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"Massacre no Afeganistão: sob os olhos dos EUA?"

av18 de dezembro de 2002

A rede de TV alemã ARD mostra documentário que parece provar crimes de guerra dos EUA durante a campanha contra os talibãs: o germe para mais um conflito entre Berlim e Washington.

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Soldados norte-americanos: criminosos de guerra no Afeganistão?Foto: AP

As relações entre a Alemanha e os Estados Unidos parecem estar fadadas ao atrito. O documentário para a televisão, de Jamie Doran, traz o título Massacre no Afeganistão – sob os olhos dos americanos?. Durante a campanha militar dos Estados Unidos naquele país asiático, oito mil prisioneiros talibãs foram levados da fortaleza de Qala-i-Janghi para a cidade de Sheberghan. Destes, porém, apenas três mil chegaram àquela destinação.

O cineasta irlandês recolheu provas de que os demais presos haveriam sido executados no caminho e mais tarde depostos numa vala comum no deserto próximo a Sheberghan. Segundo as testemunhas, o assassínio em massa transcorreu diante dos olhos dos soldados norte-americanos. Os EUA detinham o comando supremo das operações militares no Afeganistão.

Mais um conflito teuto-americano

O filme de 45 minutos já foi exibido pela emissora inglesa Channel 5 e pela italiana RAI. A decisão da ARD – cabeça do sistema de emissoras públicas da Alemanha – de exibir o documentário suscitou protestos por parte de Washington. O porta-voz do Departamento de Estado, Larry Schwartz: "Não conseguimos compreender por que uma rede televisiva de reputação quer mostrar um documentário cujos fatos são totalmente falsificados, e que caracteriza de maneira injusta a missão dos EUA no Afeganistão."

Certas fontes governamentais responsabilizam elementos "de esquerda" pela insistência nas acusações contra os militares norte-americanos. Por sua vez, Thomas Schreiber, diretor do departamento de cultura da emissora alemã NDR, afirmou que, segundo testemunhas oculares, havia soldados dos EUA, tanto durante os incidentes em Sheberghan, quanto em Dasht-i-Leili, local da vala comum.

Além disso, as declarações do Departamento norte-americano de Estado estariam em contradição crassa com as informações que o próprio Pentágono faz no filme de Doran. Segundo estas, até agora as Forças Armadas não investigaram os incidentes em questão. Para Schreiber, um esclarecimento definitivo só será possível através de um inquérito interno do Departamento de Defesa, e quando a ONU exumar e identificar os cadáveres que se encontram nas valas comuns.

O preço da coragem

Ao apresentar seu filme na segunda-feira (16) em Berlim, Jamie Doran afirmou que todas as testemunhas que entrevistou estariam dispostas a depor diante de uma comissão da ONU. Para tal seria indispensável um programa de proteção às testemunhas, exigiu Doran, já que, dentre os 21 entrevistados, dois já foram assassinados, desde a conclusão das filmagens no Afeganistão.

Doran vem produzindo filmes há 22 anos, tratando de abusos dos direitos humanos em todo o mundo. Após trabalhar durante sete anos para a BBC inglesa, o jornalista e diretor premiado criou sua própria companhia independente de televisão. A exibição de seu filme inacabado Massacre em Mazar causou celeuma em meados de 2002, por revelar outro episódio sangrento da campanha norte-americana no Afeganistão. Sob os olhos dos americanos? já foi vendido para 11 países, incluídos os Estados Unidos. A ARD o transmite na noite desta quarta-feira (18).