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Política x esporte

Victoria von Gottberg (rw)29 de abril de 2008

O assessor especial das Nações Unidas para o Esporte, Willi Lemke, é contra a politização do esporte e critica a sugestão de boicote aos Jogos Olímpicos.

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Willi Lemke, assessor especial para Esportes da ONU, a serviço da paz e do desenvolvimentoFoto: DW-TV

DW-WORLD.DE: As Nações Unidas vêem no conflito do Tibete uma ameaça aos Jogos Olímpicos?

Willi Lemke: As Nações Unidas querem que os Jogos Olímpicos na China sejam pacíficos e aconteçam em um clima de espírito olímpico. Queremos que os Jogos contribuam para aproximar os povos e que as metas do milênio sejam fomentadas através deste evento monumental. Por isso, naturalmente que estamos observando com atenção o que vai acontecer na China nas próximas semanas e meses.

Quais os objetivos das metas do milênio?

São oito metas de desenvolvimento a serem atingidas até 2015. Aí se incluem, entre outros, o combate à miséria no mundo. Trata-se também de educação para todos, igualdade de direitos, proteção do clima e do meio ambiente e, logicamente, de direitos humanos. A questão dos direitos humanos é um tema extremamente atual não só na China, mas em todo o mundo. Por causa dos Jogos Olímpicos, a China recebe no momento atenção especial. Também as Nações Unidas se interessam pelos progressos lá ocorridos nos últimos meses e anos. Os fatos dos últimos meses levantaram também novas questões.

Qual a posição das Nações Unidas em relação a um eventual boicote aos Jogos Olímpicos?

A posição é clara: não podemos favorecer um boicote – neste aspecto, partilhamos a posição do Comitê Olímpico Internacional (COI). Um boicote atingiria, em primeiro lugar, os atletas, o que para nós seria impensável. As Nações Unidas têm enorme interesse que esta seja uma grande festa para os esportistas. Mas o esporte sempre acontece em uma sociedade.

A Copa do Mundo na Alemanha, por exemplo, não foi um grande êxito apenas esportivo, mas também político. O futebol apresentou a Alemanha de maneira maravilhosa – e o mesmo acontece com a China. Todos conheciam a forma de governo da China quando o COI decidiu que os Jogos seriam na China. Ansiou-se por uma abertura do país – e em parte isto aconteceu.

Um boicote atingiria em primeira linha os atletas de todo o mundo, que se prepararam especialmente para isso nos últimos anos. Além disso, se analisarmos boicotes anteriores, veremos que eles nunca levaram a algo relevante. Com certeza não haverá maioria no COI ou na ONU para um boicote aos Jogos.

O que os atletas podem fazer contra as violações dos direitos humanos?

Infelizmente acontecem violações aos direitos humanos em muitos países do mundo. É errado passar o problema só para o Comitê Olímpico Internacional. Há grêmios políticos, organizações de defesa dos direitos humanos e as Nações Unidas para discutir esta questão.

Considero errado que, a poucas semanas dos Jogos, se exija que as organizações esportivas resolvam estes problemas políticos. Mas do ponto de vista do COI, os atletas – como cidadãos emancipados – logicamente têm o direito de se manifestar sobre assuntos políticos. Não queremos censurar os atletas.

Temas políticos, entretanto, não devem ser tematizados no âmbito das competições. Regras internacionais prevêem que os locais das provas fiquem livres de manifestações. Afinal, se quer que seja uma festa dos esportistas, não só no tocante ao esporte, mas também sob o signo da amizade entre os povos. Se 25 mil jornalistas e muitos atletas de todo o mundo se encontrarem em Pequim, haverá muitas possibilidades de comunicação.

O que o assessor especial para o Esporte pode fazer para tornar os Jogos Olímpicos um sucesso?

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, me passou três tarefas. Primeiro, devo agir como advogado do esporte como instrumento de incentivo ao desenvolvimento e à paz, e representar os interesses do esporte diante das Nações Unidas e, acima de tudo, do secretário-geral.

Em segundo lugar, devo representar. Se Bann Ki-moon não estiver em condições de participar de grandes eventos esportivos, eu o representarei, o acompanharei ou prestarei assessoria esportiva ou político-esportiva.

Terceiro: devo agir como mediador entre a mídia, o COI, as Nações Unidas e os organizadores. Os Jogos Olímpicos devem ser um sucesso para a China e para o mundo. Mas eles não devem ser um evento para os chineses, e sim para o mundo esportivo e o Comitê Olímpico Internacional. Queremos unir as pessoas e não separá-las.