 30 anos, a internet já ultrapassou há muito o jornal na hierarquia de preferências. Além disso, acredita-se que segmentos como o de anúncios não serão reavidos tão logo a conjuntura dê sinais de recuperação. "Acima de tudo, neste setor, os jornais sentirão a concorrência da internet", observa Felix Neiger, da empresa suíça de pesquisas de mercado Prognos AG.

Pequenos têm mais chances –

Alguns jornais alemães registraram, apenas no primeiro semestre de 2002, perdas de 50% dos anúncios de emprego. Os mais afetados pela crise acabam sendo os grandes. Voltados para o mercado nacional, os diários com tiragem de mais de 200 mil exemplares obtinham – em tempos de vacas gordas – 80% de suas receitas com anúncios e publicidade. Em função da crise econômica, são exatamente estes setores que mais encolheram nos últimos meses. Jornais menores, destinados ao mercado regional, puderam lidar melhor com a crise, por já contarem desde sempre com um maior percentual do orçamento através das vendas diretas.

Credibilidade –

A luz no fim do túnel apontada por alguns especialistas remete ao alto número de leitores no país. Na Alemanha, há 349 diários, impressos em 1567 tiragens locais, perfazendo um total de 23,3 milhões de exemplares. Estes chegam às mãos de 77% da população. Além disso, 41% dos alemães acreditam que o jornal impresso é o meio de informação mais digno de confiança.

Segundo Helmut Heinen, presidente da Federação Alemã de Jornais, o futuro das empresas responsáveis pelo diários existentes no mercado nacional está na diversidade. Heinen, que é contra a tese de uma crise estrutural do setor, aponta para a necessidade de as editoras investirem em novos mercados, que podem ir da TV à telefonia celular.

Exatamente com este intuito, algumas das casas editoriais alemãs já vêm forçando mudanças estruturais, que transformam as sedes de jornais cada vez mais em empresas multimídia.