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Kurt Masur despede-se da Filarmônica de Nova York

(sv)18 de julho de 2002

Regente comemora seus 75 anos com o concerto de despedida no Avery Fischer Hall, levando ao público norte-americano o “Réquiem”, de Brahms, em sua última apresentação à frente da Orquestra Filarmônica da cidade.

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Foto: AP

O concerto, que será transmitido por rádio e TV para todo o país, sela o fim da era Kurt Masur. Depois de ter seu contrato rescindido, o maestro, embora contra sua vontade, deixa a Filarmônica de Nova York para dividir seu tempo como diretor musical da Orchestre National de France, em Paris, e a função de diretor da Orquestra Filarmônica de Londres, posto assumido pelo regente em 2000.

Conhecido pelo rigor técnico, Masur foi chamado a Nova York em 1990, após 26 anos na posição de maestro titular da Orquestra Gewandhaus de Leipzig. Pouco antes, havia sido considerado o "salvador de Leipzig", na Alemanha, onde desempenhou um papel chave no processo da reunificação alemã.

Herói -

Embora o próprio Masur não goste que sua intervenção na mudança de sistema da ex-Alemanha Oriental seja destacada pela imprensa, é inegável que seu nome tornou-se um capítulo à parte na história da reunificação do país. Foi sua voz que conseguiu acalmar os ânimos na tarde do dia 9 de outubro de 1989, em Leipzig, evitando assim um massacre semelhante ao ocorrido pouco antes na Praça da Paz Celestial, em Pequim.

"Nós pedimos prudência para que possa ser travado um diálogo pacífico", soou a gravação em voz clara e firme do regente em praça pública, onde cerca de 70 mil manifestantes aglomeravam-se. Dispostos a lutar pela democracia usando a força, eles poderiam ter sido derrotados pelas forças policiais e do Exército, acionadas pelo Estado às beiras do colapso e já a postos para o confronto. Elevado pela mídia e pela opinião popular à categoria de herói, o nome de Masur foi até mesmo cogitado para a função de novo presidente da Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim. Fiel à música, o maestro recusou qualquer cargo político.

"Prêmio" -

Seus críticos viram sua ida para os EUA, no entanto, como um "prêmio dos americanos" pela intervenção política de Masur na transição do regime na Alemanha Oriental. Sucessor de Bernstein, Boulez e Mehta à frente da Filarmônica, o regente alemão provou ser capaz de reaver a coesão da orquestra e ao mesmo tempo burilar o trabalho individual de cada músico. "Masur conquistou Nova York", estampou a imprensa após as primeiras apresentações do regente à frente da Filarmônica.

Defensor da tradição e do movimento, Masur efetuou mais de 100 gravações em sua carreira, entre elas as sinfonias completas de Beethoven, Brahms, Bruckner, Mendelssohn, Schumann e Tchaikovsky. Pouco depois do 11 de setembro, o regente levou ao público de Nova York uma emocionante interpretação do Réquiem de Brahms, assistida por centenas de pessoas que acompanhavam o concerto pelo telão instalado em frente ao Lincoln Center.

Inovação -

O argumento usado para afastar Masur da direção da Filarmônica de Nova York foi a necessidade de inovar. Procurava-se um regente mais jovem, menos rígido e mais aberto ao experimental. Durante os dois anos da temporada 2001/2002, quando ficou conhecido que o contrato de Masur não seria renovado, o conselho da Filarmônica rastreou os possíveis nomes que poderiam vir a substituir o mestre alemão.

No final, o escolhido foi o nada jovem Lorin Maazel, de 72 anos, tão conhecido quanto Masur pelo amor ao rigor e à tradição. Amarga decepção para o maestro que via os resultados do trabalho conjunto em Nova York como "uma espécie de perfeição. Nós temos aqui realmente uma fantástica identificação da orquestra com as minhas idéias e a minha identificação com a maestria da orquestra", afirmou Masur em despedida.