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Museus por um triz do desfalque

(arn / sm)18 de janeiro de 2005

A Alemanha Oriental queria se desfazer de arte para angariar divisas, comprar bananas e jeans americano. Valiosas peças de museu quase entraram na roda – por cerca de 55 milhões de "marcos-câmbio".

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Ilha dos Museus, onde se concentra grande parte do acervo artístico de Berlim, ficava no lado oriental da cidadeFoto: dpa


A cúpula de políticos da antiga Alemanha Oriental com certeza não teria se oposto, se os museus de Berlim tivessem se despojado de valiosas obras de arte e lançado seus tesouros no mercado internacional de arte. No mais recente anuário da Fundação de Patrimônio Cultural Prussiano (Stiftung Preußischer Kulturbesitz), o antigo diretor de museu Günter Schade relatou sobre um decreto de 1973 que permitiu oficialmente o "saque" dos depósitos de museus após a substituição de Walter Ullbricht por Erich Honecker na presidência do SED (Partido Unitário Socialista da Alemanha), partido do governo da antiga Alemanha Oriental. Trata-se dos "anais do fracasso de um negócio milionário".

"Arte por divisas"

Numa decisão "estritamente secreta", o conselho de ministros da República Democrática da Alemanha (RDA) liberou a venda de obras de arte de museus no valor de 55 milhões de marcos-câmbio, denominação da moeda convertível. Entre os tesouros a serem negociados no mercado de arte internacional estava, por exemplo, a chamada "Câmara de Aleppo", parte do acervo do Museu Islâmico. O ministro da Cultura na época ainda era Klaus Gysi, que foi destituído um ano depois e sucedido por Hans-Joachim Hoffmann.

A ação "Arte por Divisas", em função da qual foi fundada uma famigerada companhia de arte e antiguidade, causou "grande perplexidade" entre os diretores de museus, levando-os a fazer corajosa resistência. Sobretudo porque a lei da RDA não permitia operações desta espécie. Artistas de renome, como o pintor Willi Sitte ou Walter Womacka e o cineasta Konrad Wolf, irmão do chefe de espionagem Markus Wolf, foram mobilizados para prestar resistência.

A iniciativa de coordenação comercial do captador de divisas Alexander Schalk-Golodkowski, era de grande relevância. Segundo Schalk-Golodkowski declara em suas memórias, a idéia de vender as obras de arte partiu do principal mentor do SED, Kurt Hager. Em 1973, o Museu de Pré-História fez à Fundação de Patrimônio Cultural Prussiano, em Berlim Ocidental, uma oferta de vender peças de bronze provindas do Cáucaso, que também poderiam ter despertado o interesse soviético.

Alexander Schalck-Golodkowski
Alexander Schalck-Golodkowski, captador de divisas da Alemanha OrientalFoto: dpa

Controle rígido

A fim de evitar a evasão de patrimônio cultural alemão para o exterior, os diretores de museu de Berlim Oriental entraram em contato com a Fundação de Patrimônio Cultural Prussiano do lado ocidental da cidade (algo oficialmente proibido). O ministro do Interior da República Federal de Alemanha (RFA), Hans-Dietrich Genscher, que também era presidente da Fundação, foi informado desse "estado de alerta nacional". Na época, cogitou-se até de criar uma fundação nacional para salvar "o patrimônio cultural de toda a Alemanha".

Os planos dos ministros alemães orientais despertaram o interesse da União Soviética, que durante a década de 50 havia devolvido ao leste do país valiosas peças pertencentes aos acervos alemães. No entanto, a URSS não poderia servir de exemplo. O próprio Stalin não tinha hesitado em se despojar de jóias altamente valiosas da propriedade dos czares, além de pinturas e mobiliário do acervo de grandes museus, em troca de dólares e francos suíços.

A fim de não ameaçar sua reputação internacional e o acordo acertado pouco tempo antes com RFA, a Alemanha Oriental resolveu deixar a iniciativa "Arte por Divisas" de lado. "Assunto encerrado", comunicou laconicamente o Ministério da Cultura da RDA aos diretores dos museus de Berlim Oriental.