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Nobel da Paz para Opaq pode impulsionar combate a armas químicas

Nils Naumann (av)12 de outubro de 2013

Em entrevista à Deutsche Welle, perito em desarmamento e não proliferação Ralf Trapp comenta a premiação da organização para proibição de armas químicas com o Nobel da Paz.

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Foto: Reuters/Mohammad Abdullah

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), com sede em Haia, Holanda, é responsável desde 1997 pela aplicação da Convenção sobre Armas Químicas. Desde o início de outubro, seus inspetores preparam a destruição do arsenal da Síria, segundo o acordo entre Washington e Moscou que estabelece a eliminação de todas as armas químicas do país até meados de 2014.

Nesta sexta-feira (11/10), a organização foi escolhida para o Prêmio Nobel da Paz. A DW entrevistou Ralf Trapp, especialista nos aspectos técnico, legal e políticos do desarmamento e não proliferação de armas químicas e biológicas, e ex-funcionário da Opaq.

DW: Até 2006 o senhor trabalhou para a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), e ajudou a construí-la. Agora, a Opaq recebeu o Prêmio Nobel da Paz. O senhor se sente um pouco orgulhoso?

Ralf Trapp: Sem dúvida, a gente fica orgulhoso, sim; dá uma alegria enorme. É um reconhecimento fantástico do trabalho. A Opaq prestou uma contribuição bastante importante para o desarmamento global e a eliminação de toda uma categoria de armas de extermínio em massa. É certo que o processo ainda não se concluiu, mas nos últimos anos se fez uma série de coisas importantes. Nesse sentido, o prêmio é justo, sim. Mas ele também representa uma mudança para o futuro.

O que quer dizer com "mudança para o futuro", concretamente?

Nós eliminamos 80% das armas químicas declaradas da Guerra Fria, mais ainda faltam 20%. Além disso, vários Estados ainda não assinaram a Convenção sobre Armas Químicas. Alguns deles possivelmente possuem substâncias químicas para uso em combate.

Ralf Trapp
Ralf TrappFoto: picture-alliance/dpa

Com a adesão da Síria à Convenção, temos mais um Estado com potencial químico que está comprometido a destruir seu arsenal. Nesse sentido, o processo ainda não está encerrado.

Pode ser que o Nobel contribua para impulsionar o combate às armas químicas?

Eu parto do princípio que vamos ganhar um impulso, tanto do ponto de vista moral como político. Isso vai ajudar a Opaq a cumprir as tarefas na Síria. Espero que outros Estados assinem o acordo, registrem suas armas químicas e as destruam – Israel, Egito ou Coreia do Norte, por exemplo.

A Síria é a principal área de ação dos inspetores. É a primeira vez que a Opaq atua numa região em guerra. O senhor acredita que os inspetores poderão trabalhar em condições ideais?

Vai ser muito difícil. O começo correu bem, as primeiras inspeções foram realizadas. Os inspetores começaram a verificar as informações dos sírios e a cuidar para que as unidades sejam desativadas. Agora, cabe manter esse impulso e organizar o apoio para esse processo na Síria. Vai depender, é claro, da disposição de colaborar do governo sírio e da oposição. Nesse contexto, o Prêmio Nobel da Paz talvez seja bem útil. Ele pode ajudar a concentrar o apoio político necessário e a exercer pressão sobre todas as partes.

Suponhamos que o governo sírio ou a oposição não cooperem. Que poder têm os inspetores para se impor?

Os inspetores podem fazer aquilo para que foram treinados: inspecionar. Isso só é possível, é claro, se o outro lado cooperar. Se aparecerem dificuldades, então é necessário exercer pressão de fora sobre a Síria. Para tal, vai se precisar dos russos, vai se precisar dos iranianos, vai se precisar de outros Estados da região. E, naturalmente, é necessário unidade no Conselho de Segurança da ONU, para que [as medidas] sejam impostas da forma adequada. Não se pode simplesmente deixar isso a cargo dos inspetores, eles não estão aptos a tal.