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O êxodo do empresariado alemão

(sv)10 de abril de 2004

Enquanto as taxas de desemprego mantêm-se altas dentro do país, o empresariado alemão transfere suas atividades para o Leste Europeu e a Ásia. Altos impostos e um mercado extremamente regulamentado levam à fuga em massa.

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Funcionária da Siemens na Alemanha: fim de uma era?Foto: AP

O semanário Die Zeit estampa o que parece ser uma boa notícia: “O empresariado alemão vai contratar mais mão-de-obra – engenheiros, programadores de software, contadores. Só que não na Alemanha, mas em Györ (Hungria), Bratislava (Eslováquia) e Bangalore (Índia).”

Vírus que se espalha

Após o escândalo desencadeado pela Siemens, quando esta anunciou que pretende transferir centros de produção para outros países (10 mil empregos), o vírus acabou se espalhando pela Alemanha. Ou melhor, o vírus da fuga, já em plena disseminação, foi descoberto pela mídia, que abriu a boca e começou a denunciar a questão.

Afinal, a possibilidade de produzir a baixos custos está localizada à porta de casa, nos vizinhos Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria, que a partir de 1º de maio passam inclusive a integrar a União Européia. Neles nem é preciso arriscar reviravoltas econômicas súbitas – como em países do chamado Terceiro Mundo – nem enfrentar diferenças culturais muito acirradas. Vizinhos conhece-se bem.

Antiglobalização, em defesa do próprio interesse

O problema é que, se antes este fenômeno atingia apenas um leque de trabalhadores pouco qualificados – que acabavam desempregados, quando as fábricas se transferiam para outras paragens –, hoje são cidadãos da classe média, com diploma universitário na mão, que ficam a ver navios.

Enquanto os políticos acusam o empresariado de “falta de patriotismo”, a própria classe média do país, segundo o Die Zeit, vendo-se prejudicada, resolve abraçar a causa de organizações antiglobalização. Só que por outros motivos: “A perspectiva é outra. Não se trata de ir contra a exploração de países em desenvolvimento, mas de combater o sangramento dos ricos países industrializados”, sentencia o jornal.

Segundo estatísticas, o empresariado alemão investe anualmente quatro bilhões de dólares em países da Europa Meridional e do Leste Europeu. O número de empregos que deixam de ser gerados em conseqüência de tal evasão não é muito alto, segundo os especialistas, situando-se em torno de 35 mil ao ano.

"Filhos pródigos"

Uma pesquisa do Instituto Fraunhofer para Inovações Tecnológicas, citada pelo Die Zeit, apontou uma tendência até mesmo inversa: a de que exatamente as empresas alemãs que transferiram sua produção para o exterior acabaram criando mais empregos também em casa. Empregos que elas podem dar-se ao luxo de gerar, porque economizaram nos custos lá fora.

Aos que ficam, resta, apesar dos ventos que sopram em outra direção, descobrir mecanismos capazes de frear os processos extremamente rápidos de globalização, tentando onerar menos as empresas dentro do país e procurando expandir o setor interno de salários baixos.

Se os trabalhadores poucos qualificados de ontem não conseguiram frear a voracidade de um capitalismo anterior, talvez os lobbies dos acadêmicos espremidos contra a parede consigam fazer alguma coisa para manter seus empregos dentro do país.