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"Lobos disfarçados de ovelhinhas"

(sv)20 de setembro de 2004

A metáfora fez parte dos comentários sobre as eleições nos estados de Brandemburgo e Saxônia. A ascensão dos partidos de extrema direita e o balde de água fria levado pelas "facções tradicionais" causam preocupação.

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Extremistas de direita comemoram resultado das eleições na SaxôniaFoto: AP

Os resultados do pleito ocorrido no último domingo (19) são claros: somando-se as abstenções e os votos reunidos pela União Popular Alemã (DVU), Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD) e pelos neocomunistas do PDS, Saxônia e Brandemburgo – dois estados da ex-Alemanha Oriental – deram um claro não à forma de democracia implementada pelos "ocidentais" após a queda do Muro de Berlim, há quase 15 anos.

Xenofobia e "relativismo" histórico

Em Brandemburgo, apesar da perda de votos, a social-democracia do chanceler federal Gerhard Schröder – já acostumada a amargas derrotas nos últimos pleitos estaduais – ainda conseguiu votos suficientes para continuar governando. Para isso, poderá ter que engolir uma coalizão com os neocomunistas do PDS.

Brandemburgo, no entanto, continuará tendo em sua assembléia estadual representantes da DVU, uma facção de extrema direita, que defende em sua plataforma política posições claramente xenófobas e um "relativismo" em relação ao Holocausto.

Grandes cidades salvam social-democratas

Na Saxônia, a situação é tão ou mais grave: os social-democratas (9,8%) por pouco não ficaram atrás dos extremistas de direita do NPD, que celebraram a quatro cantos seus supreendentes 9,2% dos votos. Um partido que, segundo o ministro do Interior, Otto Schily, deveria ser proibido no país.

Sem os eleitores das grandes cidades Dresden e Leipzig, o SPD de Schröder teria acabado o pleito com menos votos que os extremistas de direita. Os democrata-cristãos perderam no Estado a maioria absoluta, estando agora em busca de qualquer coalizão plausível para continuarem governando.

Fantasmas de ontem

Paul Spiegel, presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, afirmou em entrevista ao semanário Der Spiegel que a predileção dos eleitores do Leste alemão por partidos de extrema direita deve ser vista como um perigo: "Certamente nem todos os que votaram no NPD no último domingo são radicais de direita ou anti-semitas. Mas em 1933, nem todos os que ajudaram o partido nazista a subir ao poder eram nazistas. Muitos fizeram isso como forma de protesto – e tiveram que verificar, mais tarde, que contribuíram para algo terrível".

Enquanto a classe política e parte da imprensa tentam empurrar os resultados das eleições apenas para a gaveta do protesto contra as reformas implementadas recentemente no país, a mídia internacional lembra a existência dos fantasmas do passado alemão. "Se os extremistas de direita na França, por exemplo, ultrapassam determinado porcentual com Le Pen, não é a mesmo coisa se isso acontece na Alemanha. O sucesso da direita vai dominar as reportagens sobre as eleições nos jornais europeus. O exterior vai reagir como uma pessoa deve reagir, uma pessoa para a qual não há justificativa nem desculpa capaz de explicar um voto na extrema direita. Vai ficar claro que a lembrança de uma Europa ocupada pela Alemanha está encoberta por um manto muito frágil", observa o historiador Ralph Giordano em entrevista ao Der Spiegel.

Não apenas os jornais estrangeiros, como também os nacionais, comentaram nas edições desta segunda-feira (20) a "ressaca" das eleições em Brandemburgo e na Saxônia. Clique no link abaixo para ler a resenha de imprensa sobre o pleito.