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"Libération" supera crise entre investidores e jornalistas

(sm)9 de janeiro de 2007

Após perdão parcial de dívidas e concessões por parte dos funcionários, o jornal francês 'Libération' recebe novos investimentos e supera ameaça de falência. Mas o que ainda resta, na verdade, do legendário 'Libé'?

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'Libération': 135 mil exemplares vendidos diariamenteFoto: picture-alliance / dpa

O jornal francês Libération encontrou uma solução para a crise dos últimos dois anos. Um consenso entre investidores e funcionários possibilitou salvar o diário fundado pelo filósofo Jean Paul Sartre, em 1973, como porta-voz das denúncias, reivindicações e reflexões do movimento de 68.

De Mao a Rothschild

A tendência maoísta que marcou as origens do "Libé" se atenuou ao longo dos anos, mas – com seu enfoque liberal de esquerda – o diário conseguiu se estabelecer como um dos principais jornais nacionais franceses, ao lado do Le Monde e do Le Figaro. A contínua diminuição de anúncios e assinantes ao longo da última década e o recuo dos principais investidores em 2004 e 2005 levou o Libération à beira da falência.

A salvação veio no início de 2005, quando o empresário Edouard de Rothschild adquiriu 37% das ações do jornal, com a intenção explícita de criar um grupo de mídia com potencial crítico e com a promessa de não interferir no conteúdo veiculado.

Nos últimos dois anos, a situação se acirrou, no entanto, pois o plano de saneamento proposto pelo principal acionista Rothschild, que implicava demissões e reformulações internas, não foi aceito pelos funcionários, que até então tinham direito de vetar as decisões empresariais. A situação culminou no ano passado, com a ameaça de Rothschild desistir de investir no jornal caso seus planos não fossem aprovados.

Investidores derrubam direito participativo

Um consenso foi selado no ínicio deste ano, sob a chefia de Laurent Joffrin, que deixou a revista Nouvel Observateur para retornar ao órgão de imprensa no qual começou sua carreira de jornalista. Após diversos bancos credores e a gráfica terem perdoado parte das dívidas e o Estado ter parcelado em dez anos o que o jornal lhe deve, os funcionários cederam e abdicaram do que singularizava o Libé: o estatuto de redação, que tornava decisões administrativas dependentes da aprovação dos jornalistas.

Após conseguir o que queria, Rothschild anunciou investimentos de seis milhões de euros e o nome de outros investidores dispostos a apoiar o Libération. Trata-se de Carlo Caracciolo, co-fundador do diário italiano La Repubblica, decidido a adquirir ações por cinco milhões de euros. O grupo de cinema Pathé e o jornal belga La Libre Belgique, com o qual o Libération pretende iniciar uma parceria em questões técnicas, também vão adquirir participações. Entre os investidores também estão personalidades francesas, como Pierre Bergé, manager que dirigiu as óperas de Paris entre 1988 e 1994, e o filósofo e escritor Bernard-Henri Lévy.

Com este passo, o Libération escapou da crise. Resta saber como isso se refletirá na cobertura jornalística do diário, que nos últimos anos já vinha perdendo os leitores fiéis às suas origens esquerdistas. Resta saber, portanto, o que o novo jornal ainda terá em comum com o legendário Libé.