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Lutzenberger: agricultura moderna é um desastre

Marion Andrea Strüssmann4 de fevereiro de 2002

Em palestra proferida no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o ecologista teuto-brasileiro José Lutzenberger destacou os impactos da atual política agrícola sobre o meio ambiente.

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José Lutzenberger considera catastrófica a evolução da agricultura

"A agricultura moderna é um desastre." Com estas palavras, Lutzenberger deu início à sua explanação, acrescentando que a economia agrícola está sendo suplantada pela formação de um governo tecnoditatorial a nível global. O ecologista lembrou que, até o começo do século passado, cerca de 80% da população trabalhava no campo. Com o desenvolvimento industrial, este número foi decaindo progressivamente. Em 1945, após o término da Segunda Guerra Mundial, a cota era de apenas 40%. Hoje, em países modernos como Estados Unidos, Alemanha ou Inglaterra, menos de 2% da população se dedica a atividades agrícolas. A economia mundial vê esta suposta eficiência como um sucesso, afirma o ecologista. A União Européia apóia o uso de máquinas e de tecnologia na agricultura, em detrimento de mão-de-obra, forçando a saída do homem do campo.

Na Alemanha, cerca de meio milhão de agricultores seriam responsáveis pela produção de alimentos para 83 milhões de habitantes do país. Tal evolução, segundo Lutzenberger, é completamente falsa. "Isso é uma ilusão", diz ele. A produção agrícola alemã não atende às necessidades da população do país e sim às vantagens econômicas de mercado. Esta tendência não é exclusiva de países desenvolvidos, podendo ser observada em todo o mundo, garantiu Lutzenberger.

Agricultura caipira

A expressão "camponês" perdeu suas raízes, sendo hoje em dia sinônimo de pessoa atrasada, caipira. Os filhos de colonos brasileiros, afirmou o ecologista, têm vergonha das suas origens. O trabalho agrícola com o intuito de atender às necessidades da população local é considerado uma prática retrógada. Somente os grandes latifundiários estão inseridos na economia.

Enquanto os pequenos agricultores têm de lutar pela própria subsistência, pois não dispõem de capital de giro, os demais recebem apoio do poder político e econômico, com linhas de crédito, vantagens comerciais e outras regalias. A conseqüência é desastrosa para o meio ambiente.

Predomínio de tecnologias duras

Lutzenberger explicou que o camponês utiliza adubo próprio, fabrica as suas ferramentas de trabalho, transporta e ainda faz a distribuição direta dos seus produtos. Este tipo de atuação não é tão vantajosa para o sistema econômico, quanto a praticada por aquele produtor que pede crédito para comprar adubo importado e sementes, possui um esquema especial de distribuição e depende de outras empresas.

"Hoje são as chamadas tecnologias duras que predominam, justamente as que prejudicam o meio ambiente. As tecnologias brandas são combatidas e desmoralizadas", afirmou. A lavoura moderna considera um êxito, por exemplo, a produção de seis mil quilos de milho por hectare, utilizando toda uma "parafernália mecânica", alegando que um produtor comum só consegue produzir 2 mil quilos de milho por hectare com seus recursos.

"Pode até ser verdade, mas o pequeno produtor aproveita o espaço para plantar outros alimentos junto com milho. Esta prática é extremamente ecológica, mas totalmente desconsiderada pela economia moderna, que visa apenas o lucro", concluiu Lutzenberger.