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Muçulmanos contra violência e "assassinatos pela honra"

Ariana Miza (av)1 de fevereiro de 2006

Há um ano, uma jornalista turca lançou iniciativa contra costumes repressivos às mulheres. A iniciativa será ampliada. Qual seu efeito sobre a vida de dois jovens participantes?

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Cartaz da campanha

"Honra é lutar pela liberdade de minha irmã", afirma o slogan nos cartões-postais, com tiragem de 20 mil.

Em 2005, Güner Y. Balci iniciou em Berlim essa campanha contra os chamados "assassinatos pela honra". Entre os jovens fotografados pela jornalista de origem turca encontravam-se Sinan, de 17 anos, e seu amigo Saithan, um ano mais novo. Ambos consideravam importante lançar um sinal público contra a violência e a repressão.

Com a publicação do primeiro artigo sobre a iniciativa, no segundo trimestre de 2005, cresceu o interesse da mídia. Seis meses mais tarde, Sinan e Saithan foram escolhidos pelo jornal taz para o prêmio "Pantherpreis", por sua coragem civil. A imprensa alemã e européia celebrou os rapazes como heróis, eles receberam convites de diversos canais de TV.

A notoriedade os forçou a se confrontarem, pela primeira vez, com as reações ambivalentes de seu meio social.

Coragem secreta

As famílias ficaram sabendo por acaso de suas atividades, assistindo a um programa de televisão. Os jovens não os haviam informado de nada, partindo do princípio que "não iam mesmo ficar sabendo".

Saithan teve sorte: embora nada entusiásticos com sua presença na mídia, seus pais estavam de acordo com seu empenho político: "Minha mãe tem orgulho de mim", comenta.

Em contrapartida, a família de Sinan reagiu com desconfiança. Desde o princípio, seus pais acharam suspeita toda aquela atenção pública. Atualmente, o pai não quer mais que o jovem de 17 anos continue se manifestando nos meios de comunicação.

Mal-entendidos

Também entre seus coetâneos os dois vivenciam reações díspares. A campanha com os cartões-postais foi tema de aula, na realschule (escola secundária, prepara para escolas profissionalizantes) freqüentada por Saithan.

Seus colegas, 70% dos quais provenientes de famílias de imigrantes árabes e turcos, compartilham a rejeição de Saithan aos casamentos forçados e "assassinatos pela honra".

Enquanto isso, Sinan era insultado pelos colegas da hauptschule (também de nível secundário, oferece formação mais básica): "Porque eles entenderam tudo errado. Pensam que ele quis dizer que não liga para o que a sua irmã faz", explica Saithan.

Liberdade de rebelar-se

"Os assassinatos em nome da honra e casamentos forçados continuam sendo tabu em muitas famílias de imigrantes", esclarece Güner Balci, satisfeita pela ampla discussão despertada pelo projeto.

Ela considera importante o caráter de sinal que a coragem civil de Saithan e Sinan tem para seus colegas: "Muitas vezes os filhos de imigrantes são submetidos a pressões semelhantes às que sofrem as meninas. É importantíssimo esses jovens verem que é possível libertar-se de determinadas convenções injustas".

Equívoco histórico

Em 2006 a campanha continuará em nível nacional. Ela se baseia numa iniciativa semelhante de adolescentes muçulmanos da Suécia. No futuro os cartões também serão impressos em idioma árabe e turco, e distribuídos em "territórios masculinos", como cafés e clubes esportivos.

Planeja-se ainda imprimir cartazes com os mesmos motivos visuais. "É preciso estar claro que esses assassinatos nada têm a ver com dever religioso", sublinha Balci. Pois muitos muçulmanos ainda não tomaram consciência de que, no caso dos "assassinatos pela honra" e casamentos forçados, trata-se, na verdade, de tradições arcaicas, pré-islâmicas.