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Novo presidente grego é liberal e crítico da troica

Jannis Papadimitriou (md)19 de fevereiro de 2015

Escolha de Prokopis Pavlopoulos surpreendeu, num país governado pela esquerda, mas onde opção por nome da oposição para cargo é tradição. Jurista é conhecido pelas críticas à política de austeridade.

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Foto: Reuters/Alkis Konstantinidis

É uma surpresa que a escolha tenha recaído sobre Prokopis Pavlopoulos. Até recentemente, outro peso pesado dos conservadores era tido como claro favorito: o comissário europeu de Imigração e Assuntos Internos, Dimitris Avramopoulos.

Mas, aparentemente, a aceitação do político liberal, ex-ministro da Defesa e vice-presidente do partido de oposição Nova Democracia seria difícil demais de ser aceito pelo eleitorado mais à esquerda. A nomeação de Pavlopoulos causou um pequeno choque, segundo o jornal Ta Nea, de Atenas.

"Desde a eleição presidencial em 1995, existe a tradição democrática segundo a qual o partido que está no poder indica um político da oposição como candidato para o cargo mais alto do Estado. É gratificante que também o primeiro-ministro Alexis Tsipras dê continuidade a essa tradição", opina o analista político Yannis Pretenderis, no canal de TV Mega.

Pavlopoulos é tido como alguém próximo ao ex-primeiro-ministro Kostas Karamanlis, do qual foi ministro do Interior entre 2004 e 2009. A parceria entre os dois sempre foi tão estreita, que o agora presidente sempre sustentou que sairia da política se Karamanlis renunciasse.

Zusammenstöße zwischen Polizei und Demonstranten in Athen bei Gedenken an Alexis Gigoropoulos
Protesto por morte de militante adolescente: Pavlopoulos era ministro na época do incidenteFoto: Reuters/Alkis Konstantinidis

Mas ele não cumpriu o que disse, pois, embora seu mentor político tenha perdido a eleição em 2009, atuando desde então somente nos bastidores, Pavlopoulos permaneceu até janeiro de 2015 no Parlamento em Atenas.

Doutor em direito na França, Pavlopoulos era ministro do Interior quando a Grécia foi tomada por uma onda de violência no final de 2008, após o manifestante de 15 anos ter sido morto por um tiro da polícia em Atenas. Pavlopoulos foi acusado, então, de não ter agido contra os manifestantes com energia suficiente. Ele afirma que pretendia seguir uma tática que visasse evitar confrontos e mortes e que teria dado certo.

"Senso democrático"

Tsipras afirma que Pavlopoulos tem "senso democrático" e goza de um "amplo respeito na sociedade e no Parlamento". Este respeito foi comprado a preço alto, considerando que, aparentemente, o político conservador esteve significativamente envolvido no inchaço do aparelho de Estado grego.

Segundo reportagem do jornalTa Nea, em julho de 2013 Pavlopoulos foi responsável, quando era ministro, por um total de 865.132 novas contratações no serviço público. Em geral, baseadas em contratos por tempo limitado, que foram prolongados sucessivamente e causaram ao Estado uma enxurrada de ações trabalhistas pedindo reconhecimento de vínculo empregatício.

"Os custos das contratações de então pesam até hoje nas negociações entre a Grécia e a troica, formada por UE, FMI e BCE", relata o canal de TV de Atenas Skai.

Resta esperar para ver se Pavlopoulos realmente é o melhor símbolo do combate repetidamente anunciado por Tsipras contra a velha política do clientelismo político-partidário.

Griechenland Kostas Karamanlis
Ex-premiê conservador Kostas Karamanlis é amigo próximo do novo presidenteFoto: AP

Afinal, o professor de direito administrativo tentou em 2005 dar um fim nas conexões, que considerou próximas demais, entre grandes empresas e meios de comunicação gregos. Mais uma vez, ele provou que, nesse ponto, também não tem boa mão, pois o projeto de lei que levou ao Parlamento, limitando o número de ações de empresas de comunicação que empresários podem possuir, foi abruptamente declarado pela Comissão Europeia como incompatível com o direito europeu. Até recentemente, o jurista defendia seu ponto de vista de que o direito constitucional grego prevalece sobre o direito da UE.

O fato de o novo presidente repetidamente ter se distanciado no passado das medidas de austeridade do atual pacote de resgate da Grécia deve agradar à esquerda. No fim de 2014, ele criticou a troica de credores, por supostamente ter intervindo sobre o então primeiro-ministro conservador Antonis Samaras para cancelar uma lei controversa sobre o alívio da dívida para os credores privados. Além disso, Pavlopoulos afirmou que o imposto imobiliário, então recém-introduzido, era inconstitucional.

Samaras não guarda ressentimentos. Imediatamente após a nomeação de seu colega de partido para o mais alto cargo estatal, garantiu que os deputados conservadores dariam "naturalmente" seus votos a Pavlopoulos.