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Morte de cinegrafista põe segurança de jornalistas em debate

Ericka de Sá, de Brasília11 de fevereiro de 2014

Sindicatos, associações de empresários da mídia e governo prometem criar política para proteger repórteres no exercício da profissão no Brasil, especialmente durante a cobertura de grandes protestos.

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Repórter durante a cobertura dos protestos do Dia da Independência no ano passadoFoto: Reuters

A morte do cinegrafista da Band Santiago Ilídio Andrade, após ser atingido por um rojão durante manifestação no Rio, levou autoridades e entidades que representam a imprensa e os jornalistas a iniciarem a elaboração de uma política de segurança para os profissionais de comunicação.

O plano é propor ações que vão desde a padronização da atuação das polícias durante protestos até padrões de segurança no dia a dia do exercício da profissão. Isso incluiria a aceleração das votações de projetos sobre segurança nas manifestações que estão parados no Congresso.

"Precisamos ter políticas de Estado que enfrentem essa questão e permitam ao jornalista ter segurança quando exerce sua função, que é de vital importância para a democracia brasileira", disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, após reunião com associações e empresários de mídia.

As propostas serão discutidas ao longo de uma série de reuniões que começam na próxima quinta-feira. Participarão do processo tanto entidades públicas – encabeçadas pelo Ministério da Justiça – como a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Nacional de Editores de Revista (Aner), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e secretários de Segurança Pública de todos os estados.

Crescimento das agressões

Associações que representam empresas de mídia e jornalistas entregaram nesta terça (11/02) ao ministro da Justiça um levantamento de casos de violência contra jornalistas e veículos e comunicação. Em 2013, segundo Abert, ANJ e Aner, foram 175 casos, a maioria (126) relacionada aos protestos registrados desde junho do ano passado.

Já o levantamento da Abraji contabilizou 118 casos de agressões e prisões de jornalistas durante manifestações desde junho de 2013. "A violência sistemática contra profissionais da imprensa constitui atentado à liberdade de expressão. É preciso que o Estado (Executivo e Judiciário) identifique, julgue e puna os responsáveis pelos ataques", disse a entidade em nota de pesar pela morte de Santiago Andrade.

Santiago Andrade
Cinegrafista da Band é atingido por rojãoFoto: picture-alliance/dpa

"Desde o começo das manifestações, sentimos a hostilidade que os profissionais vêm sentindo por parte dos manifestantes, e eventualmente por parte da polícia", relatou o presidente da ANJ, Carlos Fernando Lindenberg Neto.

Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Abert, ressaltou o "crescimento exponencial das agressões ao jornalismo profissional" desde o início das manifestações. "Toda vez que um profissional da imprensa é impedido de exercer sua função, quem mais perde é a sociedade."

Repercussão

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também se manifestou publicamente sobre o ocorrido e pediu apuração das circunstâncias que levaram à morte de Santiago e punição dos culpados.

"Não deve prevalecer a impunidade, constatada com demasiada frequência nos ataques contra os profissionais da informação que acompanham manifestações", pediu a RSF.

Para a ONG, a proximidade da Copa do Mundo se revela como desafio para as autoridades "tendo em conta o afluxo de atores da informação que a Copa do Mundo de futebol levará ao país, dispostos a cobrir acontecimentos não só desportivos, mas também sociais".

Sobre o assunto, o ministro da Justiça garantiu que o Brasil está "absolutamente capacitado" para enfrentar eventuais protestos durante a competição, mas não descartou que o plano de segurança seja adaptado a partir das reuniões das próximas semanas.

José Eduardo Cardozo
O ministro da Justiça José Eduardo Cardoso: promessa de medidas para proteger imprensaFoto: Agência Brasil

No Congresso – onde tramitam algumas propostas que prometem endurecer a punição para crimes de violência em protestos – vários deputados e senadores comentaram o assunto. "Nós precisamos agravar as penas, punir exemplarmente, esclarecer e votar a legislação. Temos que compatibilizar todas as liberdades. A democracia exige isso", disse o presidente do Senado, Renan Calheiros.

"Precisamos resguardar o direito à manifestação pacífica, que é um valor democrático inegociável", pediu o deputado Mendonça Filho, do partido Democratas.

Segurança profissional

Apesar de ser profissional experiente e de ter recebido treinamento para situações de risco, Santiago não portava equipamentos de proteção durante o protesto em que foi ferido. Em nota pública, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro relata que já vem cobrando das empresas de comunicação o fornecimento de materiais básicos de segurança, que poderiam "evitar ou minimizar" danos à integridade física dos profissionais.

"Os trabalhadores da imprensa sofrem hoje com a falta de equipamentos básicos de proteção individual, como máscara antigás e capacete, que deveriam ser fornecidos pelas empresas", diz a nota.

O presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero, garante que "as empresas têm feito mais do que a legislação vigente determina" e coloca à disposição dos profissionais os equipamentos necessários à sua proteção.