1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Interesse dos EUA na Petrobras iria além da tecnologia

Nádia Pontes24 de setembro de 2013

Para especialistas, vigilância sistemática faz parte da necessidade americana de controlar setor estratégico. Washington estaria de olho em como o Brasil supera principais obstáculos da complicada exploração do pré-sal.

https://p.dw.com/p/19kiv
Foto: picture alliance/AP Photo

Nas últimas semanas, as revelações de que a Agência de Segurança Nacional americana (NSA) espiona sistematicamente a Petrobras abriram uma série de especulações sobre qual seria a real intenção dos Estados Unidos.

A presidente brasileira, Dilma Rousseff, que também foi alvo da NSA, discursa nesta terça-feira (24/09) na Assembleia Geral das Nações Unidas para pedir que ações de vigilância entre países sejam regulamentadas pela ONU. Quando foi divulgada a informação de que os EUA espionaram a Petrobras e a presidente, Dilma disse em nota que, se fossem confirmadas as informações divulgadas pela imprensa, o motivo "das tentativas de violação e de espionagem" seriam "interesses econômicos e estratégicos."

Para especialistas ouvidos pela DW, por trás da vigilância contínua estaria não uma busca direta por tecnologia, mas um interesse em monitorar o setor petrolífero brasileiro e uma necessidade de controlar.

Segundo os arquivos obtidos pelo ex-consultor da NSA, Edward Snowden (que denunciou o esquema de espionagem da agência), e repassados à imprensa brasileira, os EUA recebem a cada três dias um boletim sobre a Petrobras – seja através de relatórios da embaixada em Brasília, seja a partir de dados obtidos diretamente do sistema da petrolífera. O fluxo teria se intensificado em 2007, com a descoberta do petróleo na camada do pré-sal.

"Eles querem controlar tudo. Existe uma parte do governo americano que quer manter o controle. Simplesmente", opina o suíço Gregor Erbeli, pesquisador da Universidade de Miami que trabalha há dez anos ajudando a treinar funcionários da Petrobras. "Mas não sei se alguma empresa americana teve o privilégio de ver essas informações."

Domínio da tecnologia

O pré-sal fez do Brasil a descoberta "mais quente" do setor dos últimos dez anos aos olhos estrangeiros, diz Eberli. Antes da identificação da reserva, dados apontavam que o país tinha entre oito e 14 bilhões de barris de petróleo conhecidos. A partir de 2007, as estimativas passaram a ser de 80 bilhões de barris. Só o campo de Libra teria 13 bilhões, de acordo com Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe (instituto de pesquisa de engenharia da UFRJ). E tirar o petróleo estocado a 7 mil metros de profundidade exige domínio tecnológico – e o custo é alto.

"A Petrobras pode ter tecnologias que as companhias americanas não têm, e isso pode ser uma razão para espionar, mas não acredito que seja o foco principal do governo americano", afirma James Natland, especialista em geologia marinha da Universidade de Miami. "O setor energético tem, sim, uma coisa que interessaria muito aos americanos: petróleo, muito petróleo."

Desde a descoberta do campo do pré-sal, empresas americanas, como ExxonMobil e Chevron, reforçaram a presença em território brasileiro. Mas a Petrobras conhece como nenhuma outra a área geológica brasileira. Com base nessa informação, a empresa define prioridades no leilões.

Brasilien Wirtschaft Öl Petrobras Maria das Gracas Foster
Graça Foster: promessa de investir bilhões em segurança da informação na PetrobrasFoto: dapd

No caso do campo de Libra, o maior do pré-sal, a presidente da Petrobras, Graça Foster, garantiu em audiência no Senado realizada na semana passada (18/09) que nenhuma empresa está tão bem preparada para explorar a região. Foi a estatal brasileira que definiu a locação, perfurou e descobriu e, portanto, tem os dados e a infraestrutura. A ExxonMobil, por exemplo, optou por ficar de fora do leilão.

Luiz Pinguelli Rosa concorda com Foster. "A Petrobras deve ter uma estratégia baseada em tecnologias que se pode usar na água profunda. E os americanos podem ter interesse em ver como ela usa a tecnologia, [e] qual estratégia [a empresa utiliza] em função da geologia brasileira", assinala.

Procurados pela reportagem da DW Brasil, a Petrobras e governo brasileiro preferiram não se manifestar sobre o tema.

Defesa exposta

Na visão de Pinguelli, um dos maiores especialistas energia no Brasil, o caso de espionagem expôs a fragilidade do sistema de defesa brasileiro. "O Brasil é um país indefeso. Não tem sequer um sistema de controle das informações do governo, uma criptografia no uso dos computadores de elevado nível. Isso deve mudar um pouco, acho que aí deve haver mudança."

A espionagem poderia já estar prejudicando o país. "O Brasil tem dificuldades em importar alguns equipamentos controlados pelo governo americano, como é o caso da energia nuclear. Há muita dificuldade de importação de equipamentos voltados para o enriquecimento do urânio. Acho que já deve haver prejuizos desse tipo", opina Pinguelli.

Também durante a audiência no Senado, Graça Foster anunciou que a Petrobras investirá 4 bilhões de reais em 2013 e 21,2 bilhões no período de 2013 a 2017 em tecnologia da informação e telecomunicações. "Temos a cultura da segurança da informação", afirmou.