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Conferência antirracismo

21 de abril de 2009

Para muitos jornais, discurso ofensivo do presidente iraniano Ahmadinejad contra Israel é uma confirmação para a decisão de muitos países de boicotar a conferência antirracismo da ONU. Outros pedem até o fim do evento.

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Alemanha foi um dos países que boicotaram o eventoFoto: picture-alliance/ dpa

O boicote de diversos países, inclusive a Alemanha, à Conferência Mundial Contra o Racismo, promovida pela ONU de 20 a 24 de abril em Genebra, na Suíça, foi interpretado de diversas formas pela imprensa europeia. Muitos jornais viram no discurso do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad – que chamou Israel de "bárbaro" e "racista" no tratamento aos palestinos e fez com que as delegações europeias presentes deixassem a sala –, uma confirmação para a decisão de se ausentar. Há até quem peça que o evento não volte a se realizar.

Para o conservador Corriere della Sera, de Milão, "o veneno que vem de Teerã é também religioso. (...) Quem falou ontem não é só o presidente do Irã, mas o homem que em 2006 finalizou uma carta a George W. Bush dizendo que 'a vontade de Deus triunfará sobre tudo no mundo'. A teocracia em Teerã é há muito tempo a principal ameaça à paz mundial (...). O que não significa que não se deveria negociar o que pode ser negociado".

O liberal de esquerda parisiense Libération alerta: "Durban II, assim como Durban I, surge como uma caricatura da diplomacia da ONU. Ela oferece tribuna e aplauso a um presidente que é partidário de apedrejamentos, homofóbico e antisemita. Abre espaço para ditadores chineses, argelinos ou cubanos, que inventaram o conceito prático da 'difamação das religiões' para silenciar dissidentes. Isso ao lado de uma relativização do conceito de direitos humanos, habilmente apresentada como livre do imperialismo ocidental".

"Ahmadinejad conseguiu o que queria: a aprovação de grande parte dos delegados (...) e a cisão do Ocidente. (...) Não que ele tivesse dito algo de novo. O que ele pensa sobre o Holocausto e 'a união sionista' é conhecido. Todos que não são de sua opinião tiveram a chance e tempo suficiente para formular uma resposta comum a esse desafio: seja através de um boicote geral da conferência (...) ou de uma aceitação conjunta do conflito por parte de todos. Infelizmente, não houve nem uma nem outra coisa – uma chance perdida", criticou o também liberal de esquerda La Repubblica, de Roma.

O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung se posicionou a favor do boicote alemão à conferência: "É absolutamente correto que a Alemanha não se deixe usar como cenário para provocações contra Israel e o Ocidente e mantenha distância da assim chamada conferência antirracismo. O quão acertada [foi essa decisão] ficou claro logo no dia da abertura, quando o presidente iraniano, como era esperado, criticou os Estados Unidos e o 'sionismo racista' e as delegações europeias participantes deixaram – ou tiveram que deixar – a sala. Os países da UE poderiam ter se poupado dessa vergonha, desse fiasco".

Já o parisiense Le Monde é contra a ausência europeia: "A França e o Reino Unido estavam lá, mas não a Alemanha, a Itália e a Holanda. Só esse fato já representa uma vitória para os ditadores e fundamentalistas, que usam seus pontos de vista para sistematicamente instrumentalizar os direitos humanos, com o objetivo de negar as obrigações a eles relacionadas e livrar-se deles – em nome do respeito às culturas e religiões. Isso é um sinal muito negativo para o multilateralismo, para o qual a ONU deveria proporcionar os meios e a liderança no nível global. No final das contas, o boicote é uma grande decepção para todos que consideram parte essencial da democracia combater toda forma de racismo".

O conservador jornal vienense Die Presse vai ainda mais além e pleitea o fim da própria conferência da ONU: "A conferência antirracismo foi uma farsa já em sua primeira edição em 2001 em Durban. Também daquela vez representantes de governo de países islâmicos, que deveriam se envergonhar quando se fala em direitos humanos, tentaram taxar Israel de racista. A declaração final foi suavizada, mas nas entrelinhas era o Estado de Israel o criticado. (...) Depois da segunda tentativa fracassada, pode-se dizer: a conferência da ONU contra o racismo é tão sem sentido quanto um congresso contra o mau tempo. Ela usa à toa a capacidade diplomática e não deveria mais acontecer".

RR/dpa/afp
Revisão: Alexandre Schossler

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