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Transição no Eliseu

15 de maio de 2007

Depois de mais de quatro décadas de política, a carreira de Chirac chega ao fim nesta semana com a posse de Nicolas Sarkozy. O presidente neogaullista deixa o Palácio do Eliseu com nota baixa dos franceses.

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Jacques Chirac: muitos feitos, pouco conteúdoFoto: AP

Em pesquisa divulgada na semana passada, 40% dos franceses consideraram o governo de Chirac como "ruim" e 14% o consideraram como "muito ruim"; 42% dos entrevistados lhe deram a nota "bom" e somente 3% dos franceses consideraram os seus 12 anos no Palácio do Eliseu como "muito bons".

Entre os entrevistados, um dos principais acontecimentos de seu governo foi sua resistência à guerra no Iraque. De sua era, no entanto, ficaram na memória dos entrevistados pelo Insituto BVA sobretudo crises: a passagem de Jean-Marie Le Pen para o segundo turno das eleições presidenciais de 2002, a violência nas periferias de Paris, em 2005, e os protestos trabalhistas no começo de 2006.

Aos 74 anos, o conservador Jacques Chirac entrega, nesta quarta-feira (16/05), a presidência francesa ao também conservador Nicolas Sarkozy, eleito na semana passada. De todos os presidentes da 5ª República Francesa, constituída em 1958, somente François Mitterrand ficou mais tempo no poder.

Da elite ao Eliseu

Bildgalerie Frankreich Wahlen Jacques Chirac
Chirac freqüentou escolas de eliteFoto: picture-alliance/dpa

Jacques Chirac nasceu em 29 de novembro de 1932, em Paris, onde freqüentou as universidades de elite Sciences Po e Escola Nacional de Administração (ENA). Já em 1967, tornou-se vice-ministro para Questões Sociais no governo de George Pompidou, então primeiro-ministro. Seguiram-se postos como ministro, prefeito de Paris e, por dois curtos períodos (1974-76 e 1986-88), como primeiro-ministro. Após três tentativas, Chirac foi eleito presidente em 1995.

O anúncio de que não mais se candidataria à presidência francesa, em março de 2007, somente marcou o fim de sua carreira, que já se anunciava depois do 'não' francês à Constituição européia em 2005.

O fato de não ter renunciado após o fracasso constitucional é considerado por muitos como falta de grandeza e como forma de colocar seus interesses pessoais acima dos da nação. No entanto, não é sem convicções morais que Chirac encerra sua carreira política.

Herança política

Jacques Chirac in Berlin
Importância da Europa e das relações com a AlemanhaFoto: AP

Um de seus maiores méritos foi o reconhecimento da culpa francesa pela perseguição aos judeus durante o governo de Vichy. Além disso, ele combateu energicamente o radicalismo de direita da Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen. "Não suporto nenhum racismo ou xenofobia", declarou no livro de entrevistas O desconhecido do Eliseu. Na política externa, Chirac assimilou, com o tempo, a imagem do europeu racional.

Apesar de defender obstinadamente os interesses franceses em Bruxelas, Chirac reconheceu a importância da Europa e das relações franco-germânicas. Como porta-voz dos opositores à guerra do Iraque, o político francês conseguiu grande popularidade entre 2002 e 2003.

Quanto à política interna, os franceses, no entanto, aprenderam com o tempo a não levar a sério as promessas eleitorais de Jacques Chirac. Como prefeito de Paris, em 1978, prometeu despoluir o Sena em dez anos. Vivendo feudalmente do dinheiro dos contribuintes, Chirac preparou, a partir da prefeitura parisiense, sua vitória sobre François Mitterand.

Cavaleiro do oportunismo

Chirac entra para história como herdeiro de uma casta de políticos que não se intimida em usar dinheiro público para o financiamento do partido. A lista de seus sucessos é longa, mas o conteúdo é escasso, reclamam os críticos.

Seu apelido de "biruta" não veio à toa. Como nenhum outro, Chirac desenvolveu a capacidade de mudar sua direção política. "Ele é um cavaleiro do oportunismo", declarou o antigo primeiro-ministro Raymond Barre na TV.

Foi o próprio Chirac que, em conversa com o escritor francês Franz-Olivier Gisbert em 1995, previu o clima de final de governo: "Quando, em nossa democracia, se fica muito tempo no poder, termina-se sempre com um grande chute no traseiro, sem falar de todos os ataques que se tem de agüentar". (ca)