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Indonésia ergue muro de US$ 40 bilhões para se salvar das águas

Thomas Latschan (nm)4 de novembro de 2014

Capital Jacarta afunda cerca de 7 centímetros por ano e, para que não seja invadida pelo mar, constrói uma barragem de 35 quilômetros. Obra deve demorar mais de três décadas para ficar pronta.

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Bildergalerie Megacities Jakarta
Foto: Fotolia/aseph

Garuda é uma figura mitológica poderosa, um símbolo do hinduísmo e da Indonésia. Tem origem em um mito indiano, em que a criatura – metade homem, metade águia – rouba um elixir dos deuses que promete a imortalidade.

E é também de "Garuda" que a metrópole Jacarta chama o projeto que tenta assegurar seu próprio futuro: um muro de contenção de 35 quilômetros de extensão ao longo da costa, elaborado ao preço de 40 bilhões de dólares para proteger a capital do aumento do nível do mar.

Metrópole sob o mar

A situação na agitada metrópole é alarmante. Construída sobre um antigo pântano, Jacarta é servida por sistemas de drenagem que, em grande parte, sobraram da época em que a cidade era colônia holandesa, ocupação que durou até a metade do século 20.

Praticamente não há um sistema de eliminação de resíduos em funcionamento, e água limpa é uma demanda constante. Tanta água subterrânea é bombeada para a cidade que o nível do solo afunda cerca de sete centímetros por ano – em alguns distritos o número chega a dobrar. Enquanto isso, as alterações climáticas estão fazendo o nível do mar subir.

“Essa combinação significa que em dez ou 15 anos grande parte da Indonésia estará debaixo d'água”, prevê Victor Coenen, líder da equipe em Jacarta da construtora holandesa Witteveen + Bos, a principal empreiteira responsável pelo projeto. Pelo menos meio milhão de pessoas serão afetadas diretamente pela construção do muro.

Com uma iniciativa conjunta entre os governos indonésio e holandês, um plano de resgate foi formulado – e vai mudar radicalmente toda a costa da cidade. Atrás da "Grande Garuda" serão construídas lagoas, que atuarão como bacias para os 13 rios que deságuam no Mar de Java. Elas ajudarão também a parar a inundação anual de partes da capital durante a estação chuvosa.

Grafik Great Garuda -Staudammprojekt
A barragem Garuda deve ajudar a fornecer água potável aos moradores de JacartaFoto: 'NCICD/design KuiperCompagnons

"Todos esses rios são tão sujos que achamos que deveríamos tentar resolver esse problema ao mesmo tempo", diz Coenen.

Para que as lagoas também não fiquem poluídas, serão construídas estações de tratamento de água e será implantada uma infraestrutura de coleta de lixo. Além disso, a barragem estará equipada com grandes estações de bombeamento, que ajudam a fornecer água potável para os moradores.

Integração com a paisagem urbana

Durante a implementação do projeto, os dois governos vão contar com o conhecimento de várias construtoras holandesas que já têm experiência com projetos semelhantes ao longo da costa da Holanda – embora não em uma escala como esta.

"Vários componentes deste plano já foram implementados em outros lugares do mundo", diz Coenen, referindo-se, por exemplo, ao dique holandês Afsluitdijk, que, com 30 km de comprimento, separa o Rio Issel do Mar do Norte desde os anos de 1930. “O que ainda não foi feito é integrar completamente uma barragem tão gigantesca em uma paisagem urbana. Aí estamos definitivamente entrando em território desconhecido."

Por trás da barragem, em várias ilhas artificiais, será criado um bairro, com moradia para cerca de 300 mil pessoas e 600 mil novos postos de trabalho. Para que isso aconteça, a costa atual terá de ser estendida sete quilômetros sobre o mar.

"Essas habitações são urgentemente necessárias para uma Jacarta em rápida expansão", diz Coenen. "Ao mesmo tempo, o muro deverá estar integrado no novo litoral. A dificuldade está em executá-lo na cidade, o que não é reconhecido facilmente".

O muro “Grande Garuda” é realmente um projeto gigantesco. A construção custará até 40 bilhões de dólares, e a previsão é que leve cerca de 35 anos para ser concluída.

"Vai ser uma das três maiores barragens do mundo", conta Coenen. Ele está confiante de que o lado puramente técnico não vai ser um problema. "Muitas construtoras podem lidar com um projeto como esse. Elas já provaram que podem fazer isso.

Jacarta está correndo contra o tempo, e o engenheiro acredita no sucesso da obra, mesmo que ele não esteja no escritório quando for concluída. "Em 2030, a barragem vai estar de pé, mas só em meados do século todo o projeto estará concluído”, explica.