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Futebol é perigoso?

Oliver Samson (rw/gh)7 de setembro de 2007

As mortes súbitas de jogadores não são indício de que o futebol seja mais perigoso do que outros esportes, como o golfe, diz médido esportivo alemão.

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Antonio Puerta: jogador do Sevilha morreu em 28 de agosto, três dias após desmaiar no gramado e ser socorrido pelo médico do clubeFoto: AP

As mortes súbitas de dois jogadores nas últimas semanas levam muitos a se perguntar se o futebol é um esporte perigoso. DW-WORLD.DE conversou sobre isso com Wilfried Kindermann, chefe da equipe médica da Copa do Mundo na Alemanha.

DW-WORLD.DE: Dois jogadores europeus tiveram morte súbita em agosto: o inglês Anton Reid, de 16 anos, e o espanhol Antonio Puerta, de 22 anos. O senhor vê nisso uma coincidência ou haveria um motivo especial para isso?

Wilfried Kindermann: Eu vejo isso, em primeira linha, como um acaso. Como o futebol é o esporte mais popular do mundo, quanto mais gente o pratica, mais pessoas estão sujeitas a morrer enquanto o praticam. Nos Estados Unidos, acontece o mesmo, mas entre praticantes de basquete e futebol americano. Se considerarmos o número de praticantes de uma determinada modalidade esportiva, teremos resultados bem diferentes: modalidades consideradas não perigosas, como bocha e golf, aparecem no topo da lista.

As vítimas eram jovens profissionais do futebol, monitorados por departamentos médicos. Em princípio, se pensa que eles estariam gozando de ótima saúde...

Pode haver pessoas saudáveis que não são examinadas direito. Quase sempre essas mortes súbitas estão relacionadas a alguma doença. No caso de jovens atletas de alto nível, quase sempre são problemas cardíacos congênitos, ou das coronárias ou uma miocardite.

Os médicos dos clubes podem ser acusados de não terem feito seu trabalho corretamente?

Em primeiro lugar, é preciso saber se os atletas chegaram a ser examinados. Uma miocardiopatia pode ser reconhecida facilmente através de uma sonografia. No futebol profissional alemão, temos um ótimo sistema: todos os jogadores da Primeira e da Segunda Divisão são obrigados a fazer um checkup cardíaco antes de começar a temporada.

Sabe-se que o doping também prejudica especialmente o coração. Pode-se excluir doping no caso dos jogadores falecidos?

O doping realmente pode levar a complicações cardíacas, inclusive a morte súbita. Mas o doping é muito difícil de ser comprovado em cadáveres. Na maioria dos casos, ele pode ser excluído, mas depois de uma morte ele não pode ser comprovado.

Houve cerca de 15 mortos no futebol de alto nível nos últimos dez anos. Quantos casos houve em nível mundial?

Esta pergunta é importante, pois – é preciso deixar bem claro – os números são muito baixos. Calcula-se que a relação seja de um caso fatal para cem mil praticantes de esporte a cada ano. Qualquer modalidade esportiva que exige esforço físico é um perigo quando o atleta não estiver bem de saúde. Se eu praticar esporte tendo uma doença cardíaca não diagnosticada, me exponho a um risco.

Então, antes de ir bater uma bola com meus amigos, hoje à noite, eu deveria me submeter a um exame médico …

Wilfried Kindermann, Chefarzt bei der Fußball WM 2006
Kindermann: 'Na Alemanha ocorrem 100 mil mortes súbitas por ano'Foto: AP

A partir de determinada idade, deve-se estar consciente de seu estado de saúde. Em regra geral, quem tem mais de 35 anos de idade deveria se submeter a um exame médico, se pratica esporte. Mas naturalmente é preciso dizer que o esporte é saudável. Quem pratica esporte regularmente tem menos risco de morrer do coração. Na Alemanha, ocorrem 100 mil mortes súbitas por ano – praticamente nenhuma tem a ver com o esporte.

Nos anos de 1960, o senhor também foi atleta de ponta. O senhor foi examinado na época?

Claro, que sim. Ainda me lembro exatamente disso. Eu corria os 400 m no atletismo e tinha de pedalar num cicloergômetro – e o médico responsável se admirava de meu desempenho relativamente fraco.

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Paul Wilfried Kindermann, nascido em 1940, ganhou medalha de ouro nos 4x400m do Campeonato Europeu de Atletismo de 1962 e chefiou a equipe médica da delegação alemã nos últimos sete Jogos Olímpicos. Foi também o chefe das equipes médicas da Copa das Confederações em 2005 e da Copa do Mundo de 2006.

Ele é membro da comissão médica da União Européia de Futebol Association (Uefa) e vice-presidente da Comissão de Medicina Esportiva da Federação Alemã de Futebol (DFB). Foi médico internista da seleção alemã de 1990-2000 e é diretor do Instituto de Medicina Esportiva e Preventiva da Universidade do Sarre.