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Os Europeus

24 de maio de 2009

O que Martinho Lutero pretendia com suas 95 teses era promover uma reforma da Igreja Romana, mas isso o tornou fundador de uma nova confissão cristã. Nº 9 da série "Os Europeus".

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Retrato de Lutero por Lucas Cranach, o VelhoFoto: Foto: Elke Walford

Martinho Lutero (1483-1546) era pregador da igreja de Wittenberg desde 1514. Esse homem benquisto, com talentos retóricos, contava com a estima de sua paróquia. Não era raro ele se fechar em seu escritório para imergir na leitura da Bíblia.

Lutero queria encontrar na Sagrada Escritura a chave para decifrar a relação de Deus com os seres humanos – uma relação que já estava esclarecida há muito para a Igreja Romana: Deus se comunicava com os homens através do papa em Roma e através dos padres e bispos apontados por este como seus substitutos. Com isso, a Igreja em Roma reivindicava para si o monopólio sobre a exegese da Bíblia, impondo sanções em caso de eventuais infrações das normas bíblicas.

95 teses contra desmandos eclesiásticos

Deutschland Das Deutsche Historische Museum Bibel von Martin Luther
Novo Testamento na tradução de Martinho LuteroFoto: AP

O Novo Testamento de Martinho Lutero consistia numa reinterpretação dos Evangelhos, da qual derivou um outro paradigma cristão. Para ele, não existia nenhuma "estação apostólica intermediária" na relação entre Deus e o homem. As únicas coisas que contavam eram a Sagrada Escritura ("primado da Escritura"), Jesus Cristo ("primado de Cristo") e a misericórdia divina ("primado da misericórdia e da fé").

O que desencadeou a Reforma foi o comércio de indulgências, cuja arrecadação era voltada para a reconstrução da Basílica de São Pedro em Roma. Além disso, o dinheiro angariado também deveria financiar a luxuosa vida do papa Leão 10º (1475-1521), sabidamente ameaçado de falência.

Quando Martinho Lutero escreveu as famosas 95 teses em sua residência sacerdotal em Wittenberg, sua intenção era apenas combater os desmandos na Igreja de Roma (secularização, desrespeito ao celibato). Não pretendia nem brigar com o papa, nem fundar uma Igreja própria. Sendo assim, ele não chegou a pregá-las na porta da igreja de Wittenberg naquele dia memorável de 31 de outubro de 1517; Lutero simplesmente as enviou a amigos "para fins de disputa".

Bildergalerie Deutschland Martin Luther in Wittenberg Sachsen-Anhalt
Igreja de Wittenberg: Lutero não pregou suas teses na portaFoto: AP

Naquele dia, ele não atuou como um revolucionário, mas somente como um monge indignado e preocupado com a salvação das almas de sua paróquia. Foi a reação às teses rapidamente propagadas que transformou o monge indignado em um revolucionário, responsável por uma confusão duradoura no mundo medieval e por um impacto ímpar na história.

"Fora da lei" – Lutero não desmentiu suas teses

O papa Leão 10º tentou colocar na linha o monge de Wittenberg através de excomunhão, anátemas e um julgamento realizado em frente à Dieta de Worms, em abril de 1521. Tudo isso sem êxito. Marinho Lutero não abjurou suas teses em Worms. Ele foi banido por decreto imperial e declarado "fora da lei" a partir de então.

Em sua fuga dos perseguidores da Inquisição, pôde contar com a ajuda de uma grande parte da população e do príncipe saxão Frederico 3º, o Sábio (1463-1525). O príncipe eleitor o escondeu no castelo de Wartburg, onde Lutero – sob a identidade de "fidalgo Jörg" – traduziu o Novo Testamento para o alemão. Suas doutrinas se propagaram rapidamente pelo continente europeu.

Deutschland Sterbehaus von Martin Luther in Eisleben
Nesta casa em Eisleben, Lutero morreu em 18 de fevereiro de 1546Foto: picture-alliance / dpa

Por outro lado, aumentou cada vez mais a violência no conflito com a "Igreja Católica", conforme passou a se chamar a Igreja do papa em Roma. Ambas as partes se armaram. Esse conflito religioso acabou culminando na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), ao fim da qual um acordo selou a liberdade religiosa na Alemanha e na Europa.

Autor: Matthias von Hellfeld
Revisão: Augusto Valente