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Esculturas

Carlos Albuquerque6 de julho de 2007

Em sua quarta edição, a exposição de esculturas urbanas de Münster, que se repete a cada dez anos paralelamente à "documenta", denuncia a impossibilidade do diálogo entre a arte e o espaço público.

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Trabalho do alemão Andreas Siekmann questiona a privatização do espaço públicoFoto: CASH-can.de

Quando foi instituída, em 1977, a exposição Projetos de Escultura de Münster tentava responder à pergunta sobre qual tipo de arte urbana era possível em tempos em que o monumento estava superado. Criou-se então o termo "arte no espaço público", afirma Barbara Hein, autora da revista art.

Apesar de contar, no início, com pouco apoio popular, a ressonância na imprensa especializada foi muito positiva e estimulou os curadores Kasper König e Klaus Bussmann a continuarem a experiência. Dez anos mais tarde, seu orçamento quintuplicava para 1,5 milhão de marcos e a mostra contava com a participação de renomados artistas internacionais, como Richard Serra e Keith Haring.

Em 1997, os Projetos de Escultura de Münster contavam não somente com o reconhecimento internacional, mas também com a aprovação eufórica dos Münsteraner, nome dado aos habitantes da cidade, e chegavam mesmo a competir com a documenta, como demonstra a edição do diário Süddeutsche Zeitung da época, o qual noticiou: "Os Projetos de Escultura de Münster roubam, com graça e fantasia, a cena da documenta".




























Com um orçamento de 5,25 milhões de euros e com bem menos artistas que em 1997 (em vez dos 74 de dez anos atrás, a mostra convidou somente 35 em 2007), Münster tenta, neste ano, responder à difícil questão de qual tipo de arte é possível em um espaço público em vias de desaparecimento.

Como afirma Niklas Maak, do diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, o espaço público se modificou desde 1977. Atualmente, segundo Maak, os impulsos mais interessantes vêm da arquitetura e a tarefa atual dos Projetos de Escultura de Münster seria reanimar o palco urbano paralisado, atribuindo-lhe novas possibilidades de ação.

No entanto, o que se vê em 2007 em Münster é justamente o contrário. As melhores obras ali presentes não podem ser comparadas a maratonas, como a que aconteceu no último domingo (01/07) na cidade e que também têm por objetivo reanimar o paralisado palco urbano.

Da mesma forma, o visitante logo nota que muitas obras se tornam banais por tentarem repetir a sintonia com o espaço urbano, proposta por esculturas como o Buda assistindo televisão, que Nam Jume Paik, anos atrás, colocou em um recanto do Aa, rio que corta a cidade.

Força crítica

A força da exposição deste ano se encontra, principalmente, em trabalhos denunciadores como o da artista francesa residente no Rio de Janeiro, Dominique Gonzalez-Foerster, que mostra em Romance de Münster, com a reprodução em escala 1:4 de esculturas de exposições passadas, que uma das poucas possibilidades de diálogo com um espaço público cada vez mais inexistente é através da memória, do imaginário e da auto-referenciação.

Esta crítica fica ainda mais clara no trabalho de Andreas Siekmann O Espaço público na era de sua privatização, no qual o alemão compactou estátuas e bonecos, considerados símbolos do "urbano", como os ursos de Berlim, em uma esfera junto à prensa compactadora.

A "venda" do espaço público é contada em uma série de pictogramas impressos sobre os objetos da esfera, na prensa e nos muros do Erbdrostenhof, edifício barroco onde está localizado o trabalho de Siekmann.

Corpo urbano debilitado

A impossibilidade de comunicação com um corpo urbano debilitado também pode ser vista no trabalho da alemã Annette Wehrmann Aaspa – Bem-estar no lago. Simulando a construção de um spa na beira do lago Aa, Wehrmann instala um canteiro de obras que impede os Münsteraner de contornarem uma de suas principais áreas de lazer. Através de sua obstrução, Wehrmann pontua, assim, o espaço público.

Da mesma forma, o visitante que descer a Square Depression, pirâmide invertida do americano Bruce Nauman instalada em frente ao Instituto de Física Nuclear, sentirá a imanência de observar a cidade somente através de um distante horizonte.

A crítica continua em O Sítio arqueológico, torre de igreja enterrada do belga Guillaume Bijl, ou no filme Münster Lands, da francesa Valéry Jouve. Projetado em uma passagem subterrânea, o filme mostra aos habitantes de Münster os caminhos para chegar à sua própria cidade.

"Sorria até passar a tempestade"

Os trabalhos mais contundentes da atual mostra de Münster assumem um caráter crítico e denunciador. Alguns outros, no entanto, resolvem seguir o caminho do belo, como que aceitando o conselho do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard: "Sorria até passar a tempestade".

Este é o caso das placas de concreto de Martin Boyce, dos banheiros reformados de Hans-Peter Feldmann e, de uma certa forma, do curral multimidiático do americano Michael Kelley.

Ironicamente, a exposição de esculturas de Münster de 2007 aponta, como forma de saída da atual crise do espaço público, para aquilo que a mostra mais criticava há 30 anos: o embelezamento do corpo urbano.