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Entrevista

Pablo Kummetz (ca)8 de setembro de 2007

Em tempos de interdependência econômica mundial, auto-organização da sociedade civil e "frustração partidária", DW-WORLD.DE falou com especialista do Partido Liberal sobre o desenvolvimento do cenário partidário alemão.

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Para especialista, todo tipo de coalizão deve ser possívelFoto: dpa
Deutschland Friedrich-Naumann-Stiftung Detmar Doering
Detmar Doering, diretor do Instituto LiberalFoto: Friedrich-Naumann-Stiftung

A interdependência econômica mundial, a auto-organização da sociedade civil e a "frustração partidária" colocam à prova o papel dos partidos como protagonistas no sistema político. Que tipos de desenvolvimento se acenam no quadro partidário alemão? Sobre o assunto, DW-WORLD.DE conversou com Detmar Doering, diretor do Instituto Liberal – Instituto da Liberdade da Fundação Friedrich Naumann, considerado a "fábrica de idéias" do Partido Liberal (FDP).

DW-WORLD.DE: Por um lado, a sociedade civil assume tarefas que tradicionalmente pertenciam aos partidos políticos, por outro lado, tais partidos se apresentam impotentes perante tendências globais. Qual o futuro dos partidos políticos na Alemanha?

Detmar Doering: Que a sociedade civil e ou também os partidos políticos sejam realmente impotentes perante tendências globais, é uma posição que, de forma tão pouca diferenciada, não se pode sustentar. Justamente as ONGs dominam hoje a agenda política internacional. Já os partidos políticos atuam somente de forma indireta sobre instituições políticas nacionais.

Não se deve, no entanto, subestimar tal influência. Na Alemanha, por causa dessa implicação institucional, os partidos serão preservados e continuarão a desempenhar um importante papel no nosso Estado. No entanto, se eles quiserem manter um significante papel no reconhecimento dos cidadãos, de onde advém sua legitimidade, terão que modificar seu trabalho e se mostrar mais abertos.

De que forma concretamente?

Por exemplo, através de uma filiação temporária – relacionada a projetos – que vá ao encontro da vontade do “engajamento sem a obrigação de um vínculo duradouro”. Ou através da intensificação do trabalho de comunicação via internet. Igualmente importante é inserir nessa estratégia as redes de apoio aos partidos. Um fator essencial naturalmente são também as “condições externas”, isto é, as regras eleitorais. O experimento norte-americano das reeleições limitadas (term limits) merece, no mínimo, atenção. Assim poderiam ser removidas estruturas antiquadas de pessoal, que desgastam a imagem da política.

O número de filiados dos partidos cai continuamente. Há pouco, por este motivo, pensou-se abertamente em uma nova forma de financiamento partidário. Em um futuro breve, os partidos alemães se formarão somente para as eleições, como é o caso nos Estados Unidos?

Por conta das diferentes posições constitucionais, não se pode comparar o sistema partidário dos EUA com o da Alemanha. Devido à Constituição e às implicações institucionais dos partidos, eles só podem ser pensados, entre nós alemães, como organizações de membros que trabalham continuamente.

Os jovens, que se voltam cada vez mais para a vida privada, não dão muita importância para partidos políticos. Há anos que se fala em uma "frustração partidária". Ela existe realmente?

Sem dúvidas, o número das pessoas que se organizam politicamente em torno de partidos diminui. A reputação pública partidária caiu visivelmente nos últimos anos. Talvez isto advenha das demais ofertas políticas da "sociedade civil", que concorrem fortificadas e confiáveis, na disputa de cidadãos engajados, com os partidos políticos.

Em uma sociedade pluralista, tal fato é, por si, mais uma prova de maturidade do que uma desonra. A concorrência é boa para os negócios. A conseqüência disto deve ser que os partidos se esforcem por formas mais atraentes de ação.

Posições liberais na economia também são defendidas por conservadores, e social-democratas apelam cada vez mais, na área social, pela responsabilidade individual. Onde ainda há espaço para um partido liberal?

É certamente positivo quando certo consenso liberal pode ser encontrado em todos os partidos. De outra forma, a democracia estaria gravemente ameaçada. Entretanto, isto ainda não é suficiente. No momento, não presenciamos nenhuma rejeição de princípios liberais, mas uma lenta erosão da liberdade.

Apesar de mais necessária do que nunca, a liberalização econômica não mais acontece. O Estado controlador começa a assumir proporções grotescas. Aumenta uma compreensão estatal paternalista querendo direcionar o estilo de vida (política familiar) e formas de comportamento (proibição do fumo).

Internacionalmente, políticas liberais estão em retirada, como mostram as tendências protecionistas da União Européia, o fracasso da Rodada Doha e o retrocesso ideológico em alguns países latino-americanos. Não há dúvidas de que, neste contexto, um partido conseqüente e não somente parcialmente liberal se faz necessário.

Não é nenhum segredo que já há contatos políticos entre conservadores, verdes e liberais. A Alemanha vivenciará, em breve, uma coalizão do tipo Jamaica, cujas cores da bandeira lembram as dos partidos conservador, verde e liberal alemães?

No final, são os eleitores que vão decidir qual constelação é plausível. Teoricamente, coalizões devem ser possíveis entre todos os partidos políticos. Em princípio, existe a tendência de que coalizões de três partidos se desgastem mais freqüentemente em brigas internas que as de dois partidos.

Considerando a dificuldade de reformas, capacidade de ação torna-se um mandamento. Por falar nisto, a participação no poder governamental não é um fim em si mesmo. Somente quando, realmente, maior liberdade para todos os cidadãos se torna possível em uma coalizão, deve-se participar dela.