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Imprensa européia comenta atentados em Londres

(av)8 de julho de 2005

Em meio ao choque e indignação generalizados, comentários da mídia revelam diversas formas de apreensão, indo desde o futuro da segurança no Ocidente até a perda das liberdades civis.

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Manchetes dos jornais londrinos sobre as explosõesFoto: AP

O jornal Berliner Zeitung mostrou-se preocupado com as conseqüências dos atentados em Londres para a Alemanha: "Nossa única chance é não nos deixarmos guiar pelo pavor que nos assoma. O ministro do Interior, Otto Schily, declara: 'Não há aumento de perigo na Alemanha'. Essa é a verdade. O atentado em Londres não muda em nada o fato de que o país também é, há muito tempo, possível alvo do terror. O governo Schröder-Fischer nos haver poupado de uma participação na guerra do Iraque tampouco altera isso. O terrorismo não procura culpados, a questão não é punição, mas sim medo e pavor. (...) Entretanto temos a vaga sensação de que o perigo se aproxima."

O tom de alarme é ecoado pelo Westdeutsche Zeitung, de Düsseldorf: "Os atentados se aproximam. Há ameaças expressas na Itália. (...) A rede terrorista Al Qaeda não fará distinção entre bons e maus infiéis. E o território alemão não é, de forma alguma, estranho a essas redes. Afinal indícios dos ataques em Nova York levaram a Hamburgo, assim como os de Madri apontaram para Darmstadt."

Die Welt especula sobre os motivos: "Não nos deixemos iludir pelo blá-blá-blá da carta de reivindicação. Não se trata de uma punição contra o 'governo de cruzados' inglês, a ser castigado pela participação nas guerras do Iraque e Afeganistão. Os fundamentalistas islâmicos (...) perseguem uma secular escatologia da destruição, que distingue entre fiéis e sub-humanos, negadores da verdade de Alá, indignos de viver, os quais ou se converte, subjuga ou mata. (...) As passeatas de milhões em fúria contra Bush e bandeiras de paz não conseguiram reconciliar os assassinos da Al Qaeda com o Ocidente. (...) Enquanto as comunidades muçulmanas tolerarem a expansão do terrorismo, a desgraça continuará."

Para o Frankfurter Allgemeine Zeitung é um "cinismo do acaso" a capital inglesa, que na véspera comemorava sua vitória na candidatura para as Olimpíadas de 2012, estar agora tomada pelo choque e luto. Entretanto: "Não é absolutamente acaso Londres ter sido alvo deste ataque. A cidade multiétnica não é sede apenas de bancos e conglomerados internacionais, mas também de representações de quase todos os agrupamentos radicais muçulmanos do mundo. Estas são em parte totalmente oficiais, apesar de numerosas e inegáveis conexões com o meio terrorista no 'grande Oriente Médio'. Como o Reino Unido de Blair é o aliado mais próximo dos EUA no Iraque, há muito Londres encabeçava a lista das cidades ameaçadas pelo terror fundamentalista islâmico."

Sinais de determinação

O periódico Rheinpfalz, de Ludwigshafen, louva a continuação do encontro do G8, mesmo em face da catástrofe: "Interromper a cúpula teria sido o sinal errado. Um encontro cujo verdadeiro foco – o combate à fome e à pobreza na África – infelizmente ficou em segundo plano. Não se pode nem deve comparar mortes. Embora nossa consternação dirija-se espontaneamente às vítimas em Londres, na África uma criança morre de fome a cada três segundos. É preciso discutir contramedidas em Gleneagles."

Segundo o Kölner Stadt-Anzeiger: "A linguagem desavergonhada da reivindicação reflete toda a mentira e a cegueira terrorista: eles se auto-intitulam heróis por deixar bombas em assentos de metrô. E se superestima o efeito desses assassinatos baratos. Pois Londres, essa metrópole magnífica, já sobreviveu a bombardeios de proporções bem outras. A determinação de seus cidadãos contribuiu para a superação do nacional-socialismo alemão. O premier Tony Blair se identifica com esta tradição. Ele encontrou o tom certo de determinação; com todo o direito, interpreta os atentados como um ataque fundamental aos valores das sociedades democráticas."

O Handelsblatt, especializado em negócios, acrescenta: "O alvo das bombas justamente não são os óbvios aliados dos norte-americanos. Seu alvo é a comunidade de valores do G8 e os conteúdos de que se ocupa. É esse o aspecto pérfido dos atentados londrinos: justo quando os ricos da Terra finalmente se dispõem a um esforço no sentido do combate à pobreza, o terror ataca. (...) Isso demonstra quão distante o extremismo islâmico se encontra do universo de conceitos do Ocidente."

Segurança versus liberdade

O periódico inglês The Times enfatizou a repercussão da série de atos terroristas sobre o dia-a-dia: "A ausência de incidentes terroristas [na Inglaterra] desde 2001 levou, compreensivelmente, a apelos para o restabelecimento do equilíbrio entre as medidas antiterror e a liberdade dos cidadãos. É de certo vital que os direitos civis não sejam esmagados por uma avalanche de legislação dracônica. Contudo deve-se também admitir que novos poderes legais possam vir a ser necessários para combater o terrorismo, e que estes não afetarão apenas os suspeitos de simpatizar com o terror, mas sim o público em geral. Os ministros não devem recorrer ao código penal rapidamente demais, porém os cidadãos também devem compreender que a atual situação de segurança está longe de ser normal."

La Croix, de Paris, analisa assim o momento: "Trata-se de uma guerra em que as armas da democracia, por mais tecnologicamente sofisticadas que sejam, costumam nada valer – muito embora ao longo dos anos se haja desmantelado redes e revelado conexões, e a cooperação internacional haja progredido. Nenhuma política, por mais restritiva que seja, pode proteger contra fanáticos dispostos a tudo, mesmo a morrer. Só resta às nações fazer frente unida. (...) Ao mesmo tempo elas devem evitar relacionar o terrorismo a uma determinada religião ou cultura. Acima de tudo é preciso coibir as discriminações e injustiças que são o solo para extremistas de todo tipo."

O búlgaro Nepszabadsag abordou ainda um outro perigo decorrente da série de explosões em 7 de julho, na capital inglesa: "Após Madri, os terroristas nos deixaram claro quão longe ainda estamos de uma vitória contra o terrorismo global (...) Porém, se o combate deve mesmo tornar-se mais 'efetivo', devemos temer ainda mais por nossos direitos à liberdade? Seremos realmente forçados a sacrificar no altar da segurança – ou seja, do medo – cada vez mais dinheiro, força humana, talvez ainda mais direitos e liberdade de ir e vir?"