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Músicos no Irã: longe dos palcos, em meio à censura

Bamdad Esmaili (sv)28 de maio de 2013

Severas leis islâmicas, que não permitem aplauso nem dança no palco, e a falta de regulamentação do direito autoral desafiam os músicos no Irã. Muitos emigram, outros atraem hordas de fãs com shows nos países vizinhos.

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Foto: IRNA

As últimas eleições presidenciais no Irã, há quatro anos, e os protestos que se sucederam ainda estão vivos na memória de muita gente. Naquele momento, foram compostas muitas canções sobre o chamado Movimento Verde, então recém-criado. Músicos iranianos de dentro e de fora do país publicavam quase que diariamente novos títulos.

Arya Aramnejad, um músico de Babol, cidade localizada no norte do Irã, era um deles. Sua canção Ali Barkhiz, publicada durante a festa religiosa da Ashura, acabou por se transformar em sua sina. No vídeo da música, ele canta os versos "qual o pecado que o povo cometeu? Só queremos liberdade" e mostra ao mesmo tempo imagens do confronto sangrento entre as milícias do governo e os manifestantes. Nas imagens, o músico pede ao imã Ali, o primeiro imã dos muçulmanos, que "se levante" e faça alguma coisa. Em consequência disso, Aramnejad foi preso várias vezes e sofreu represálias, sendo libertado somente no início de 2013.

Músicos oprimidos

E este não é um caso isolado. Outro músico iraniano que se tornou famoso da noite para o dia é Shahin Najafi. O artista que vive em Colônia, no oeste alemão, causou estardalhaço em 2012 com sua canção Naghi, por ter, na opinião dos religiosos, ofendido o imã de mesmo que nome que o título de sua canção.

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O músico iraniano Shahin Najafi vive na AlemanhaFoto: DW/Ahadi

A acusação desencadeou imediatamente quatro fatwas – a sentença islâmica – emitidas por quatro aiatolás. Foram fatwas que permitem a qualquer muçulmano matar Najafi. Um site xiita na internet chegou até mesmo a oferecer uma recompensa de 100 mil dólares para quem fizesse isso. Najafi foi obrigado a viver alguns meses na clandestinidade, sob proteção policial.

Mesmo antes, quando ainda vivia no Irã, a situação não era fácil, conta Najafi. "Um músico que quer se apresentar no país tem que se comportar como um pedaço de madeira no palco, não podendo se movimentar ao ritmo da música", reclama o artista de 32 anos, que nunca aceitou tal rigidez. Ele se mexe no palco como os artistas ocidentais. "Por que músicos como Bob Dylan ou Metallica podem desfrutar à vontade de suas aparições no palco e nós não?", questiona Najafi.

Por não se submeter a tais exigências, Najafi teve um de seus shows organizados ilegalmente, em setembro de 20014, invadido por milícias do governo. O artista foi processado, mas conseguiu pouco antes do início do julgamento fugir para a Turquia. Há oito anos, ele pediu asilo político na Alemanha.

Poucos profissionais legais

Mas nem todos os músicos têm destinos semelhantes. Os profissionais "legais" têm maiores facilidades. Eles interpretam na maioria dos casos canções tradicionais e recebem permissão para a produção de álbuns, desde que nem música nem letra destoem das preferências do Ministério Ershad de Cultura e Liderança Islâmica.

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Músicos tradicionais têm facilidades no paísFoto: MEHR

No caso de músicos pop, a situação é um pouco diferente, pois eles geralmente trabalham com muitos elementos ocidentais, mantendo-se por isso na mira do governo. As letras não podem ser críticas ao islã ou ao regime e as canções não podem soar de maneira geral "modernas demais" ou ocidentais.

Nos shows não se pode dançar nem aplaudir. É por isso que muitos músicos no Irã preferem trabalhar na ilegalidade, publicando seus trabalhos sem permissão oficial. Alireza Bolouri, por exemplo, encara esse jogo de gato e rato com as autoridades há mais de dez anos. "Embora a gente se mova no âmbito legal de um país islâmico, muitos músicos entre nós não podem fazer shows públicos", lamenta Bolouri, que vive em Teerã e tem 37 anos. Isso faz com que ele, em vez de se apresentar nos palcos do país, acabe tocando em casamentos ou festas de empresas, a fim de garantir a sobrevivência.

Shows fora do país unem fãs e artistas

No decorrer dos últimos anos, foi sendo criado fora do Irã um mercado enorme de produção de álbuns e vídeos de artistas do país. Os músicos que mantêm alguma ligação com países ocidentais acabam se apresentando cada vez mais na Europa ou nos EUA. É o caso de Bolouri, que em março de 2013, por ocasião da celebração do ano novo persa, fez seu primeiro show na Europa em Bonn, no oeste alemão.

Além disso, iranianos no exílio organizam, há vários anos e cada vez mais, shows para seus conterrâneos abastados. Estas apresentações não são realizadas dentro do país, mas nas nações vizinhas. Há algum tempo, por exemplo, são realizados eventos em Dubai, na Turquia, ou mesmo na parte curda do Iraque, shows com estrelas pop iranianas como Googoosh, Ebi ou Daryush. Hordas de fãs cruzam as fronteiras iranianas para assistir a tais shows e ver seus ídolos de perto.

Falta de legislação para direitos autorais: grande problema

Mas os músicos iranianos têm também que enfrentar outro problema: as cópias piratas. No país, não há qualquer lei que regulamente o direito autoral. Sendo assim, as canções vão sendo disseminadas sem qualquer empecilho pela internet, o que gera sérias dificuldades financeiras para os profissionais da área, como observa Siamak Khahani, violinista da banda pop iraniana Arian.

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Cópias piratas são populares como em quase nenhum outro lugar do mundoFoto: Mehr

"Antigamente não se percebia muito isso porque quebrávamos recordes de vendas com nossos álbuns", lembra-se Khahani, "mas esses tempos já se foram. Embora a banda seja a mesma e a música que fazemos também", lamenta.

Siamak Khahani espera que o país implemente em breve uma nova lei de direito autoral, que permita aos músicos viverem da arte que produzem. "Todos nós temos outros empregos. Só podemos praticar a música como hobby", finaliza.