1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Monopólio da cerveja americana na Copa 2006

av23 de abril de 2004

A rebelião fermenta na Baviera, no sentido estrito da palavra. Apenas a marca norte-americana Budweiser poderá ser vendida e divulgada nos estádios durante a Copa do Mundo. Indignação em Munique, terra da Oktoberfest.

https://p.dw.com/p/4wFq
Um patrimônio nacional ameaçadoFoto: AP

Uma Copa do Mundo na Alemanha exclusivamente regada a cerveja dos EUA. Parece piada, mas não é. A firma norte-americana Anheuser-Busch, fabricante da cerveja Budweiser, é parceira global de marketing da Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado). Assim, ela possui o direito exclusivo de vender e promover seus produtos nos estádios onde se realizará a Copa do Mundo em 2006.

Neues Fußballstadion in München
Projeto do novo estádio muniquenseFoto: AP

Por incrível que pareça, essa determinação afeta também o Estado da Baviera, a capital alemã da cerveja, terra da Oktoberfest. Os bávaros não querem acreditar que, em pleno evento que colocará sua capital, Munique, no centro do planeta, eles não poderão degustar sua própria cerveja em sua própria "casa". No caso, o estádio de futebol Allianz, novinho em folha. Mais fácil as águas do Rio Isar correrem correnteza acima.

Mais respeito, por favor!

Quem tenta impor uma determinação tão absurda subestima o temperamento dos muniquenses quando se trata de assuntos de vida ou morte.

Evoquemos o fatídico ano de 1844. Revoltados contra o aumento do preço da bebida à base de cevada, malte e lúpulo, os cidadãos invadiram as cervejarias, fazendo lenha de seu mobiliário. Ainda não se pensa em colocar a sede da Fifa em Munique sob custódia policial. Mas talvez não fosse má idéia: a revolta está fermentando.

Ou, no mínimo, uma crise de identidade. Afinal, a Baviera é a região cervejeira, no país da cerveja. Isso, embora em 2003 o consumo de água mineral na Alemanha tenha sido, pela primeira vez, maior do que o da loura gelada: 129 litros por habitante contra 120. A bebida nacional teve que se contentar com o terceiro lugar no consumo, cabendo o primeiro ao café. Sem falar na ameaça traiçoeira do vinho.

Ainda assim, a Baviera abriga 641 das 1268 fábricas da bebida de toda a Alemanha. Antes mesmo da fundação de Munique, ela fazia parte da dieta dos monges da região. Com o passar dos séculos, houve uma queda de qualidade, o que levou o Duque Albrecht IV a decretar em 1487 a Lei de Pureza da Cerveja (Reinheitsgebot), que vigora até os nossos dias. Enfim, uma tradição milenar que merece, exige, no mínimo, respeito.

Só no deserto de Gobi

Reconhecendo este fato, a Fifa e o governo estadual tentam chegar a um consenso que satisfaça ambas as partes. Por exemplo, em eventos locais realizados durante a Copa – digamos, uma recepção promovida pela prefeitura de Munique –, os produtos regionais terão sua vez. Mas, óbvio, isso não basta aos patrióticos bávaros.

Seu argumento definitivo é de caráter gastronômico: "A Budweiser é intragável!", alegam os especialistas entre a Hofbräuhaus e a Augustiner. "Boa para beber, na melhor das hipóteses, no deserto de Gobi!" Já não basta os jogadores participantes da Copa terem que circular, não em automóveis das veneráveis marcas nacionais, mas sim da sul-coreana Hyundai. "Se querem andar de riquixá motorizado, tudo bem. Mas cerveja americana?!"