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Incentivo de corpo mole

Rolf Wenkel /am6 de março de 2003

O Banco Central Europeu baixou a sua taxa de juros de 2,75% para 2,5%. Já em dezembro passado, a taxa havia sido reduzida em 0,5%. Leia o comentário de Rolf Wenkel, da Deutsche Welle, sobre a medida do BCE.

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É pena. Poderia ter sido uma redução um pouco mais ampla. A grande maioria dos observadores já esperava, de qualquer maneira, que o Conselho do Banco Central Europeu afrouxasse as amarras dos juros. Pois, em primeiro lugar, sabe-se que a conjuntura econômica está paralisada na Europa. Em segundo lugar, a guerra iminente no Iraque encerra riscos adicionais para a conjuntura. E, em terceiro lugar, o BCE tem margens suficientes para uma redução da taxa guia de juros, uma vez que é limitado o perigo de uma inflação.

Até mesmo o aumento exorbitante dos preços de petróleo – como conseqüência da ameaça de guerra no Golfo – não encerra mais que um ínfimo risco de importar a inflação. Pois, ao mesmo tempo, o euro está tão forte em relação ao dólar, como já não ocorria há quatro anos. Nesta quinta-feira, o dia da redução dos juros, por exemplo, ele foi cotado a 1,0988 dólar. Isto torna suportável a conta da importação de petróleo, paga em dólar, e amortece os riscos de inflação.

Por que então a redução da taxa de juros em apenas 0,25%? Esta pergunta foi feita por muitos investidores dos mercados de capitais da Europa e a sua decepção pôde ser lida nos quadros de registro do pregão das bolsas: no momento em que foi anunciada a decisão do BCE, as cotações despencaram nas bolsas européias. A expectativa era, simplesmente, muito maior – de um passo mais corajoso para apoiar a conjuntura econômica na Europa.

Efeito psicológico

Mas as expectativas decepcionadas tampouco tinham uma justificativa. Pois um Banco Central não pode praticar fomento conjuntural através da sua política monetária. Os impulsos para a conjuntura devem vir de outros fatores. Por exemplo, através de sensata política financeira, tributária e de reformas. Um Banco Central só pode dar um sinal e esperar que ele desenvolva um certo efeito psicológico. Infelizmente não existe uma correia de transmissão que transforme a redução de juros automaticamente em mais demanda, mais crescimento e mais ocupação.

Pois, o que acontece, quando um Banco Central reduz a sua taxa de juros? Os bancos comerciais obtém créditos mais baratos, favorecendo seu refinanciamento. Eles desejam lucrar bastante com isto, baixando de imediato os juros pagos pelas aplicações de seus clientes, mas retardando a redução dos juros que cobram pelos empréstimos concedidos.

Mas mesmo que os juros para os créditos se tornem menores: nenhum empresário toma um empréstimo para investimento somente porque os juros estão baixos. O que leva todo empresário a investir é a sua perspectiva de negócios. E essa perspectiva é sombria no momento e permanecerá assim, enquanto pairar sobre nossas cabeças a ameaça de uma guerra no Golfo.

Guardar munição

Esta é provavelmente a razão pela qual o Banco Central Europeu tomou uma medida "de corpo mole". Ele quer guardar a sua munição para o momento em que a situação tornar-se ainda mais séria. Para quando as "tensões geopolíticas" (segundo as palavras do presidente do BCE, Wim Duisenberg) se transformarem num conflito armado. Quando isto ocorrer, nós teremos provavelmente uma nova redução da taxa guia dos juros de refinanciamento bancário. E esta redução será, ao que tudo indica, mais ampla. Apesar disto, ela não servirá para dar impulso à conjuntura. Isto cabe à política tributária, financeira e de ocupação, que não pode fugir à sua responsabilidade, apresentando a guerra do Golfo como pretexto para a inatividade.