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Nürburgring, de cara nova aos 75 anos

Marcio Weichert19 de junho de 2002

Reforma do autódromo cria trecho em que pilotos ficarão quase meio minuto à vista dos espectadores a cada volta. História do circuito e da Mercedes possui pontos em comum. Obra foi programa de combate ao desemprego.

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Alberto Ascari (foto) e Giuseppe Farina venceram, com uma Ferrari, a prova de mil quilômetros de Nürburgring, em 1953Foto: AP

Ao tirar do papel o circuito Nürburgring, seus idealizadores nem sequer tinham a intenção de torná-lo um dos autódromos mais famosos do mundo. As obras eram muito mais parte do programa de emergência de combate ao desemprego do governo alemão do que um projeto esportivo.

Os trabalhos começaram em 1925 e duraram dois anos. Entre 2500 e 3000 operários subiram neste período as colinas próximas das cidades de Nürburg e Adenau com pás e picaretas. Para financiar a construção, o governo aprovou verbas de 2,2 milhões de marcos-ouro. Ao ser finalizada, a obra consumira 15 milhões.

Com inclinações de até 17% e 170 curvas distribuídas por 28,5 quilômetros de extensão, a maioria nos 22,8 km da parte norte, o circuito foi inaugurado em 18 de junho de 1927 com uma corrida de motocicletas, assistida por 85 mil pessoas. Um dia depois, seria a vez dos carros.

Nürburgring e Mercedes, tudo a ver

– Na primeira prova automobilística, Rudolf Caracciola e sua Mercedes Typ S cruzaram a linha de chegada à frente dos concorrentes. O feito era o início de uma íntima relação entre Nürburgring e a montadora alemã. Às vésperas do Grande Prêmio da Europa, a Mercedes comemorou a data, nesta quarta-feira, permitindo que seus atuais pilotos na F-1, David Coulthard e Kimi Raikkonen, dessem uma volta pelo circuito com o carro original da primeira conquista no Eifel.

O Nürburgring marcaria novamente a história da Mercedes em 1934. Com seu carro um quilo acima dos 750 permitidos, o então diretor de automobilismo da montadora não titubeou. Alfred Neubauer ordenou que os mecânicos passassem a noite raspando toda a tinta branca do bólido. Sem pintura, o veículo disputou a corrida com a cor natural do alumínio da carroceria, dando início à tradição da aparência prateada das Mercedes, revivida atualmente na equipe McLaren, para a qual fornece seus motores.

A paixão dos alemães pelo automobilismo refletia-se no número crescente de espectadores no circuito serrano. Em 1938, no último Grande Prêmio da Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial, 200 mil espectadores acompanharam a vitória do inglês Richard Seaman, pilotando – claro! – uma Mercedes. O conflito armado mundial de 1939-1945 interrompeu as corridas.

Curvas perigosas demais

– Depois, coube novamente ao Estado reativar o autódromo. Para reconstruir as instalações destruídas na guerra, o governo estadual da Renânia-Palatinado investiu 270 mil marcos. A medida se fez recompensar. Em 1954, Nürburgring registrou um novo recorde de público: mais de 300 mil pagantes no Grande Prêmio da Alemanha, vencido pelo argentino Juan Manuel Fangio, também ao volante de uma Mercedes. Em homenagem ao único piloto pentacampeão mundial da F-1, foi descerrado nesta quarta-feira um monumento no autódromo.

Quando nos anos 60 os carros foram ficando cada vez mais rápidos, o sinuoso trecho norte tornou-se inseguro e alvo de muitas críticas. Sob iniciativa do piloto Jackie Stewart, que referia-se ao circuito como "inferno verde", a Fórmula-1 boicotou Nürburgring em 1970. A Alemanha reagiu com reformas no trajeto e o tradicional grande prêmio retornou ao calendário no ano seguinte.

O trágico acidente de 1º de agosto de 1976 viria a significar a condenação definitiva da F-1 à parte norte. Após chocar-se contra um barranco, a Ferrari de Niki Lauda incendiou-se e o piloto austríaco escapou com vida quase por milagre. Apesar das queimaduras que marcam seu corpo ainda hoje, Lauda retornou às pistas poucos meses depois, mas Nürburgring teria de esperar ainda muito tempo para recuperar a confiança da elite do automobilismo mundial.

De volta ao circo da F-1

– Com a construção de um circuito absolutamente novo, o autódromo alemão retornaria provisoriamente ao programa da Fórmula-1 oito anos depois, em 1984 e 1985. Com Hockenheim promovendo o Grande Prêmio da Alemanha, Nürburgring teria de esperar mais dez anos para recuperar de vez seu lugar, como sede do GP de Luxemburgo e posteriormente do GP da Europa. E logo na reestréia, festa alemã, com Michael Schumacher conquistando o topo do pódio.

Diretor da Nürburgring GmbH, a empresa que administra o autódromo, Walter Kafitz enfatiza o empenho alemão em melhorar cada vez mais as condições de segurança e conforto do autódromo, ou como ele diz, "na pole position entre os circuitos de todo o mundo". Nos últimos anos, foram investidos milhões de euros em novas arquibancadas, boxes, torre de largada, centro de imprensa e agora na Mercedes-Arena, uma espécie de estádio dentro do autódromo, que será inaugurada oficialmente pelo chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, no próximo domingo, antes do GP da Europa.

O estádio da F-1

– A Mercedes-Arena é um conjunto de arquibancadas com vista ampla, para bom pedaço do percurso, de modo que os espectadores poderão acompanhar os carros durante meio minuto a cada volta, em vez dos tradicionais poucos segundos. Com esta inovação, o circuito ganhou mais 588 metros de percurso, que assim soma agora 5,144 quilômetros, e mais 8 mil lugares para espectadores, com sua capacidade de público passando para 150 mil pessoas.

"A reforma alterou a característica da pista. Os pilotos talvez não gostem da nova passagem, pois quebra o ritmo. Mas eles podem explorar diferentes traçados, ou seja, o trecho é um grande desafio de pilotagem e o público ganha com isto", avalia Norbert Haug, diretor de automobilismo da Mercedes.

Bons negócios não só com a Fórmula-1

– O atual contrato garante à pista serrana corridas da F-1 até 2004. "Mas sua renovação é apenas uma questão formal", observa Kafitz, satisfeito com os negócios. Somente com o fim de semana da F-1, a empresa lucra 15 milhões de euros. Palco de aproximadamente 100 corridas de várias categorias de automobilismo e motociclismo a cada temporada, o autódromo fatura 100 milhões de euros por ano. Sua existência rende à região do Eifel, especialmente à rede hoteleira, igual quantia. Cerca de 3 mil empresas, com 15 mil empregados, se beneficiam da presença do circuito. Além dos eventos esportivos, Nürburgring abriga outros, como o festival de música Rock am Ring.

Uma pequena parcela do faturamento vem ainda de motoristas apaixonados por velocidade que pagam entre 12 e 14 euros por cada volta no antigo trecho norte. Com seus próprios carros e motos, eles satisfazem seu sonho de piloto no sinuoso percurso. A aventura nem sempre termina bem. "Em média, morre um piloto amador por ano", informa Kafitz, sem deixar de observar: "Ainda é muito menos do que os acidentes fatais que ocorrem nas estradas nos arredores do Nürburgring."