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Marcadas por rivalidade, missões espaciais dependem de cooperação

Fabian Schmidt (ie)4 de julho de 2013

A corrida pela conquista do espaço é coisa da Guerra Fria. Astronautas experientes se unem a favor das cooperações nas missões espaciais. O trabalho fora da Terra deve ser para o bem de toda a humanidade, idealizam.

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Foto: picture alliance/AP Photo

Durante três décadas, o antigo bloco soviético e os países ocidentais disputaram uma corrida acirrada pela conquista do espaço. Mas os tempos agora são outros, e essa nova situação ficou evidente durante a 26ª edição do encontro anual da Association of Space Explorers, a ASE (Associação dos Exploradores Espaciais, em tradução livre).

O grupo reúne apenas aqueles que estiveram em órbita pelo menos uma vez – já são 370 integrantes. No começo de julho, cerca de 80 deles participaram do evento em Colônia, na Alemanha. O presidente da associação, Dumitru Prunariu, foi o primeiro – e até agora único – romeno a ir ao espaço, em 1981, a bordo da estação russa Salyut 6.

Vanguarda durante a Guerra Fria

Tudo começou de forma bem modesta. A ASE foi fundada em 1985, quatro anos antes da queda do Muro de Berlim. Prunariu lembra dos primeiros dias da organização, na cidade francesa de Cernay. "Nesse tempo, éramos 25 astronautas e cosmonautas de 13 diferentes países. Mas já sabíamos que as coisas precisavam mudar", conta.

Astronautas do Ocidente e do Oriente tinham uma coisa em comum: todos tinham visto a Terra pelo menos uma vez do espaço. Talvez por isso tivessem uma visão um pouco mais ampla que os outros habitantes do planeta. O encontro inaugural da ASE permitiu que, pela primeira vez, astronautas dos dois lados pudessem trocar informações sobre as barreiras políticas.

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Russo Alexandrov conta que desejo de cooperar começou ainda na Guerra FriaFoto: picture-alliance/dpa

No ano seguinte, a reunião aconteceu em um país do bloco do leste, em Budapeste, Hungria. "Já na época, muitos dos contatos eram com astronautas norte-americanos. Tínhamos então um plano de chegar a um acordo para que os americanos voassem até a estação soviética Salyut 7", lembra Alexander Alexandrov que, naquela época, era cosmonauta da equipe russa.

Mas isso não aconteceu. "Era a Guerra Fria e o então ministro das Relações Exteriores, Andrei Gromyko, determinou que não deveria haver qualquer contato entre norte-americanos e russos no cosmos", conta Alexandrov. Para piorar o clima, jatos interceptadores soviéticos derrubaram um avião civil sul-coreano em 1º de setembro de 1983. O incidente deteriorou a já complicada situação soviética.

A mudança após a queda do Muro

O que parecia impensável começou a se tornar palpável alguns anos depois: diferentes países passaram a cooperar. O astronauta Reinhold Ewald, do lado ocidental alemão, foi treinado em Moscou a partir de 1990. Sete anos depois, ele voou com dois astronautas russos para a estação espacial Mir.

Ewald espera que esse espírito de cooperação internacional se mantenha. "Nosso time de jovens astronautas merece nosso apoio", diz. Ele acredita que, com sua experiência, pode contribuir no aconselhamento das equipes que hoje atuam na indústria aeroespacial."Quero que muitas pessoas possam ter esse tipo de experiência", destaca.

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Associação reúne apenas astronautas que já estiveram fora da TerraFoto: picture-alliance/dpa

Atualmente, a maioria das missões espaciais não poderia sequer ser pensada sem cooperação. A Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês), por exemplo, envolve a parceria entre  Agência Espacial Europeia (ESA), norte-americanos, canadenses, russos. Para o russo Alexandrov, essa é a realização de uma ideia que nasceu ainda nos anos da Guerra Fria.

"Nós disponibilizamos a nave espacial Soyus, os americanos tinham, até recentemente, os ônibus espaciais. Os japoneses montaram o laboratório. Os canadenses, um robô para trabalhos externos. Os europeus têm o veículo de transporte espacial não-tripulado e o laboratório espacial Columbus", enumera o ex-cosmonauta. Sobretudo, ele enfatiza o treinamento conjunto das equipes da ISS. "Resolvemos em conjunto e é possível ver que os times que trabalham juntos têm êxito".

Divisão de responsabilidades

Ficou claro que se cada um dos participantes fica responsável por uma parte técnica complementar do módulo, custos desnecessários são evitados. A constatação é de Hans Wilhelm Schlegel, que participou de missões com os ônibus espaciais Columbia e Atlantis entre 1993 e 2008.

Os ônibus espaciais norte-americanos ainda entusiasmam Schlegel – mesmo que essa geração de transportes tripulados esteja encerrada. Nos últimos quatro anos, apenas a nave Soyus levou pessoas até a estação espacial. "É genial, um foguete e uma cápsula espacial confiáveis", avalia.

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Atualmente, todos os astronautas dependem dos russos para ir e vir da ISSFoto: NASA/dapd

Segundo Schlegel, ESA e NASA irão depender da cápsula russa por pelo menos mais três anos para transportar pessoas até a estação espacial e de volta à Terra. Esse é o prazo para que a nova geração de transporte espacial fique pronta.

"O fim do programa dos ônibus espaciais não é o fim das viagens espaciais ou uma vergonha para os norte-americanos", esclarece. "É uma consequência do que iniciamos: quando muitos parceiros trabalham juntos, você economiza força de trabalho", enfatiza o ex-tripulante da Mir.

Pesquisa ganha prioridade

O dinheiro e o tempo economizados por conta da cooperação pode ser investido em pesquisa. A constatação é do astronauta norte-americano Kevin Anthony Ford, que retornou em março da ISS, onde esteve bastante ocupado. "Parece que temos sempre mais coisas para fazer, porque os cientistas sempre têm novas ideias que podem ser pesquisadas em uma estação espacial", comenta.

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Pesquisas feitas a bordo da ISS devem beneficiar toda a humanidadeFoto: picture-alliance/dpa

"Enquanto meus colegas Oleg, Evgenyi e eu estávamos a bordo, executamos 220 projetos de pesquisa", descreve Ford. Toda a humanidade pode tirar proveito desses experimentos. Entre outras coisas, Ford pesquisou peixes. Seu trabalho pode ajudar a desenvolver a cura para a osteoporose. "Curar essa doença justifica os custos por si só e temos milhares de experimentos assim, com potenciais múltiplos, que acontecem a bordo", exalta.

Hans Wilhem Schlegel viveu momentos distintos em sua carreira, incluindo a tensão da Guerra Fria, o voo a bordo da Soyus, a passagem pela Mir e a ISS. A experiência faz com que ele acredite no futuro dos programas espaciais – mas eles precisam ser executads em parceria. "Espero que essa cooperação seja ainda mais intensa." E quem sabe, essa uma nova geração de astronautas possa decolar para jornadas além da órbita da Terra.