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Medo contribui para o desarmamento

ef22 de dezembro de 2003

Medo de Gaddafi de acabar como Saddam o teria levado a desistir de armas de destruição em massa. A conseqüência pode ser a reconciliação do Ocidente com o mundo islâmico. Esta a opinião que predomina na imprensa alemã.

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Gaddafi pode garantir sua sobrevivência e a do seu regimeFoto: AP

A Líbia anunciou em Viena, nesta segunda-feira (22), que vai assinar um protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação de Armas atômicas, para permitir o acesso de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ao seu programa nuclear. O secretário-geral da AIEA, Mohammed el Baradei, irá nos próximos dias a Trípoli, a fim de assinar o documento.

Muammar Gaddafi, ditador que se instalou no poder em 1969, através de golpe militar, havia surpreendido o mundo, na sexta-feira passada (19/12), anunciando uma renúncia às armas de destruição em massa - químicas, biológicas ou atômicas - bem como aos seus mísseis de alcance superior a 300 quilômetros.

Ao lado do Iraque, Irã e Coréia do Norte, a Líbia faz parte do chamado "eixo do mal", uma expressão do presidente americano George W. Bush para classificar os inimigos dos EUA que representariam uma ameaça à segurança mundial. Por isto o regime de Trípoli estava há anos na mira dos Estados Unidos em sua luta contra o terrorismo internacional. O Irã já assinou o protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, com o qual garante acesso dos inspetores da AIEA às suas instalações atômicas, pelo menos teoricamente. A Coréia do Norte, comunista, está negociando com os EUA, sob mediação da União Européia, Rússia e Japão.

Vitória de Bush e Blair

- A decisão surpreendente da Líbia contribui para o desarmamento mundial e pode render dividendos eleitorais para o presidente Bush e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, na opinião do Financial Times da Alemanha: "Depois da captura do ex-ditador iraquiano, Saddam Hussein, Bush e Blair podem apresentar agora um segundo trunfo aos seus eleitores e desta vez todos os europeus estão convencidos da [eficácia da] diplomacia estratégica anglo-americana".

Para o Leipziger Volkszeitung, a atitude do ditador Gaddafi "confirma o clamor da Velha Europa por um combate ao desarmamento mundial por meios diplomáticos em vez do uso das armas, como americanos e britânicos fizeram no Iraque". O passo dado pela Líbia torna o mundo mais seguro, segundo o diário alemão, "e pode haver muito mais segurança se tanto o lado bom (EUA) quando o mal (Líbia) fizerem maiores esforços".

Instinto de sobrevivência

- Depois de nove meses de negociação, Gaddafi mostrou que não é burro, mas também que é muito mais realista que outros ditadores, destaca o Rheinische Post em seu editorial: "O ditador do deserto reconheceu que a coalizão antiterror é levada a sério e que ele jamais ganharia a guerra contra o terrorismo internacional declarada pelos EUA depois do 11 de setembro". Na opinião jornal alemão, com a sua renúncia às armas de destruição em massa, "Gaddafi mostrou vontade de viver e agora sabe que os americanos dificilmente agirão contra ele, apesar de suas estreitas relações com o terror no passado".

O presidente da Líbia já havia dado uma demonstração de grande esperteza e de forte instinto de sobrevivência quando decidiu indenizar com US$ 2,7 bilhões os familiares das 270 vítimas do avião da Pan Am, derrubado sobre Lockerbie, em 1988, lembra o Süddeutsche Zeitung. Além disso, o ditador vem passando informações sobre células terroristas islâmicas para os Estados Unidos desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Para garantir bons serviços aos americanos, Trípoli teria expandido a sua rede de informações no mundo árabe, segundo o diário alemão.

Para o Neue Osnabrücker, "o notório amigo do terrorismo conseguiu a sua reabilitação no Ocidente" depois de admitir que a autoria do atentado de Lockerbie foi do seu serviço secreto. "Gaddafi tratou de garantir a sua sobrevivência pessoal e a do seu regime com gestos de boa vontade com os EUA já antes de Saddam Hussein desaparecer, porque não via outra forma de sobreviver a não ser cooperando com a única superpotência mundial", opinou o comentarista.