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Meias-verdades na imprensa ocupam União Européia

da/rw9 de fevereiro de 2004

Comissão Européia em Bruxelas tenta conter boatos e falsas informações divulgadas na mídia. Elas vão de preconceitos contra as instituições do bloco até pesquisas transformadas em diretrizes.

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Foto: AP

Difícil de um brasileiro acreditar, mas a imprensa européia também publica inverdades. Elas vão desde a suposta proibição de bananas e pepinos que não obedecem "à curvatura exigida" até a normatização dos preservativos para 16 centímetros de comprimento.

Estes boatos e meias-verdades são reunidos por Michael Mann, da assessoria de imprensa da Comissão Executiva da União Européia. Em seu escritório em Bruxelas, o jornalista britânico não se cansa de sacudir a cabeça com muitas notícias publicadas na imprensa diária dos países que fazem parte do bloco.

Imprensa britânica é a que mais inventa

Mann já conseguiu corrigir grande parte das notícias infundadas que aparecem nos jornais. Notícias levianas são publicadas em todos os lugares, inclusive nos "sérios" países escandinavos, como a Suécia e a Dinamarca. Mas quem lidera a lista é a Grã-Bretanha, com 120 infrações à verdade. "Já é sabido que a imprensa britânica tem prazer em divulgar mitos sobre a União Européia. É o país do conto da carochinha", debocha o jornalista.

Na maioria dos demais membros do bloco, entretanto, os jornais contentam-se em publicar críticas depreciativas e generalizações do chamado "monstrengo burocrático" criado em Bruxelas e que o Parlamento Europeu é um "antro de tagarelas" e seus trâmites "nada transparentes".

Viola Eggert, que trabalha na representação da Comissão em Berlim, resume os preconceitos publicados na Alemanha sobre o órgão em que trabalha: "Tudo é canalizado para o aspecto da hiper-regulamentação. Que a União Européia (UE) dita ao seu cidadão os passos que ele deve dar e que ela realmente influencia seu modo de viver." Na sua opinião, o problema com a criação de boatos na Alemanha não é tão grave como em outros países.

Cãezinhos da rainha, ovo frito e bacon

A imprensa britânica, por seu lado, não fica só nas generalizações. A partir de resultados de pesquisas, redatores presumem a criação de novas normas e fomentam boatos de futuras diretrizes da Comissão. Até os cachorrinhos preferidos da rainha não escaparam e supostamente seriam banidos da União Européia.

Pior ainda a sina dos caminhoneiros. Segundo a mídia sensacionalista, aos profissionais do volante seria proibido o café da manhã britânico, à base de ovo frito e bacon. Motivo alegado: a pretensa gordura nas mãos do motorista representaria perigo para o trânsito. Como se o exagero não bastasse, ainda acrescentaram um conselho irônico: "Comam, em vez disso, cereais e croissants."

Assessoria de imprensa na defensiva

Michael Mann acredita que as notícias descontraídas sobre as ameaças geradas no "continente" vendem melhor na "ilha" britânica do que informações secas e fatos complicados. Um reflexo, também, do cenário jornalístico da Grã-Bretanha, "onde há muito mais imprensa sensacionalista do que em outros países europeus", constata o assessor de imprensa da União Européia.

Para vencer a acirrada concorrência, os jornais tentam de tudo para conquistar leitores, não se deixando intimidar por temas tolos, divertidos, infundados ou sobre sexo. A maioria deste tipo de artigos não é escrita por correspondentes em Bruxelas, pois estes estão, sim, bem informados.

A fim de chamar a atenção dos leitores, os textos são escritos pelos próprios redatores em Londres. Não sendo de admirar manchetes como "Garrafas britânicas de leite ameaçadas na UE − não ecológicas! Mais uma vez morre um pouco do modo de vida britânico!"

Os assessores de imprensa em Bruxelas só se sentem forçados a intermediar quando a notícia começa a tomar proporções de escândalo. A única estratégia possível então é lançar uma campanha esclarecedora na imprensa. Isto, no entanto, nem sempre dá certo, explica Mann.

Como o potencial da assessoria de imprensa na capital belga é limitado, "bom seria se cada governo na União Européia ajudasse na retificação dos mal-entendidos", apela o jornalista, para quem o ideal seria a promoção de debates sérios entre a população, sobre "o que é a Europa e para que ela serve".