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Mercados seguem desregulados 5 anos após falência do Lehman Brothers

Henrik Böhme (ca)15 de setembro de 2013

Cinco anos após a falência do banco americano Lehman Brothers, a calma retornou aos mercados financeiros. Mas ela teve um preço alto, e o risco de uma nova crise não foi definitivamente afastado.

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Há exatamente 5 anos, banco americano declarava insolvênciaFoto: picture-alliance/dpa

Oito bilhões de euros (cerca de 24 bilhões de reais): segundo cálculos do jornal alemão Die Welt, esse foi o custo da crise financeira para a economia mundial. Ela teve início exatamente há cinco anos, em 15 de setembro de 2008, quando declarou insolvência o banco de investimentos Lehman Brothers, dos Estados Unidos.

Foi o ápice de uma crise que já estava em ebulição há muito tempo no mercado imobiliário americano, devido a empréstimos hipotecários com más garantias, os chamados subprimes. O que se seguiu é bem conhecido: a economia mundial entrou em recessão profunda, os países tiveram de preparar pacotes bilionários de apoio conjuntural, bancos e companhias de seguro de todo o mundo foram salvos do colapso com verbas bilionárias pagas pelo contribuinte.

Logo, o G20, grupo das 20 principais economias industrializadas e emergentes, se reuniu para apagar o incêndio da crise. A promessa na época era que, no futuro, nenhum agente ou produto financeiro continuaria desregulado. Reformas foram iniciadas para, principalmente, evitar que a falência de um banco pudesse vir a afetar todo o sistema. E que os contribuintes deste mundo não tivessem que pagar pela jogatina falida dos bancos.

Os bancos estão seguros?

Hoje, cinco anos após o colapso do Lehman Brothers, a pergunta é: isso poderia vir a se repetir amanhã ou o mundo financeiro está agora mais bem preparado para acontecimentos dessa ordem? A resposta não é tão clara assim, tratando-se antes de um "sim, mas...". Por exemplo, para Andreas Dombret, membro da diretoria do Banco Central alemão, diz que é cedo demais para suspender o estado de alerta.

Essa opinião também é partilhada por Jörg Asmussen, representante alemão na diretoria do Banco Central Europeu (BCE). Ele desaconselha de que se superestime a "calma relativa" que reina nos mercados financeiros. Mas, apesar de tudo, houve avanços, ressalva.

Martin Faust, da Frankfurt School of Finance and Management, concorda. "Certamente fizeram-se alguns avanços. Hoje, os bancos estão equipados mais solidamente com capital próprio", disse em entrevista à Deutsche Welle. No entanto, o fato de alguns bancos serem grandes demais ainda é um problema.

Se um desses bancos entrar em dificuldades, os Estados, ou seja, os contribuintes, terão que continuar apoiando-os. "Não houve consequência suficiente. Existe esse conceito de 'too big to fail'. Aqui, na verdade, o tamanho dos grandes bancos internacionais deveria ter sido reduzido", comentou Faust.

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Mundo não sabia o que fazer após falência do Lehman Brothers, diz diretor do Instituto da Economia AlemãFoto: AP

Risco de crise continua

Também Sven Giegold, crítico da globalização e eurodeputado pelo Partido Verde, crê que a regulamentação do setor financeiro está no caminho certo. No entanto, o perigo não foi banido, de forma alguma.

Embora os bancos disponham atualmente de mais capital próprio, o reino sombrio dos derivados financeiros esteja cada vez mais transparentes e os fundos de hedge ao menos sendo supervisionados, "os perigos de uma crise não foram banidos, porque o endividamento excessivo continua igual", afirmou Giegold à Deutsche Welle. "Assim, estamos sentados sobre a mesma bolha de dívidas, que sempre pode levar a grandes irregularidades, em diferentes setores."

Um passo a mais na prevenção de crises foi dado na última quinta-feira (12/09) pela União Europeia,q uando o Parlamento Europeu abriu o caminho para uma supervisão bancária europeia sob a égide do BCE. Dentro de um ano, tal supervisão deverá iniciar suas operações.

De olho no sistema bancário paralelo

Nos próximos anos, também deverá ser controlado o setor bilionário do chamado shadow banking, o sistema bancário sombra ou paralelo, que sustenta operações financeiras fora do alcance das entidades de regulamentação. Em seu último encontro de cúpula, em São Petersburgo, o G20 aprovou finalmente, no início de setembro, um cronograma para poder controlar melhor os fundos de hedge e outras instituições financeiras não reguladas.

Assim, disse a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em São Petersburgo, pretendeu-se deixar claro que "nós mantemos a nossa palavra de que todo agente financeiro, todo centro financeiro e todo produto financeiro deve ser submetido a uma regulamentação. E, nisso, o mundo tem que trabalhar em conjunto".

Assim, ainda há algum trabalho a fazer. De acordo com Michael Hüther, diretor do Instituto da Economia Alemã (IW), resta um "longo processo de desenvolvimento e aprendizagem". Mas o caminho traçado está predominantemente correto.

Semelhante aos diagramas de saídas de incêndio, que se costuma afixar nos edifícios, também os bancos têm agora seus planos de emergências, que são também conhecidos pelas entidades de supervisão financeira. E isso tira grande parte da insegurança. "Porque o decisivo no dia 16 de setembro, a terça-feira após a falência do Lehman Brothers, foi que ninguém sabia o que devia ser feito. Ninguém atendia ao telefone", aponta Hüther.

Foi realmente necessário?

E até hoje outra pergunta não foi respondida: foi realmente correto deixar o Lehman Brothers falir, ou ele deveria ter sido apoiado com alguns bilhões, poupando assim o mundo de uma grande crise? Sim, isso teria sido possível, mas, naqueles dias de setembro, o secretário americano do Tesouro chamava-se Henry M. Paulson.

Anteriormente, durante muitos anos, ele fora presidente do banco de investimentos Goldman Sachs. E seu arqui-inimigo era um certo Richard Fuld, o então presidente do Lehman Brothers. Paulson salvou com 180 bilhões de dólares a mega companhia de seguros AIG. Mas o Lehman Brothers e, assim, o seu antigo adversário Fuld, ele deixou morrer à míngua, mendigando ajuda.