1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Intelectuais por Gauck

19 de junho de 2010

Em 30 de junho de 2010 a Alemanha escolhe seu novo presidente e, mesmo em clima de Copa, a discussão em torno dos candidatos é acalorada. A intelectualidade do país toma a palavra a favor do oposicionista Joachim Gauck.

https://p.dw.com/p/NxU9
Joachim GauckFoto: DW

Uwe Kolbe, Herbert Grönemeyer, Jürgen Trimborn, Roger Willemsen, Susanne Kippenberger, Klaus Ungerer... a lista é imponente, quase um who is who da atual cena intelectual e literária do país. A duas semanas da escolha do novo presidente da Alemanha, 146 escritores e editores, historiadores, publicistas e cientistas redigiram um apelo em prol do candidato dos social-democratas (SPD) e verdes, Joachim Gauck.

O grupo colocou online um abaixo-assinado (www.wir-fuer-gauck.de), no qual cita a conservadora chanceler federal Angela Merkel como autora do melhor argumento a favor do concorrente da oposição.

Großer Zapfenstreich Köhler
Horst Köhler (2º da esq. para a dir.) renunciou inesperadamente ao cargoFoto: picture-alliance/dpa

Gauck é teólogo, foi ativista pelos direitos civis na Alemanha comunista, e durante anos chefe do órgão encarregado de processar os arquivos da Stasi (antiga polícia secreta da República Democrática Alemã). Os demais candidatos à presidência federal são o governador da Baixa Saxônia, Christian Wullff, pelos conservadores cristãos (CDU/CSU), e Luc Jochimsen, do partido A Esquerda. Também o NPD, de extrema direita, apresenta candidato próprio.

"Historicamente correta, grande valor social"

"Os abaixo assinados estão convencidos de que Joachim Gauck deva ser o futuro presidente federal. Ele possui todos os pré-requisitos para esse cargo. Sua escolha seria uma decisão historicamente correta, de grande valor social", pontifica o conciso texto publicado no Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), um dos mais conceituados jornais alemães, de orientação centro-direita.

Entre os signatários encontra-se o autor Burkhard Spinnen. Para ele, Gauck é o melhor candidato por refletir "a experiência da divisão, a vida na parte mais complicada da Alemanha – durante 40 anos". Além disso, em sua pessoa estariam contidas "as vivências das dificuldades que os alemães têm de se unirem", comentou, em entrevista à Deutsche Welle.

Nas semanas anteriores, outros autores já haviam advogado publicamente a causa de Joachim Gauck. Katja Lange-Müller escreveu no FAZ de 8 de junho: "Com Gauck, os realmente poderosos não teriam mais uma de suas cômodas figuras de papelão e camaradas decorativos, aos quais entregam com prazer o cargo de presidente, para então, ao contrário da mídia, apenas caçoar dele pelas costas".

Autoridade inerente

Screenshot von www. Wir für Gauck Website Flash
Website 'www.wir-fuer-gauck.de'Foto: www.wir-fuer-gauck.de

Desde o início do debate, pouco após a renúncia de Horst Köhler do cargo, o filósofo e escritor Rüdiger Safranski se pronunciara por Gauck. Entre outros motivos, por ele não ser um político de carreira, mas sim alguém que entrou na política movido por outros interesses, vindo de uma área diferente.

Monika Maron, por sua vez, declarou-se francamente indignada, num artigo de 14 de junho, para o semanário Der Spiegel. Para ela, o cargo presidencial é "visto como butim pelos partidos", e o povo é "ludibriado".

Segundo a escritora, "a enorme aceitação de Joachim Gauck" nasceria "da necessidade de um voz clara, não deformada pelo cálculo tático; de uma autoridade que não emane do cargo, mas sim da pessoa, credenciada por sua trajetória de vida e por seus atos".

Resignação ou mudança de paradigma

Tais depoimentos significam que os intelectuais da Alemanha estão conformes e inócuos demais? Burkhard Spinnen não concorda, em absoluto. Para ele, o atual envolvimento significa, antes, uma mudança de paradigma. Pois, durante décadas, a classe intelectual esteve fixada em atuar em campos políticos semelhantes aos dos partidos.

"Sempre houve uma certa conexão, a vanguarda sempre foi meio de esquerda. [Mas] artistas e intelectuais sentiram bem forte que o engajamento partidário, isto é, o apoio a determinados grupos políticos, não mais é o caminho do futuro, em termos de participação política."

Para Spinnen, o clamor por Joachim Gauck é representativo do engajamento social de uma nova geração, menos comprometida com o repetitivo dia-a-dia da política partidária e, portanto, talvez mais capaz de interferir.

Autoria: Jochen Kürten / Augusto Valente
Revisão: Alexandre Schossler