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Liberdade de imprensa se deteriora na Europa

25 de abril de 2018

Dos cinco países que mais caíram no ranking anual da Repórteres Sem Fronteiras, quatro são europeus. Situação piorou em 42% dos países avaliados. Apesar de registrar morte de um jornalista, Brasil subiu uma posição.

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Jornalistas protestam contra assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia em Malta
Jornalistas protestam contra assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia em MaltaFoto: Reuters/D. Z. Lupi

Em nenhuma outra região do mundo a situação da liberdade de imprensa se deteriorou tanto quanto na Europa no ano passado, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A entidade internacional, que divulgou nesta quarta-feira (25/04) o seu ranking anual da liberdade de imprensa no mundo, afirma que campanhas difamatórias contra jornalistas estão envenenando o clima político na UE.

Segundo a RSF, esse ambiente hostil costuma preparar o terreno para ações violentas ou até repressão estatal contra profissionais da imprensa.

Leia também: Opinião: Malta é um caso para a União Europeia

Quatro dos cinco países que registraram as maiores quedas no ranking da RSF são europeus: os membros da União Europeia (UE) Malta (-18 posições, para o 65º lugar), República Tcheca (-11 posições, 34º lugar) e Eslováquia (-10 posições, 27º lugar); e Sérvia (-10 posições, 76º). Nesses países, políticos do alto escalão chamaram atenção por meio de hostilidades, xingamentos e ações judiciais contra jornalistas.

Também em países muito diferentes, como Estados Unidos (-2 posições, para o 45º lugar no primeiro ano de governo de Donald Trump), Índia (-2, 138º) e Filipinas (-6, 133º), personalidades políticas em níveis elevados caluniaram jornalistas como traidores de forma direcionada. No ranking, 42% dos 180 países avaliados registraram deterioração da situação da liberdade de imprensa em comparação com o ano anterior.

Infográfico com o índice de liberdade 2018 da organização Repórteres sem Fronteiras

"Brincar com fogo"

"Democracias vivem do debate aberto e da crítica. Quem polemiza contra jornalistas incômodos ou os difama, ou questiona a credibilidade dos meios de comunicação de forma generalizada, destrói conscientemente as bases de uma sociedade democrática", disse a porta-voz da sucursal alemã da organização, Katja Gloger, em comunicado.

"Fomentar ódio e desprezo contra jornalistas é brincar com fogo num momento em que forças populistas avançam. Infelizmente, vivenciamos cada vez mais [essa situação] também em países-membros da União Europeia", avaliou.

De acordo com a RSF, programas estatais de difamação de meios de comunicação já não são mais restritos a regimes repressivos como os da Turquia e do Egito, "onde, rotineiramente, governos difamam e perseguem jornalistas críticos como 'traidores' e 'terroristas'", diz texto do órgão divulgado para a imprensa.

"Cada vez mais chefes de Estado e de governo eleitos democraticamente questionam a liberdade de imprensa e, com isso, um dos pilares de qualquer sociedade plural, tratando abertamente a mídia crítica como inimiga, a exemplo da Hungria e da Polônia", continua a explicação.

Em Malta, o assassinato da repórter investigativa e blogueira Daphne Caruana Galizia colocou um foco sombrio sobre a situação da liberdade de imprensa na Europa, diz a RSF. Galizia escrevia sobre a corrupção no governo do país insular do Mediterrâneo e foi morta após a explosão de uma bomba em seu carro no dia 16 de outubro de 2017. Para a associação internacional de jornalistas, Galizia demonstrou a pressão exercida sobre profissionais do setor e como política, justiça e economia estão ligadas em Malta.

A Turquia (queda de duas posições para o 157º lugar) é o país do mundo com mais jornalistas presos. "O estado de direito agora é apenas fachada na Turquia: até sentenças do Tribunal Constitucional favoráveis a jornalistas encarcerados não têm garantia de serem cumpridas", diz a RSF.

A Síria, por sua vez, continua sendo o país mais perigoso do mundo para jornalistas. Em 2017, 13 profissionais foram mortos por motivos diretamente ligados ao exercício do trabalho, e mais de 20 jornalistas estão nas mãos de grupos armados.

Brasil sobe uma posição

Na América Latina, o Brasil subiu uma posição no ranking, passando a ocupar o 102º lugar da lista de 180 países publicada anualmente. Em 2017, o barômetro da liberdade de imprensa da RSF, que contabiliza os profissionais comprovadamente mortos ou presos devido à sua atividade jornalística, denunciou o assassinato do jornalista Luis Gustavo Silva, autor do blog De Olho, em Aquiraz, no Ceará, em junho. Neste ano, o órgão já registrou mais uma morte no país, de Jefferson Pureza, da Rádio Beira Rio FM, em 17 de janeiro. 

A Venezuela (143º lugar, queda de seis posições) foi destacada no relatório da RSF. No país, polícia e serviço secreto "agem de maneira rigorosa contra matérias da imprensa sobre a crise duradoura na economia e na política", diz o comunicado da RSF, que ainda exemplifica a má situação da liberdade de imprensa no país com o "abuso [de jornalistas] durante interrogatórios, destruição do equipamento e deportação de repórteres estrangeiros".

Em Cuba (+1, 172ª posição), "apesar de toda a retórica de abertura, os meios privados de comunicação continuam proibidos pela Constituição e são perseguidos pela polícia e pelo serviço secreto, e jornalistas ou blogueiros continuam sendo presos por algum tempo no país".

A Noruega continua encabeçando a lista de 180 países, seguida de Suécia, Holanda e Finlândia. Assim como em 2017, os últimos lugares do ranking de liberdade de imprensa da RSF ficaram com a Coreia do Norte (180ª posição), Eritreia (179ª) e Turcomenistão (178ª) – "ditaduras que não permitem a publicação de informações independentes pela imprensa", diz o órgão sediado em Paris.

RK/dpa/rsf

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