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Irlanda mostra a verdadeira Alemanha

Márcio Weichert6 de junho de 2002

Empate de última hora desmascara ilusão da goleada recorde contra Arábia Saudita.

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Devagar com o andor que o santo é de barro, avisei após os 8 a 0 da Alemanha em sua estréia na Copa do Mundo. A vitória soberana aliviou os alemães do medo de dar vexame, mas a goleada criou otimismo e autoconfiança exagerados na equipe de Rudi Völler. Jogadores, comissão técnica e até mesmo os torcedores aqui na distante Alemanha estavam certos da classificação antecipada nesta quarta-feira.

Mas, contra a forte, mas não extraordinária Irlanda, que – não nos esqueçamos – roubou a vaga da Holanda na Copa do Mundo, a Alemanha mostrou suas fraquezas. Se com os titulares Novotny e Wörns, que com lesões de última hora em seus joelhos não foram à Copa, a defesa já não era muito estável, o que dizer da dupla Linke-Metzelder, comandada por um limitado jogador de meio-campo (Ramelow), jogando recuado como líbero?

Sem os criativos Deisler e Scholl – que igualmente ficaram na Alemanha, contundidos –, Ballack tem de carregar na Copa a responsabilidade de organizar os ataques no meio-campo. Sofrendo com problemas no pé, o jovem está no sacrifício. Além disto, não tem o mesmo nível dos dois que ficaram na Alemanha, apesar de a imprensa alemã o endeusar. A sobrecarga física e psicológica é demais.

No ataque, Klose mostrou mais uma vez ser o melhor centroavante alemão da atualidade. Oportunista, fez seu quarto gol no mundial, mas também colaborou com o ritmo passivo do time, após o 1 a 0. Já fez sua mea culpa. A seu lado, Jancker mostrou novamente cumprir mais um papel tático de atrair marcação, do que capacidade de levar perigo direto à meta adversária e, de preferência, marcar gols. Ao substituí-lo no segundo tempo por Bierhoff, o artilheiro-sem-gols do Mônaco, o técnico Rudi Völler confirmou seu viés conservador, depositando esperanças no herói da Eurocopa de 1996, em vez de optar pelo rápido Neuville, que poderia ter dado velocidade aos contra-ataques alemães num momento em que os irlandeses dominavam o jogo.

Fora isto, a Alemanha desta quarta-feira evidenciou algo que é marca da atual seleção nacional. Faltou amor à camisa. De todos, mais uma vez salvou-se apenas o competente goleiro Kahn. Não fosse ele, a Irlanda teria sido tão bem sucedida quanto o País de Gales, adversário com que a Alemanha ensaiou, na fase preparatória, para o jogo desta quarta-feira. Para quem não sabe, os galeses venceram por 1 a 0.

E, como disse Kahn antes de dormir na quarta-feira, a Alemanha vê-se agora já na fase do tudo ou nada, uma rodada antes das oitavas-de-final. A solução é ressuscitar o espírito que os salvou de pagar o mico de não se classificarem para a Copa. Na repescagem, com muita garra – mas também com titulares que faltam no Japão –, a Alemanha, liderada por Ballack, precisou de 15 minutos para surrar a Ucrânia e carimbar o passaporte. Precisa refazer a lição contra Camarões.