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Religião e criminalidade

21 de dezembro de 2007

Estudo mostra que 14% dos muçulmanos na Alemanha recusam princípios democráticos ou possuem alta tolerância quanto à violência de motivação religiosa. Especialistas alertam para interpretações equivocadas.

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Ao todo, foram entrevistadas cerca de 2 mil pessoasFoto: picture-alliance/ dpa

Uma minoria dos muçulmanos que vivem na Alemanha considera justificado o uso da violência para defender sua religião, de acordo com um estudo encomendado pelo Ministério alemão do Interior e divulgado nesta quinta-feira (21/12).

Por mais que os cerca de dois mil entrevistados (ao todo, vivem 3 milhões de muçulmanos no país) tenham admitido quase sem exceção que admiram a Alemanha por poderem exercer sua religião livremente, o estudo concluiu também que mais da metade dos muçulmanos se sentem marginalizados na condição de estrangeiros. Um em cada cinco afirma inclusive ter sido vítima de xenofobia nos últimos 12 meses.

Quanto à violência de motivação político-religiosa, quase a metade respondeu afirmativamente à questão se muçulmanos poderiam fazer uso de violência para se defender, caso o Islã fosse atacado pelo Ocidente. No entanto, apenas 5,5% consideram justo o uso de violência para fazer prevalecer princípios islâmicos, embora quase um terço acredite que fiéis que perdem a vida na luta armada pela fé vão para o Paraíso.

No entanto, isso não vale para atentados suicidas: estes foram considerados por cerca de 90% dos entrevistados como atos de covardia que só denigrem a imagem do Islã. Outros 90% são de opinião que nenhum muçulmano tem o direito de matar em nome de Alá.

Interpretação equivocada

O estudo de mais de 500 páginas expõe também as falhas cometidas na integração de imigrantes muçulmanos na Alemanha. Entre a população mais velha, há uma repulsa resignada em relação à sociedade receptora e um "retorno ao ambiente acolhedor e protetor do meio social de migrantes". Entre os mais jovens, pelo contrário, há um empenho em serem reconhecidos plenamente como muçulmanos na sociedade, embora sejam parcialmente limitados pelas reações dos alemães.

Vertreter der Muslime bei Papst Benedikt XVI
Papa recebe muçulmanos: solução deve ser conjuntaFoto: AP

O estudo, organizado pelos professores de Criminologia da Universidade de Hamburgo Peter Wetzel e Katrin Brettfeld, alerta para uma "orientação fundamentalista" em cerca de 40% dos entrevistados, enquanto o grupo dos que possuem ideais extremamente religiosos e recusam princípios democráticos corresponde a 14% do total.

No entanto, a pesquisa confirma apenas em parte as preocupações do Ministério alemão do Interior. Afinal, "orientação fundamentalista" não significa disposição à violência, nem ser contrário à democracia, mas apenas altamente religioso.

Pelo contrário: os resultados indicam até que os muçulmanos na Alemanha nem diferem tanto do restante da população. O antropólogo Werner Schiffauer, da Universidade Viadrina em Frankfurt do Oder, alerta para interpretações equivocadas.

"Deveríamos reconhecer que muçulmanos e não-muçulmanos têm um problema comum. Em ambos os grupos, há um percentual de 14% com posturas antidemocráticas. Em ambos os grupos, há o mesmo percentual de xenofobia: de caráter anti-semita entre muçulmanos e antiislâmico entre os demais", explica.

"Precisamos ganhar o apoio da população muçulmana para combater este problema. Se começarmos a tratar o Islã como problema em virtude deste estudo – e absolutamente contra o espírito desde estudo –, estaremos estigmatizando nossos potenciais aliados no processo de democratização."

Caráter preventivo

Da mesma forma argumenta Wetzel, um dos autores do estudo, alertando para o perigo de ler nos resultados coisas que neles não constam. Para evitar que o estudo seja menosprezado como confirmação para a política, Wetzel nega até que ele tenha sido feito sob encomenda do governo.

"O estudo se baseia em pesquisas que já estavam em andamento sobre a relação entre religião e criminalidade. O ministério apenas incentivou um projeto já existente, não exercendo nenhuma influência sobre seu conteúdo", defende.

Segundo ele, as consequências que se podem tirar do estudo devem ser todas de caráter preventivo. Mas, para que a prevenção seja efetiva, é preciso conhecer seu pano de fundo. "Não há nenhuma alternativa ao diálogo nesta questão. Não faz sentido, com base num problema existente em uma minoria relevante, tomar atitudes que marginalizem a totalidade desse grupo", critica. (rr)