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Japão busca alternativas à energia nuclear

10 de março de 2012

Apenas três das 54 usinas nucleares japonesas estão ativas, um ano após acidente de Fukushima. Terceira maior economia do mundo busca com afinco tanto novas fontes de energia quanto maneiras de reduzir o consumo.

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Foto: picture alliance/dpa

Um ano após o desastre em Fukushima, o Japão continua funcionando, surpreendentemente, sem uma boa parte de sua energia nuclear. Por medo de um apagão, durante anos era impensável que a terceira maior economia do mundo pudesse sobreviver sem essa fonte. Agora, estão ativas apenas três das 54 usinas nucleares que, até a catástrofe de 2011, cobriam 30% da demanda energética do país, porém seu funcionamento será encerrado em abril.

Ainda não se chegou a um consenso sobre uma estratégia energética para o futuro do Japão; governo, sociedade e o lobby nuclear ainda procuram o caminho a seguir. Somente em meados do ano, o parlamento japonês decidirá se o país de fato abandonará a energia nuclear, e, em caso afirmativo, até quando isso deve acontecer.

O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, é a favor uma redução a longo prazo da dependência da energia nuclear e da utilização de fontes renováveis. Mas, ao contrário de seu antecessor, Naoto Kann, Noda não quer se comprometer com um abandono total de tal fonte energética. Segundo o premiê, o Japão seguirá dependente dela, até pelo menos 2030.

Atualmente, as companhias de energia compensam a falta da nuclear principalmente com usinas termoelétricas à base de carvão – que têm um preço alto para empresas, clientes e a natureza. Devido à queima adicional de carvãoe petróleo – importados a preço alto –, o Japão dificilmente alcançará os objetivos acordados no Protocolo de Kyoto.

Novas fontes

Também ainda não se sabe exatamente quais fontes energéticas renováveis deverão ser expandidas no Japão, no futuro. Nas imediações de Fukushima, há planos de construir um enorme parque eólico. No geral, porém, não se acredita que a energia eólica tenha no país um potencial como o dos Estados Unidos ou da Europa. A costa japonesa é, em grande parte, íngreme, as direções do vento mudam com frequência. Além disso há numerosos tufões todo ano.

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O premiê Yoshihiko Noda não quer se comprometer com um abandono total da energia nuclearFoto: Reuters

Na "Terra do Sol Nascente", o entusiasmo por sistemas de energia solar também é moderado, por serem considerados caros demais e relativamente ineficientes.

Especialistas veem um potencial muito maior na energia geotérmica. O Japão se estende ao longo do chamado "Círculo de Fogo do Pacífico". Por essa particularidade geológica, o dia-a-dia japonês não é marcado apenas por terremotos e vulcões. Há fontes de água quente em por todo o país, que servem não apenas para um banho termal relaxante, mas também para usinas geotérmicas. Até agora, porém, tal potencial foi utilizado de forma restrita, pois as fontes estão muitas vezes em áreas de proteção ambiental e porque, até então, a energia nuclear era muito mais barata.

Paralelamente à exploração de fontes de energia alternativas, o consumo de energia deve ser reduzido significativamente. Isso exige, porém, uma mudança de mentalidade da população japonesa, a qual, acostumada com a energia nuclear barata, é uma grande consumidora de energia.

É certo que o assim chamado "programa coolrunner", do governo, conseguiu tornar os eletrodomésticos do Japão muito mais eficientes do que os estrangeiros. Por outro lado, os japoneses dependem muito mais de aparelhos eletrodomésticos no cotidiano do que os europeus, por exemplo.

Ideias para diminuir o consumo

O verdadeiro teste para o abastecimento de energia é no calor do verão, quando empresas e domicílios ligam seus ares condicionados. Os defensores da energia nuclear sempre utilizaram os picos de consumo para justificar a construção de novas usinas.

Japan Erdbeben und Tsunami Fukushima Der beschädigte Reaktor 4 Kernkraftwerk Daiichi
Após danos em reatores, Japão busca saída para dependência da energia nuclear e de combustíveis fósseisFoto: dapd

Para abaixar os picos em dias úteis, utilizam-se métodos simples, porém efetivos. Órgãos públicos e empresas adotam uma iluminação mais fraca, e grandes companhias, como a Toyota, colocam seus funcionários para trabalhar no fim de semana, dando-lhes dois dias de folga durante a semana.

Até mesmo uma flexibilização do código de vestimenta diminui o consumo de energia significativamente. Foi o que mostrou a campanha Cool Biz, colocada em prática pelo Ministério do Meio Ambiente japonês em 2005. Nos meses de calor intenso do verão, os escritórios são mantidos apenas a uma temperatura de 28°C. Em compensação, os funcionários não precisam – e não devem – comparecer vestidos de terno e gravata ou tailleur, e sim com roupas mais leves.

Há, portanto, tanto potencial para reduzir o consumo como fontes de energia alternativas, mas a sua utilização é apenas um elemento da futura estratégia energética do Japão. O país de recursos escassos não quer e não pode se permitir – em termos financeiros, ambientais e estratégicos – voltar a ser basicamente dependente de combustíveis fósseis como carvão e petróleo.

Os japoneses terão que continuar apostando na energia nuclear. E isso que torna mais importante do que nunca a fiscalização rigorosa das centrais atômicas; e a dissolução dos fatídicos laços entre o lobby nuclear e a política.

Autor: Alexander Freund (lpf)
Revisão: Augusto Valente