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Na reta final, partidos tentam capitalizar polêmicas na Alemanha

Carla Bleiker (msb)20 de setembro de 2013

Líder do Partido Verde acusado de defender a legalização da pedofilia, político dos social-democratas criticado por acumular salários ilegalmente: especialistas lembram que ataques finais podem, sim, mudar o jogo.

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Os políticos Jürgen Trittin e Katrin Goering-Eckardt: verdes no centro de polêmica na reta finalFoto: picture-alliance/dpa

Na reta final da campanha eleitoral na Alemanha, o Partido Verde vem sendo confrontado com um capítulo sombrio do início de sua história: sua relação com o tema pedofilia. Em maio passado foi revelado que, nos anos 1980, vários diretórios regionais da legenda colocaram-se a favor da legalização das relações sexuais não violentas, sob certas condições, entre adultos e crianças.

Naquele mês, com o tema ganhando espaço na imprensa, os verdes decidiram contratar o cientista político Franz Walter para avaliar a situação e descobrir qual era o papel dos ativistas da pedofilia nos primeiros anos do partido. As explosivas descobertas foram recentemente divulgadas por Walter no jornal Tageszeitung, famoso por seu posicionamento à esquerda.

Verdes na mira

Um dos principais envolvidos na história é Jürgen Trittin, um dos dois políticos de frente do partido nestas eleições. Em 1981, Trittin era o responsável legal pelo programa eleitoral da Lista Alternativa da Iniciativa Verde (Agil, sigla em alemão) na cidade de Göttingen. O programa previa que os parágrafos 174 e 176 do Código Penal fossem relativizados: atos sexuais com crianças só deveriam ser punidos, segundo o documento, se fossem cometidos com "uso ou ameaça de violência" ou sob "abuso de uma relação de dependência".

Jürgen Trittin Die Grünen 1988
O político Jürgen Trittin em 1988Foto: picture-alliance/dpa

Apesar de essas colocações terem sido feitas há mais de 30 anos, elas ainda têm impacto sobre os eleitores, como afirma o pesquisador Marcel Solar, do Instituto de Ciência Política e Sociologia da Universidade de Bonn. "Há sempre uma parte da população para quem tais coisas nunca envelhecem", diz.

Com a Alemanha em forte clima eleitoral, os governistas aproveitaram o momento para atacar os verdes. A ministra da Família, Kristina Schröder, criticou o fato de Trittin precisar da mediação de um especialista para "trazer à tona as lembranças pessoais dele sobre pedofilia entre os verdes e divulgá-las".

Mais radical, Alexander Dobrindt, secretário-geral da União Social Cristã (CSU), parceira bávara da União Democrata Cristã (CDU, partido de Angela Merkel), pediu com todas as letras que Trittin renuncie à candidatura ao governo alemão.

"Trittin era parte do cartel da pedofilia dentro do Partido Verde, portanto intragável como homem de frente da legenda", afirmou o governista.

Conquistando indecisos

O debate sobre pedofilia vem ocorrendo há meses, mas nestes últimos metros da corrida eleitoral a discussão inflamou. "Algumas declarações ouvidas recentemente por parte dos governistas soam como se o próprio Trittin tivesse abusado de menores, o que obviamente não é o caso", opina Lothar Probst, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Bremen. A briga agora, afirma, é para conquistar o voto dos indecisos. "Por isso faz todo o sentido continuar buscando pontos vulneráveis no adversário e se colocar em vantagem sobre eles."

Para se ter um exemplo do sucesso de uma campanha negativa não é preciso ir muito longe no tempo – basta dar uma olhada das eleições de 2005, lembra Solar. Na época, o Partido Social-Democrata (SPD) aparecia bem distante da CDU nas pesquisas de opinião. Mas o então chanceler federal, Gerhard Schröder, começou a mirar no especialista em economia da CDU, Paul Kirchhof, contratado pelos democrata-cristãos para mostrar a competência do partido em política tributária.

"Gerhard Schröder pôde virar a situação em um debate na televisão, no qual ele apresentou Kirchoff como um professor lunático", lembra Solar. Schröder chamou o programa tributário do especialista da CDU de injusto e antissocial. "Com isso ele conseguiu uma virada por completo na eleição. A diferença entre os dois grandes partidos ficou bem pequena de novo", ressalta. No fim, essa tática do SPD rendeu os pontos necessários para que o partido conseguisse negociar uma grande coalizão.

Ataques ao SPD

Um político do SPD que nestas eleições esteve sob intensas críticas é o secretário de Finanças do estado da Turíngia, Matthias Machnig. Segundo a revista alemã Der Spiegel, entre 2009 e 2012 Machnig acumulou o salário de secretário com pagamentos extras e aposentadoria de seu cargo anterior, de vice no Ministério do Meio Ambiente.

Matthias Machnig
Machnig acumulou salários de maneira irregularFoto: picture-alliance/dpa

A história é especialmente incômod para o SPD porque Machning é o especialista em Meio Ambiente da equipe do candidato social-democrata, Peer Steinbrück. O pagamento extra recebido por Machning, segundo a revista, ficou em torno dos 100 mil euros. Agora, ele precisa engolir as duras críticas – que obviamente foram jogadas no ventilador pelos partidos adversários.

"Há hoje uma enxurrada de esclarecimentos à imprensa como nunca", observa Volkhard Paczulla, editor de política do jornal Ostthüringer Zeitung. "Vejo nos comentários da nossa página na internet que há grande interesse sobre o tema. Muitos de nossos leitores reafirmaram sua 'frustração política'."