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Mali realizará eleições em meio a grandes problemas internos

10 de abril de 2012

Em maio os malineses deverão ir às urnas escolher seu próximo presidente. Até lá, porém, precisarão resolver questões como a recente separação do norte e a expansão de radicais islâmicos.

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Foto: AP

Ninguém contava com um fim tão rápido da junta militar no Mali. O capitão Amadou Sanogo e o Comitê Nacional pela Manutenção da Democracia e do Restabelecimento do Estado (CNRDRE), fundado às pressas, haviam assumido o poder no dia 21 de março. Agora, duas semanas após o golpe, eles deixam o caminho livre para a transição do poder.

Neste processo foi fundamental a pressão exercida pelo bloco regional dos países do oeste africano (Ecowas), que chegou a aplicar massivas sanções contra o enfraquecido vizinho. Na quarta-feira (11/04), o presidente interino Diocounda Traoré será oficialmente designado a comandar uma transição civilizada.

Com essa retirada pacífica, os golpistas atestam o que haviam divulgado assim que tomaram o poder: não tinham a intenção de permanecer indefinidamente à frente do país. Muitos de seus apoiadores haviam feito essa exigência nas ruas de Bamaco nas últimas semanas.

Ligado a isso está também a convocação de eleições livres e justas. "Com um novo governo isso agora será possível", espera Ousmane Sissoco, presidente do recente movimento Nova Força Africana (NFA).

Algo, porém, não poderá ficar sem a devida atenção. Antes de mais nada será preciso resolver a questão do norte do país, onde as forças tuaregues – Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA) – declararam a independência de Azawad na última sexta-feira.

Novas Eleições

Azawad pode agora se tornar um grande problema. A principal missão do governo de transição de Traoré é organizar, dentro dos próximos 40 dias, eleições presidenciais justas e democráticas. Como o Mali e o restante do mundo não reconhecem a separação do país, será preciso teoricamente realizar eleições nos dois lugares ao mesmo tempo.

No recém-proclamado Estado Azawad vivem atualmente cerca de 10% dos 14 milhões de habitantes do Mali. A realização das eleições no norte deve ajudar a fortalecer a unidade no país e sinalizar que o governo central em Bamaco, apesar de distante geograficamente, leva os tuaregues no norte a sério.

No entanto, ainda há questionamentos sobre como realizar o pleito em uma região onde há pouca infraestrutura, onde os rebeldes tuaregues tomaram o poder e onde o grupo islâmico Ansar Dine vem se expandindo. Os religiosos lutaram contra as tropas do governo e agora querem introduzir a sharia (lei islâmica) de maneira radical.

Refugiados

Outro problema até hoje sem solução é a grande quantidade de refugiados. Segundo estimativa das Nações Unidas, cerca de 200 mil pessoas já abandonaram suas residências por conta da insegurança. Parte dessa população migrou para países vizinhos como Mauritânia, Nigéria e Burkina Faso, ou procuraram abrigo no sul do Mali.

Separação do Mali não é reconhecida internacionalmente
Separação do Mali não é reconhecida internacionalmenteFoto: picture-alliance/dpa

O estudante Mamoudou Sidibé, por exemplo, frequentava uma escola no norte do Mali até sua família encontrar novo abrigo em Mopti, principal região econômica no centro do país.

"Eles vieram e saquearam tudo", recorda Sidibé referindo-se aos soldados, sem saber dizer se eles eram integrantes do MNLA. Talvez fossem saqueadores sem vinculação política, acredita. O que se sabe é que eles causaram tanto medo entre os jovens que ninguém quis mais morar ali.

Organizar eleições democráticas com este clima parece difícil. Retorna-se à situação que existia antes do golpe, pois a votação já estava marcada para o dia 29 de abril. Mas, para Hamidou Konaté, diretor da radio privada Jamana, esta será uma missão impossível. "Se agora houver eleições, uma grande parte da região ficará de fora", disse ele.

Base de rebeldes

Há ainda chances de um novo conflito. A comunidade Ecowas pôs à disposição três mil soldados, caso o cessar-fogo dos rebeldes tuaregues não seja mantido. Os 15 países da Ecowas querem evitar de qualquer maneira que o Mali seja repartido – e aceitam fazer isso, em último caso, até mesmo com repressão violenta.

Nesse novo Estado, poderiam encontrar lugar não apenas os tuaregues, que querem sobretudo mais autonomia do governo central, mas também os grupos radicais islâmicos.

Trata-se aqui não apenas do Ansar Dine, mas também do AQMI (Al Qaida no Magreb Islâmico), que já teria uma base na região. E talvez exista ainda apoio de Boko Haram, a seita terrorista islâmica da Nigéria. Segundo dados da mídia, alguns de seus integrantes devem estar agora na cidade de Gao.

Autora: Katrin Gänsler (msb)
Revisão: Carlos Albuquerque