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Imprensa européia destaca eleições brasileiras

(pc)28 de outubro de 2002

A vitória de Lula teve pouca repercussão na mídia alemã, ao contrário dos jornais da França, Suíça, Espanha e Itália, que deram grande destaque ao pleito.

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Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito com a maior votação da históriaFoto: AP

Lula foi eleito praticamente em um plebiscito, afirmou o jornal italiano La Repubblica, destacando a alta porcentagem de votos obtida pelo candidato do Partido dos Trabalhadores (61,27%).

Num tom semelhante, o diário espanhol El País afirma que o socialista arrasou nas urnas e que o Brasil deu uma guinada para a esquerda. Mas ao longo do comentário o jornal contemporiza o radicalismo do novo presidente brasileiro: "Lula, um ex-operário metalúrgico e de origem pobre, passou da esquerda radical marxista a um discurso de 'paz e amor', estabelecendo alianças com tendências políticas de direita e esquerda".

"Lula, um presidente de esquerda para o Brasil", é a manchete do jornal francês Libération. A eleição de Lula representa uma ruptura histórica da República brasileira, proclamada há 113 anos e dominada durante muito tempo pelas juntas militares. Ex-torneiro mecânico e imigrante nordestino, Lula é o primeiro presidente de origem operária, diz o Libération. O jornal francês comenta ainda que o líder histórico do PT soube moderar seu discurso, a fim de ampliar seu tradicional eleitorado de esquerda, o que lhe permitiu dissipar o temor que provocava nos brasileiros.

Mais pragmático, o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung afirmou que Lula conseguiu finalmente seu objetivo na quarta tentativa. Ele representa a esperança para as camadas pobres da população brasileira e pode exercer um papel significativo no continente americano. O jornal suíço deu destaque às declarações de Lula, de que é possível conciliar a paz mundial com um modelo de desenvolvimento econômico baseado na justiça social.

Brasil na terceira via

Desde o sábado, o jornal francês Le Monde já estampava na sua edição online um editorial comentando a "terceira via" brasileira. A receita deste novo caminho é aliar a solidariedade com a crescimento, a proteção dos pobres com a abertura das fronteiras, abandonar o ultra-liberalismo sem cair no populismo nem no protecionismo. Em suma, a saída do Brasil é tornar-se "europeu", segundo o editorialista do Le Monde.

O jornal analisa as milhares de distorções inexplicáveis que tornam o Brasil ineficaz e fazem o país desperdiçar suas chances: a imaturidade da classe política, os problemas da previdência e do mercado de trabalho. Para relançar o Brasil, é preciso vencer a criminalidade galopante e restabelecer a estabilidade macro-econômica. O déficit brasileiro, agravado a partir de 1996, coloca o país à mercê dos credores internacionais, que detêm um terço da imensa dívida de 280 bilhões de dólares

As reformas econômicas terão de resolver a contradição fundamental do modelo econômico adotado na década de 90: por um lado, o Brasil abriu completamente seu setor financeiro, a fim de atrair investimentos para pagar a dívida externa, e por outro lado, o país tem ainda uma economia real completamente fechada.

O setor industrial é excessivamente voltado para o mercado interno e sua agricultura, embora voltada para a exportação, esbarra nas barreiras protecionistas dos países industrializados. O verdadeiro desafio de Lula, conclui o Le Monde. É achar uma saída que torne o Brasil menos frágil no contexto da globalização.

Mercados europeus reagem positivamente

Os títulos brasileiros e o real tiveram valorização nos mercados financeiros europeus na manhã desta segunda-feira (28). Também na Espanha, que tem muitas empresas operando na América Latina, o mercado abriu em alta.

Os analistas afirma que os mercados estão dando um voto de confiança ao novo presidente. "Acabou a fase de insegurança e Lula já assegurou que irá respeitar as metas traçadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)", afirmou um analista da Eurodeal.