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Morre Stéphane Hessel, defensor da resistência pacífica

A27 de fevereiro de 2013

Em 2010, já com 92 anos, o pensador franco-alemão publicou o ensaio que o tornaria famoso no mundo todo: "Indignai-vos", que inspiraria movimentos de resistência como Occupy e Indignados.

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Foto: picture-alliance/dpa

Diplomata, membro da Resistência Francesa, sobrevivente do Holocausto e escritor, Stéphane Hessel ficará na memória como aquele senhor pacifista de cabelos grisalhos, terno, colete e gravata. Na madrugada desta quarta-feira (27/02), ele morreu em Paris, como anunciou sua mulher, Christiane Hessel-Chabry.

Registrado como Stefan Hessel, era filho do escritor alemão Fran Hessel, tradutor dos livros de Marcel Proust, e da jornalista de moda e também tradutora Helen Grund. Hessel nasceu no dia 20 de outubro de 1917, em Berlim. Seu pai descendia de judeus poloneses abastados, e sua mãe, de uma família protestante de banqueiros da Prússia.

Aos sete anos, mudança para Paris

Em 1924, Hessel mudou-se com os pais e o irmão para a capital francesa, onde viria a passar grande parte da vida. Em 1937, tornou-se cidadão francês e uniu-se, como estudante em Londres, ao comitê de resistência do general Charles de Gaulle contra os nazistas.

Hessel tornou-se a pessoa de contato entre os grupos da resistência e a central em Londres durante a ocupação da França. Em 1944, os nazistas o prenderam e o levaram para o campo de concentração de Buchenwald. Depois de várias tentativas, ele conseguiu fugir e voltar para Paris.

Disposto à reconciliação

Klaus Staeck, presidente da Academia das Artes, em Berlin, elogia Hessel sobretudo por seu espírito aberto, que lhe permitia " aproximar de qualquer pessoa, sem pudores". Como combatente da resistência e sobrevivente do campo de concentração de Buchenwald, o escritor tinha todas as razões do mundo para manter qualquer ceticismo frente à sua cidade natal – Berlim – e à Alemanha como um todo.

Buchcover Stephane Hessel Ιndignez-vous!
Capa do livro 'Indignai-vos', de Hessel, no original em francês

"Ele era um colérico, mas mantinha sempre a mão estendida para a reconciliação", completa Staeck, que diz que Hessel nunca foi afeito a acusações: "Seu dedo em riste sempre esteve ligado a uma cordialidade única. Ele era um senhor muito simpático, generoso, gentil".

Longa carreira diplomática

Entre 1945 e 1993, Hessel trabalhou como diplomata pela França. Entre outros, acompanhou os debates da Declaração dos Direitos Humanos da ONU. No ano de 1982, François Mitterrand concedeu a ele o título de honra de "embaixador da França". Depois de encerrar sua carreira diplomática, empenhou-se pela união da Europa, pela defesa do clima e pelos direitos de refugiados africanos na França.

Só aos 80 anos é que Hessel se tornou escritor. Em 1997, a publicação de suas memórias foi muito comentada: em Dance com o século, ele viaja por toda a sua vida, passeando por uma era intelectual recheada de diversos momentos de fracasso.

Sucesso como escritor em idade avançada

Em 2010, já aos 92 anos de idade, Hessel se tornou internacionalmente conhecido através do ensaio Indignai-vos!, no qual propõe, em 30 páginas, a ressurreição dos valores da Resistência. Hessel critica o capitalismo e o tratamento concedido a minorias, defende a pacificação e vê a solução dos problemas no Oriente Médio como elementar para a libertação de outros conflitos.

Klaus Staeck Akademie der Künste in Berlin
Klaus Staeck, da Academia das Artes, em BerlimFoto: staeck.de

O livreto de protestos alcançou uma tiragem de um milhão de exemplares, tendo se tornado, em todo o mundo, a bíblia dos membros do movimento Occupy e dos opositores da globalização.

Hessel nos deixa uma grande incumbência, diz Staeck. "Sua rota era muito clara: devemos participar como cidadãos. Responsabilizar os outros não era seu estilo", completa. Staeck define Hessel como "o europeu ideal", como "um indignado no centro da sociedade".

Cosmopolita e defensor da compreensão entre os povos

Hessel não foi o primeiro a condenar o abismo cada vez maior entre pobres e ricos. No entanto, como acentua Staeck, o escritor conseguiu fazer com que esse tema se transformasse em um debate pleno, que perpetra toda a sociedade. "Ele era um fenômeno, um defensor da compreensão entre os povos, um cosmopolita, que conseguia conversar tanto com os mais velhos quanto com os jovens", conclui Staeck.

Depois do sucesso de Indignai-vos!, Hessel colheu não só elogios, mas também críticas, segundo as quais apontar os erros não basta, havendo necessidade de que se dê sugestões para solucionar os problemas em questão. "Não é preciso oferecer sempre as mesmas soluções", resume Staeck, para quem decisivo na trajetória de Hessel foi o fato de ele ter sempre demonstrado disponibilidade em sair em busca de soluções.

Autor: Niko Fischer (sv)
Revisão: Rafael Plaisant Roldão