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Novos ares do Leste

(ca)2 de novembro de 2005

Com a indicação do governador de Brandemburgo, Mathias Platzeck, para a presidência do SPD, os social-democratas procuram resolver três problemas: o de renovação, o de posicionamento e o conciliatório.

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Platzeck: solução conciliatóriaFoto: AP

Há pouco mais de 15 anos, quando caiu o Muro de Berlim, o filósofo Jean Baudrillard, que estava fazendo conferências no Brasil, afirmava que já estava claro, para ele, como a ex-Alemanha Ocidental iria influenciar a ex-Alemanha Oriental, mas o que lhe interessava era como a ex-Alemanha Oriental iria influenciar o novo país a se reunificar.

Quinze anos após a reunificação, as palavras do sábio francês começam a tomar forma, e a política da Alemanha está agora nas mãos de dois cidadãos da antiga Alemanha do Leste – Angela Merkel, a futura chanceler federal, e Mathias Platzeck, governador do Estado de Brandemburgo, que foi escolhido na noite de terça-feira (01/11) para ser indicado para a presidência social-democrata.

Com a derrota do seu candidato ao cargo de secretário-geral do SPD, o atual presidente, Franz Müntefering, havia anunciado na segunda-feira sua desistência de concorrer de novo à presidência do partido. As dúvidas da sucessão recaíam entre os governadores Kurt Beck, da Renânia Palatinado, e Mathias Platzeck, de Brandemburgo.

Com o apoio do próprio Kurt Beck, Mathias Platzeck deverá ser indicado para a presidência partidária durante a convenção do SPD em duas semanas em Karlsruhe.

De verde a social-democrata

Matthias Platzeck, neuer Parteivorsitzender der SPD
Mathias Platzeck, indicado para a presidência do SPDFoto: AP

Mathias Platzeck nasceu em 1953 em Postdam, capital do seu Estado. Filho de médico e pai de três filhas, o atual governador formou-se em Biomedicina e iniciou sua carreira política junto aos verdes da ex-Alemanha Oriental, a Aliança 90, sendo então escolhido secretário do Meio Ambiente de Brandemburgo em 1990.

Em 1995, transferiu-se para o SPD e conseguiu fama nacional devido ao seu papel no combate às enchentes do Rio Oder em 1997. Um ano depois, foi eleito prefeito de Potsdam e, em 2002, governador de Brandemburgo.

Mathias Platzeck, 51, é considerado o político mais querido da Alemanha do Leste e, na opinião de vários políticos social-democratas, ele é a pessoa certa para guiar seu partido dentro da nova coalizão. Sua reeleição em 2004 para governador de Brandemburgo representou um dos poucos sucessos de um SPD em crise.

Platzeck defende a idéia de centro-esquerda para seu partido, mas não pertence a nenhuma corrente dentro do SPD. Enquanto apoiou veementemente as reformas de Schröder no mercado de trabalho, defendeu ao mesmo tempo o fortalecimento dos sindicatos.

Abençoado por todos

A escolha de Mathias Platzeck resolve vários problemas pelos quais passa agora o Partido Social Democrata. Com uma orientação mais à esquerda, o SPD poderá posicionar-se melhor em uma coalizão com os conservadores democrata-cristãos e social-cristãos.

Além disso, Platzeck representa também o elo entre as tendências de esquerda e de centro dentro do próprio SPD, como demonstram as declarações de Johannes Kahrs, porta-voz do grupo denominado Seeheimer, a ala conservadora do SPD: "Com Platzeck, o SPD deu um passo importante e correto para o futuro".

O próprio Franz Müntefering e Wolfgang Thierse, importantes políticos do SPD, acolheram bem a nomeação de Platzeck. Em entrevista à cadeia de televisão ARD, o ex-presidente do Parlamento alemão Wolfgang Thierse afirma que "a escolha de Platzeck é um sinal de renovação no SPD".

Elogios também vêem do partido de coalizão, da CDU. Jörg Schönbohm, secretário do Interior e presidente da CDU em Brandemburgo, onde já há uma coalizão entre SPD e CDU, afirma em entrevista à radio RBB, nesta quarta-feira (02/11): "Com Platzeck, não se deve temer uma arrancada para a esquerda, ele é um político pragmático que quer fazer algo pelo povo. No governo do nosso Estado, existe uma cooperação amigável e de confianca."

Um pouco de clareza não faz mal

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Merkel e Platzeck: parceria para construirFoto: dpa

O fato de Platzeck vir do Leste e representar uma tendência mais à esquerda do SPD terá certamente influência no eleitorado da antiga Alemanha Oriental, trazendo ao SPD votos que agora pertencem ao Partido de Esquerda. O temido esfacelamento dos social-democratas em uma cooperação com a CDU/CSU também é contornado, já que o partido assume uma tendência mais firme dentro de uma grande coalizão.

Entretanto, muito ainda está incerto na política alemã. Muitos consideram incerta até a realização definitiva de um governo de coalizão, o que se torna mais possível com a presença apaziguadora de Platzeck.