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Guerra midiática

Sonia Phalnikar (gh)5 de agosto de 2007

O Talibã trava uma 'guerra midiática' contra o Ocidente, diz o governo alemão. Em entrevista à DW-WORLD.DE, o diretor do Instituto Digital Alemão, Jo Groebel, analisa a manipulação da mídia pelos terroristas.

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Combatentes do Talibã descobrem a mídia como principal armaFoto: picture-alliance/dpa

O governo alemão mostrou-se indignado, nos últimos dias, com o que chamou de "propaganda perversa" do Talibã e acusou o grupo terrorista islâmico de travar uma "guerra midiática" contra o mundo ocidental. A condenação ocorreu depois que os talibãs difundiram a informação incorreta de que teriam executado os dois reféns alemães no Afeganistão.

De fato, um dos engenheiros alemães seqüestrados há duas semanas foi assassinado, como confirmou o resultado da autópsia, na última quinta-feira (veja link abaixo); o outro continua em poder dos seqüestradores. Como condição principal para libertá-lo, o Talibã exige que a Alemanha retire seus 3 mil soldados do Afeganistão.

DW-WORLD.DE falou com Jo Groebel, diretor do Instituto Digital Alemão, em Berlim, e ex-diretor do Instituto Europeu de Mídia, sobre o que os meios de comunicação precisam fazer para serem mais prudentes quando noticiam sobre terrorismo.

DW-WORLD: O governo alemão falou há pouco que o Talibã trava uma guerra de propaganda. O senhor concorda com isso?

Jo Groebel: Concordo plenamente que o terrorismo, em particular o terrorismo talibã, realmente se serve da mídia e da propaganda. Penso que é obvio que as vítimas dos seqüestros ou assassinatos não são o objetivo real. O objetivo real é criar notícias, fazer com que haja cobertura desses assassinatos e desencadear pânico ao redor do mundo. As vítimas são usadas principalmente para essa meta. O terrorismo moderno é, quase que por definição, tudo o que gera medo e pânico e, em particular, serve para demonstrar poder e controle em todo o mundo. E isso certamente é o caso do Talibã.

O que o senhor acredita que os talibãs querem conseguir ao tentar prender a atenção da mídia e do noticiário?

Por um lado, o Talibã quer consolidar sua própria infra-estrutura, sua filosofia e seu ideário de grupo e comunidade. Ao mesmo tempo, eles pretendem se ver e fazer as pessoas crerem que são uma ameaça real para o mundo. E isso realmente está acontecendo. É claro que os talibãs não têm armas globais, nem têm – pelo menos no momento – chance real alguma de se transformar em uma grande ameaça à comunidade mundial. Mas, através do noticiário na mídia, eles criam exatamente isso – a impressão de que são uma ameaça global, embora atualmente sejam apenas uma ameaça regional sem apoio global.

O governo alemão tem criticado o noticiário de alguns meios de comunicação do país, acusando-os de terem oferecido uma plataforma aos terroristas. O senhor acredita que essas críticas são justificadas?

Somente até certo ponto. Evidentemente a mídia precisa informar sobre os acontecimentos, desde que esse noticiário não crie uma nova ameaça. Assim que os terroristas conseguem criar uma situação em que a informação e o noticiário são suprimidos, eles têm algum sucesso. Os terroristas crêem em sistemas, estruturas e sociedades que suprimem a liberdade de expressão.

Até certo ponto, posso entender o governo alemão, quando diz que a mídia precisa ser muito cautelosa em informar, para que não acabe servindo aos terroristas. Ao mesmo tempo, temos de aceitar que vivemos numa sociedade livre. É muito difícil suprimir a informação, voluntária ou involuntariamente, porque, se ela não fora transmitida via canais oficiais, certamente será distribuída através de blogs ou de outra forma na internet.

Preciso dizer também que o noticiário alemão no tocante ao Talibã e às atividades terroristas tem sido responsável, sem tender para o exagero, o sensacionalismo, e sem criar pânico.

Falando de um exemplo concreto de como a mídia deveria cobrir o terrorismo: o canal 4 da BBC recentemente transmitiu uma entrevista com o chefe militar do Talibã, Mansur Dadullah, em que ele conclamou à realização de seqüestros em massa de estrangeiros no Afeganistão. O senhor pensa que transmitir algo assim é aceitável?

Isso só pode ser respondido caso a caso. Por um lado, entrevistar um líder talibã é um grande furo jornalístico. Por outro lado, há que se questionar se com essa entrevista ou com o fato de oferecer-lhe uma plataforma, está sendo atendida, antes de qualquer coisa, a necessidade de informação. Se a resposta for sim, num caso em particular, então eu diria que a entrevista está justificada.

Mas não há dúvida de que os casos em que se precisa pesar entre a necessidade de informar o público e o perigo de servir de porta-voz aos terroristas sempre são um dilema. O importante é contextualizar a situação. Isso significa, não apenas oferecer uma plataforma para que o chefe dos talibãs se manifeste e, sim, também comentar e avaliar o que está acontecendo. Em caso de dúvida, minha resposta sempre é: se o noticiário não ameaça diretamente vidas, então deve predominar a liberdade de expressão.

O governo alemão disse que os talibãs monitoram minuciosamente os debates alemães sobre o Afeganistão e reagem instantaneamente a qualquer declaração. A crítica dirigida à imprensa não deveria valer também para os políticos, que aproveitam qualquer oportunidade para manifestar seu ponto de vista sobre a segurança no país ou sobre a segurança das tropas alemãs no Afeganistão?

A política, como também a mídia, trata de tornar as coisas públicas. Há uma aliança muito forte entre a política e os políticos, de um lado, e a mídia, de outro, porque os políticos evidentemente precisam da mídia para se expressar. Ao contrário do que afirma o governo alemão, é preciso dizer que, em comparação com os políticos, os meios de comunicação têm sido bastante moderados ao noticiar sobre as atividades do Talibã no Afeganistão.

No entanto, quero ressaltar mais uma vez que, se os terroristas conseguirem nos silenciar e sufocar o direito de expressão, então terão obtido a maior vitória.